sábado, dezembro 02, 2006

Preguiça

Hoje eu acordei com preguiça. Por sorte, é sábado e não preciso trabalhar. Assim, fiquei deitado e acabei pensando sobre a preguiça.

Por que será que a preguiça é uma coisa tão mal vista, por que a gente não pode se dar o direito de estar com preguiça e admitir isso sem que fique com aquela sensação de culpa, ou sem que os outros olhem para a gente como se fossemos uns inúteis?

Afinal de contas, tem bicho mais preguiçoso que gato? E todo mundo acha gato legal, bonitinho. Então, por que a gente não pode dar uma pausa de vez em quando, se espreguiçar que nem o gato e não fazer absolutamente nada?

Vejamos por exemplo a idéia de lazer. Chega o fim de semana e temos a nossa “hora de lazer”. Significa ir à praia (engarrafamento, procura por um lugar para estacionar, barraca, criança...), ir comer fora (outra vez engarrafamento, vaga, flanelinha, fila de espera...), ir ao cinema (não vou repetir), ou ir para algum lugar dançar até de madrugada, chegando em casa exaustos de tanto “lazer”.

Na segunda-feira, ao chegar no trabalho, tem sempre alguém que pergunta como foi o fim de semana. Se você disser que ficou em casa dormindo, vai ser olhado como um perdedor, ou um doente. Não, você tem que relatar atividades de deixar maratonista cansado (à propósito, correr maratona na “hora de lazer” pega bem).

E as férias? Férias boas são aquelas em que a gente viaja, de preferência passando por vários lugares, nem que seja naquele esquema de excursão em que tem horário para acordar, horário para comer, horário para ir ao banheiro, itinerário pré-definido, comandado por um sargento alemão disfarçado de guia de turismo. Férias sem fazer nada são consideradas tempo perdido.

Mas, nem sempre foi assim. Até há pouco tempo, era costume “tirar a sesta”, aquela parada no meio do dia, para almoçar e tirar um cochilo reparador. O próprio ritmo da vida era mais lento, refletindo a maior lentidão dos transportes e das comunicações. Era o tempo em que se levava horas escrevendo uma carta à mão, que era enviada pelo correio, que por sua vez a transportava por terra ou navio. Hoje em dia, a garotada acha e-mail lento! O negócio é comunicação instantânea via torpedo no celular. Me surpreendo que ainda não tenhamos o “transporte” do Jornada nas Estrelas...

Não sou contra o progresso, até porque o progresso trouxe os computadores e eu dependo deles para ganhar a vida e poder ter minhas horas de lazer. Mas, acho que está faltando um equilíbrio entre as obrigações e as horas de não fazer nada. Afinal de contas, se estamos sempre ocupados fazendo algo, seja trabalhando ou tendo lazer, quando é que paramos para pensar, para avaliar as nossas sensações, nossas idéias?

Uma vez eu li em algum lugar que um grupo de executivos americanos se reuniu com um empresário japonês para discutir uma proposta de negócio. Os americanos falavam, apresentavam slides e gesticulavam. O japonês olhava tudo calado e, depois de um tempo, fechou os olhos e ficou com uma expressão serena, relaxada. Os americanos consideraram aquilo um desaforo, falta de profissionalismo, pois acharam que o japonês havia dormido durante a reunião. Mas, estavam totalmente errados. O japonês havia fechado os olhos para se concentrar, evitando as distrações provocadas pela visão e fazer aquilo que poucas pessoas fazem: refletir antes de falar, antes de tomar uma decisão.

Assim, da próxima vez que você tiver um tempo livre, experimente não fazer nada. Experimente curtir a sua preguiça e observe os resultados. Pode ser que isso requeira um pouco de prática, afinal de contas, não se freia um trem em alta velocidade de repente.

Eu, por minha vez, ainda estou com preguiça e vou parar de escrever este artigo, para poder me dedicar à arte de não fazer nada.

sábado, outubro 28, 2006

O Crepúsculo da Democracia

Eleições no Brasil, eleições nos EUA. O que deveria ser motivo de alegria, afinal de contas a idéia é que cada cidadão democraticamente escolha aqueles que irão representar os interesses da população, tornou-se motivo de total descrença.

Descrença no processo, descrença nos candidatos, descrença nas promessas e, por tabela, descrença na capacidade dos eleitores de fazer uma escolha madura e consciente.

O processo, tanto nos EUA como no Brasil, foi aos poucos sendo deturpado. Apesar da história oficialmente registrar a criação do processo eleitoral como tendo acontecido na Grécia, imagino que ele surgiu (ou poderia ter surgido) de forma espontânea em uma pequena vila em que a comunidade local escolheu naturalmente o seu líder, provavelmente aquele que tinha mais experiência e capacidade de unir todos em torno de um objetivo: o bem comum.

Ao longo dos anos o processo foi sendo modificado e aperfeiçoado. Regras foram estabelecidas, processos foram criados, entidades de fiscalização se tornaram necessárias para garantir que tudo funcionasse de acordo com a idéia primordial de selecionar aqueles que seriam os porta-vozes das necessidades e anseios dos demais.

Só que em algum momento da história houve um desvio de objetivos, uma ruptura de processo, porque o que vemos hoje é algo que se assemelha muito mais a um misto de venda com difamação. Os candidatos usam “marketeiros” para se promoverem, criando jingles, slogans e bordões, como se fossem um produto como pasta de dentes, sabão em pó ou refrigerante. Ao mesmo tempo, as campanhas mostram mais os defeitos dos concorrentes do que as qualidades do candidato, numa guerra em que quanto pior, melhor.

Os candidatos, por sua vez, deixaram de representar o povo para defender seus próprios interesses, ou daqueles que os financiam. O que vemos então são pessoas totalmente despreparadas para assumir o poder e a delegação que receberam, se colocando acima daqueles que os elegeram, passando a fazer parte de uma elite que vive num mundo de fantasia, totalmente alheios à realidade que os cerca. São os parasitas que sugam as energias da nação, os bêbados inebriados pelo poder, os cafetões do povo.

As promessas, que deveriam claramente mostrar a linha de pensamento, as idéias e as prioridades de cada candidato, se tornaram moeda falsa. Os candidatos fingem que vão cumprir e o povo finge (ou será que nem sequer finge mais?) que acredita. Assim, as promessas oscilam entre propostas vazias de conteúdo e propostas mirabolantes, impossíveis de serem cumpridas. O jogo passa a ser falar para o eleitor aquilo que ele quer ouvir, numa show de demagogia e populismo que emburrece a todos.

O eleitor, despreparado, manipulado, confuso, ou vira massa de manobra na mão de políticos inescrupulosos, ou se torna um alienado, desistindo de influir no processo, como se dele não fizesse parte ou tivesse interesse. São extremos de uma mesma realidade: os que idolatram os candidatos e os que os ignoram.

O resultado disso tudo são campanhas milionárias, sujas e eleitos medíocres que se tornam parte de uma burocracia cada vez mais ineficiente e cara, sustentada pelo imposto pago por cada um de nós.

Talvez seja a hora de se repensar o processo político como um todo. Estamos passando por modificações profundas nas sociedades, na cultura, nos hábitos. O processo eleitoral, como é hoje, independente do país, não parece mais atender a esta nova realidade.

O problema é que modificações profundas exigem vontade e líderes, e a falta de ambos é justamente a causa de chegarmos a esta situação. É um triste e irônico ciclo vicioso.

domingo, outubro 08, 2006

O Meu é Maior que o Seu

Os deuses do marketing devem estar loucos. Ou, pelo menos, atacados de megalomania. Sim, porque foi dada a largada para a grande competição de tamanho, e não é sobre aquilo que você está pensando que estou me referindo...

A minha primeira máquina digital tinha espantosos 2 Mega Pixels, que eram suficientes para imprimir fotos em tamanho normal sem perda de qualidade. Apesar da maioria das pessoas sequer ter noção do que é o tal do Mega Pixel, hoje todo mundo quer mais e mais Mega Pixels. Até o momento em que escrevo este artigo, as máquinas no mercado vão de 5 a 10 Mega Pixels, permitindo que você imprima um pôster da sua sogra do tamanho da parede da sua sala.

E as TVs? As telas estão ficando tão grandes que vai chegar a um ponto que ao invés de comprarmos uma TV nova para a casa, teremos que comprar uma casa nova para a TV. É o multiplex doméstico.

Mas, não é só isso. Costumávamos comprar telefone sem fio, escolhendo a marca, cor e preço. Agora não. Agora temos que fazer cara de entendidos e perguntar para o vendedor se o aparelho é de 900 MHz, 2.4 GHz (1 Giga = 1000 Mega), ou 5.8 GHz, apesar de não termos a mínima idéia do que estamos falando (e nem ele).

Outro dia minha filha falou que queria um iPod. Quando eu disse que ia comprar um de 2 Gb achando que eu estava agradando, ela disse que tinha 5 Gb de músicas e que queria colocar todas no iPod. Pelos meus cálculos, se ela ouvisse música sem parar durante 12 horas por dia, ia levar cerca de uma semana para ela ouvir todas as músicas do iPod sem precisar renovar o estoque.

Eu sempre achei que celular fosse para ligar para alguém, ou para receber ligações. Não. Os gênios do marketing determinaram que um celular, para ser bom, tem que tocar mp3, tirar foto, enviar torpedo, servir de agenda, calendário, passar filme e até mesmo ser usado como cartão de crédito. Enquanto isso, o celular de 1001 utilidades tem dificuldade em fazer ligações telefônicas de qualidade, além de termos que lidar com teclas mínimas que servem para um monte de coisas ao mesmo tempo, e com menus que desafiam a nossa inteligência e paciência.

Por falar em mp3, agora todo aparelho que se preza tem que tocar mp3. Como se não tivéssemos mais nada para fazer na vida a não ser ouvir mp3. Recentemente lançaram uma escova de dentes que toca mp3 enquanto você escova os dentes. Espero que tão importante desenvolvimento para a civilização não chegue ao papel higiênico.

Outro dia estava numa loja de eletrônicos e vi um vendedor todo empolgado explicando para uma vovozinha as maravilhas do computador que ele estava tentando vender: “este computador tem uma CPU de núcleo duplo, com 4 GHz, 1 Gb de memória RAM DDR2 a 667 MHz, 4 Mb de cache L2, 300 Gb de disco serial ATA...” e por aí vai. A pobre da velhinha olhava com cara de assustada e, com jeito acanhado, perguntou se o computador serviria para mandar mensagem para os netos dela.

Em que ponto será que passamos a medir a qualidade e a adequação de algo apenas pelo seu tamanho? Será que precisamos de aparelhos que façam tudo ao mesmo tempo, ainda que mal feito, ou seria melhor termos aparelhos que fizessem o que se propõem com qualidade e simplicidade?

Se você é daqueles que tem dificuldade em fazer o relógio do vídeo cassete parar de piscar depois de ter faltado luz, aqui vai uma dica: evite produtos cujo manual seja maior do que o próprio produto. Pense duas vezes antes de comprar aquele celular do tamanho de um cartão de crédito, que vem com um manual de 457 páginas impressas em letras miúdas. Não vai dar certo...

quinta-feira, setembro 07, 2006

As 4 Estações da Vida

Está chegando o outono aqui, que muitos consideram a estação mais bonita do ano. As árvores, como que antecipando a eminente perda das folhas, resolvem dar um último show, encantando a platéia com tonalidades impossíveis de descrever, numa aquarela de cores infinitas. O sol, diretor de iluminação do show, se contém em deferência ao personagem principal, limitando-se a realçar a beleza da vegetação que se despede.

Esta mudança de estação me faz refletir sobre as mudanças que passamos ao longo da vida, me levando a uma analogia que provavelmente outros já fizeram com mais brilho. Mas, se eu fosse evitar escrever sobre aquilo que outros já escreveram, este blog ficaria em branco...

Durante a infância, somos pequenos e frágeis. Precisamos de calor e de bastante alimento para crescermos fortes e saudáveis. Rapidamente nos desenvolvemos, adquirindo características que nos acompanharão para sempre. As mudanças acontecem às vezes de um dia para o outro. Assim é a primavera: as plantas nascem, tenras e frágeis mas, com o calor do sol e se alimentando da terra e da chuva, rapidamente crescem e se desenvolvem. A primavera, assim com a infância, é a época do despertar, de abrir os olhos para o mundo que nos cerca e do qual passamos a ser parte integrante.

Na adolescência e no começo da vida adulta, somos como o verão: tudo é intenso. A energia e o brilho são fortes, as tempestades aparecem de repente, sem mais nem menos, parecendo que o mundo vai acabar, para logo desaparecerem da mesma forma repentina como surgiram. É como se a natureza, qual um adolescente, ficasse impaciente e passasse por crises de humor. As árvores, como as pessoas, consolidam seu crescimento e firmam as raízes que lhes darão sustentação para o resto da vida.

A meia idade, assim como o outono, é o período dos meio-tons. O crescimento está completo e os galhos se multiplicaram e espalharam. A intensidade é menor, a energia diminui, as marcas da vida estão registradas nos rostos e nas folhas, e a beleza se modifica, adquirindo toques sutis e uma atração diferente, madura. É a época da suavidade, da calma de quem sobreviveu às dores de crescimento da infância e às tempestades da adolescência e do início da vida adulta. É a natureza e a vida atingindo a plenitude.

O inverno e a velhice trazem o branco da neve e dos cabelos. As plantas, assim como os corpos, se tornam secas e pouco flexíveis. Mas é também o tempo de aproveitar o aconchego de casa, saborear a companhia da família, de refletir sobre as conquistas, realizações e alegrias. O inverno/velhice é quando a natureza e as pessoas se preparam para um novo período, olhando para trás com a satisfação de uma missão cumprida, imaginando o que há à frente.

Ao final do inverno, a natureza então reinicia o seu ciclo interminável. O que nos leva a indagar se o mesmo acontece com a vida. Será que há um novo ciclo de renascimento após a morte, ou será que somos como a folha seca que se perde ao vento, deixando só a lembrança e a saudade?

Quem souber a resposta, por favor escreva para este blog.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Leveza

Estive relendo este blog e notei que ele anda meio pesado. É terrorismo, guerra, falecimento e outros assuntos não muito agradáveis. Como não quero perder os cerca de dez leitores que ainda restaram (será que ainda têm dez aí?), resolvi escrever sobre algo mais ameno.

Só que escrever é fácil. O difícil é decidir sobre o que escrever, achar a famosa “inspiração”. Pode ser que para os escritores de verdade, ela venha naturalmente. Para mim, não. Normalmente eu leio algo no jornal, na internet, ou vejo alguma coisa na TV que me dá a idéia do que escrever, mas ultimamente o noticiário anda mais pesado do que o Ronaldo na Copa.

Então resolvi escrever sobre algo leve e o que mais leve que o ar? Antes que vocês dez pulem fora deste blog, ou então pensem que vou escrever sobre o 14-Bis do Santos Dumont, vou explicar.

Eu tenho procurado caminhar de manhã cedo, já que fazer ginástica dá muito trabalho e cansa. Assim, tento diminuir a minha culpa e a minha barriga. Eu ando dentro de um parque que tem perto de casa, rodeado de árvores, pássaros e mosquitos (nem tudo é perfeito).

Hoje eu estava andando pelo caminho de sempre e tive a idéia de tentar me abstrair do ambiente com o qual eu estou acostumado, por onde passo quase todos os dias, e encarar como se eu estivesse ali pela primeira vez, realmente vendo, sentindo, cheirando, aguçando os sentidos. Estava um dia bonito, céu azul, ainda não estava muito quente (é verão aqui) e, como estava úmido, estava aquele cheirinho de mato.

E então fiquei saboreando aquele ar puro, sentindo o seu friozinho matinal, o seu cheiro impregnado de natureza, degustando o ar como quem saboreia um vinho raro, buscando traços sutis de aromas variados, despertando sensações e memórias. Sim, porque o olfato funciona como um gatilho que dispara memórias arquivadas na cabeça da gente, organizadas por vários índices, inclusive de cheiros (quem não lembra do prazer de sentir o cheirinho de pão fresco da padaria, ou do cheiro da pipoca pulando da panela do pipoqueiro da esquina?).

Aquele ar, descendo do nariz até os pulmões, além de servir de combustível para a vida, me lembrou de lugares a quilômetros de distância, me transportando instantaneamente que nem no seriado Jornada nas Estrelas. Em menos de um segundo, eu estava no meio das palmeiras do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, na Mata Atlântica do Parque de Itatiaia, no Parque das Águas de São Lourenço, no clima privilegiado de Miguel Pereira...

Imediatamente, veio uma sensação boa, a felicidade de lugares e momentos vividos com alegria e prazer, de memórias que fazem a vida ter sentido e valer a pena. Em poucos segundos, e com o simples ato de respirar, foi como se o tempo tivesse parado: os mosquitos deixaram de chatear, os carros não passavam e eu podia estar em qualquer lugar, em todos os lugares e em lugar nenhum, ao mesmo tempo.

Ao final desse momento mágico, que provavelmente durou alguns segundos no meu relógio mas uma eternidade na minha mente, fui andando e olhando para o céu, lembrando daquelas comparações que mostram como somos pequenos perante o universo e o tempo.

Fiquei pensando que se a gente existe, neste universo tão imenso, e se temos a capacidade de sentir e apreciar coisas tão simples como o ar que respiramos, se somos capazes de criar e guardar universos nas nossas mentes, formados pelas nossas memórias e imaginação, pelos quais viajamos a qualquer momento, então deve haver um motivo muito bom para isso, algum plano bem maior que, só porque não conseguimos entender, não quer dizer que não exista.

Hoje, aqueles dizeres de que Deus está em todos os lugares ao mesmo tempo, como o ar que nos cerca, fizeram muito mais sentido...

segunda-feira, agosto 07, 2006

Manual Prático de Combate Ao Terrorismo

Versão atualizada e ampliada

Combater o terrorismo não é atividade fácil ou simples. Não é atividade para amadores. Combater o terrorismo exige determinação, força de vontade, persistência e, principalmente, sangue frio. Não é atividade para fracos, covardes, ou inseguros.

Este Manual não é um guia completo, nem tem a pretensão de ser uma “receita de bolo”, mas pode ser um bom guia para aqueles que têm os requisitos necessários, mas não sabem exatamente como proceder. Recomenda-se a leitura a presidentes, ministros ou secretários de estado, militares e diplomatas, embora os conceitos aqui emitidos possam ser facilmente entendidos pelo público em geral.

ATENÇÃO: Combater o terrorismo é atividade de alto risco, sendo muitas vezes letal. Este Manual não se responsabiliza por efeitos diretos ou indiretos do combate ao terrorismo.

Para efetivamente combater o terrorismo, 10 passos básicos devem ser seguidos:

1- Nunca negocie. Terrorista não vê negociação como um ato civilizado em busca de um consenso ou de um acordo. Terrorista vê negociação como um ato de fraqueza. Se você negociar hoje o seu dedo, amanhã eles não pedirão a sua mão, mas sim a sua cabeça. Portanto, nunca negocie nem faça concessões. Você só terá a perder, pois se tornará refém de quem não tem nada a perder.

2- Não use pouca força. Ao lidar com terroristas, use o máximo de força a seu dispor. Lembre-se que usando pouca ou muita força, você já começa em desvantagem, uma vez que o terrorista aceita a morte como um prêmio. Portanto, use o máximo de força para ter alguma chance de sair perdendo menos. Sim, porque contra terrorista você sempre irá perder: se usar pouca força não adianta nada e se usar muita força, será acusado de reagir “desproporcionalmente”. Se é para ficar mal, que pelo menos você fique mal acabando com (ou diminuindo) a ameaça.

3- Prepare-se para a guerra psicológica. Lembre-se que a frente de batalha não é só aquela onde tiros são disparados. Há uma outra guerra, de dimensão bem maior, correndo em paralelo, que é a guerra da opinião pública mundial. Os terroristas farão tudo para serem vistos pelos compatriotas como mártires e salvadores da pátria e pela opinião pública mundial, que carrega um complexo de culpa e quer ser politicamente correta, como os coitadinhos enfrentando os opressores.

4- Entenda que muita gente inocente vai morrer. Ainda que inaceitável, é inevitável que muita gente inocente acabe morrendo, de ambos os lados. Do seu lado, porque terrorista não tem escrúpulo – para eles os fins justificam os meios. Do lado deles, porque terrorista se esconde em escolas, hospitais, mesquitas, no meio da população civil e os usa como escudos. Para os terroristas estes inocentes, assim como eles, são mártires da causa.

5- Não conte com solidariedade. Lutar contra terroristas é uma luta solitária. Ninguém vai querer ajudar, por medo, covardia ou indiferença. Quando o terrorista atingir você, ao invés de ajuda você receberá olhares de alívio (“ainda bem que não é comigo”), falsa solidariedade (“lamentamos o ocorrido”), críticas (“você provocou a situação”) ou sugestões que não resolvem a raiz do problema (“cessar-fogo imediato”).

6- Não espere resultados rápidos. Lutar contra terroristas é atividade de longa duração. Terrorista é como a medusa: você corta uma cabeça e nasce outra. Portanto, prepare-se para uma longa, dura e dolorida jornada, mas nunca perca de vista o seu objetivo. Terrorista conta com o seu cansaço.

7- Ataque o mal pela raiz. Vá atrás dos líderes, sejam eles religiosos que incentivam a “guerra santa”, políticos que manipulam a população ignorante, ou mentores intelectuais que usam ideologia misturada com fanatismo. Lembre-se que ao atingir o líder, o resto do bando se desarticula.

8- Mantenha os seus valores. Os terroristas querem matar você, mas se não conseguirem, se dão por satisfeitos em mudar os seus valores, seu modo de vida. Lembre-se que terroristas florescem em ambientes totalitários, onde não há liberdade, conhecimento e informação. Não caia na tentação de, com o intuito de combater o terrorismo, acabar por limitar a liberdade, o conhecimento e a informação de sua população. No momento que você abrir mão do seu modo de vida, de seus valores e adotar o modo de vida do terrorista, ele ganhou a guerra.

9- Use inteligência. Seja inteligência no sentido próprio da palavra, ou inteligência no sentido de investigação, infiltração. Infiltrando o movimento terrorista, ainda que difícil e perigoso, você ganha acesso a informações que ajudarão a identificar os líderes (ver item 7), se antecipar aos atos terroristas e a melhor entender como o movimento funciona. Se preciso, use a mesma tática dos terroristas, criando os “sleepers” (agentes que passam anos inativos, aguardando a ordem e o momento de entrar em ação).

10- Se nada disso adiantar, prepare-se para viver num mundo dominado pelo Hesbollah, Hamas, Taliban e outros do gênero: coloque um turbante (ou um véu, no caso das mulheres), aprenda árabe e seja bem vindo à idade média!

quinta-feira, julho 20, 2006

Viajando sem sair do lugar

Agora que a Copa do Mundo acabou (não, não vou falar sobre isso!), o Olho Grande volta a ficar bem aberto, olhando para o mundo à nossa volta e comentando sobre o que vê.

Mas, antes que eu diga o que vejo, gostaria de convidar você a fazer uma “viagem” comigo. Pode ficar tranquilo(a): este blog não consome drogas e a viagem não é lisérgica...

Feche os olhos e imagine que você está na sua casa, cuidando da sua própria vida, quando seu vizinho bate na porta e diz que vai expulsar você da sua casa. Você é uma pessoa sensata e resolve conversar com ele, para tentar entender o que está havendo.

O seu vizinho então argumenta que a sua casa, que você herdou do seu pai, que herdou do seu avô e que pertence à sua família há várias gerações, na verdade deveria ser dele. Você não consegue entender, já que você mora numa casa pequena, sem muitos atrativos, num terreno pobre, enquanto o seu vizinho mora numa casa enorme, com terreno riquíssimo, que fica junto a outras casas imensas que pertencem a parentes dele.

Seus argumentos não funcionam e seu vizinho sai jurando que vai expulsar você. Você liga para a polícia, mas ela diz que está muito ocupada para proteger você e sua família. No dia seguinte, seu vizinho agride seus filhos. Preocupado com a violência, você compra uma arma para se defender.

Seu vizinho chama a família dele, que é bastante numerosa, e começam a jogar pedras nas suas vidraças. Cercado, em inferioridade numérica, assustado, você não tem outra alternativa a não ser usar a sua arma. Seus vizinhos nem assim param e ainda por cima chamam a polícia alegando que você atirou na direção deles. A polícia avisa que você está agindo com violência desproporcional e exige que você imediatamente pare de usar a sua arma.

A polícia vai embora e seus vizinhos recomeçam a jogar pedras. Como você não reage, eles tomam coragem e invadem seu quintal, colocando fogo nas suas poucas árvores. Seguindo a determinação da polícia, você continua não reagindo e tentando negociar para que eles fiquem com o quintal mas deixem a sua casa e família em paz. Eles não aceitam. Respondem que não vão sossegar enquanto não eliminarem você e toda a sua família.

Durante a noite, enquanto você dormia, eles arrombam a porta dos fundos e raptam um de seus filhos. Ao acordar, você descobre o que aconteceu e tenta negociar a devolução dele. Eles fazem demandas absurdas, que sabem que você não pode e nem tem como aceitar.

Temendo pela sorte de seu filho, você toma coragem e, armado, vai até o terreno do seu vizinho para resgatá-lo. Neste momento, seu celular toca e é a polícia, mais uma vez avisando que você não pode usar a sua arma, pois mulheres e crianças da família do seu vizinho podem morrer no fogo cruzado. O que fazer?

Já que estamos “viajando”, vamos dar um pouco mais de asas à imaginação. Imagine uma situação em que a Argentina patrocinasse um grupo de criminosos, fornecendo armas e dinheiro para que eles se instalassem no Paraguai, na fronteira com o Brasil. Nesta situação hipotética, aproveitando que o Paraguai fingia que não via, os criminosos então passassem a atirar mísseis atingindo a população do Rio, São Paulo e até mesmo Brasília. Qual seria a sua reação?

Tenho certeza que o Brasil iria exigir que o Paraguai fizesse o seu dever de casa e cuidasse direito do seu lado da fronteira, ao mesmo tempo em que as forças armadas brasileiras se mobilizariam para defender a integridade do país e dos brasileiros, ameaçando não só o Paraguai, como também a Argentina caso os criminosos não fossem contidos.

Você deve estar pensando que eu enlouqueci, ou que estou sem um mínimo de criatividade e assunto, para inventar umas histórias tão sem pé nem cabeça com essas. Eu aceito a acusação de falta de criatividade, porque eu não inventei estas histórias. Elas estão nas manchetes dos jornais. Não lembra? Vou ajudar dando o nome dos personagens.

Na primeira história, o morador da casa pequena chama-se Israel. A família que mora nas casas grandes chama-se Árabes. O vizinho que sequestrou seu filho chama-se Hamas ou Hisbolá (cada dia ele assume uma identidade diferente). A polícia chama-se ONU.

Na segunda história, o Brasil faz o papel de Israel, a Argentina o da Síria e o Paraguai o do Líbano.

Eu fiz estas adaptações porque parece que as pessoas estão com mais facilidade de entender a ficção do que a realidade. O mundo não está sabendo reagir a uma situação que, ainda que não seja nova, está a cada dia mais clara: os radicais muçulmanos estão numa guerra santa, não contra Israel, mas contra a civilização ocidental.

Hoje, o inimigo da vez (até porque é o de mais fácil apelo) é Israel em primeiro lugar e os Estados Unidos em segundo. Mas, amanhã pode ser a Inglaterra, Alemanha, Japão, ou até o Brasil (vide o caso da Dinamarca / caricaturas). Basta que eles arrumem um motivo qualquer.

A população dos países árabes, de uma forma geral, vive numa realidade à parte, por falta de educação e informação, e por excesso de manipulação e fanatismo. Os dirigentes, muitas vezes disfarçados de líderes religiosos, usam a religião como pretexto e o povo como massa de manobra para atingir os seus objetivos nocivos, com isso mascarando a situação de pobreza e ignorância de um povo que pisa em terras riquíssimas de petróleo mas sequer tem o que comer.

Portanto, é mais fácil culpar Israel e os Estados Unidos, do que usar os royalties do petróleo para construir escolas, hospitais, casas, tirar o povo da idade média e trazê-los para o mundo globalizado do século 21.

Os atentados de 11 de setembro marcam o início de uma nova era, ainda que muitos não tenham percebido. Até então, os radicais muçulmanos tinham o ódio, mas não tinham a organização, a união e a audácia para agir em larga escala contra o ocidente. Eles estavam treinando, se preparando, nas Intifadas contra Israel, nos atentados contra embaixadas americanas, nas areias do Líbano e nas cidades da Faixa de Gaza.

Hoje, contando com apoio logístico e financeiro declarado de países como Síria e Irã, com o apoio velado de outros países que fazem jogo duplo (como a Arábia Saudita) e com a indiferença do resto do mundo, eles estão cada vez mais fortes e cada vez mais ambiciosos.

O que acontece hoje em Gaza e no Líbano, simultaneamente, não é mera obra do acaso. É sim, mais um teste para avaliar a resolução do mundo. A união, que na época da segunda guerra mundial juntou quase todos os países contra a ameaça nazista, hoje não existe. Pelo contrário, o que se vê são críticas a Israel e aos Estados Unidos por enfrentarem corajosamente o terrorismo, e simpatia dirigida aos terroristas (“os pobre coitados”), expressa em declarações, artigos nos jornais e cartas de leitores que tentam até justificar crimes absurdos como os perpetrados em 11 de setembro de 2001.

A realidade, ainda que seja dura e difícil de ser aceita, tem que ser encarada antes que seja tarde demais: não há como fazer a paz com alguém cujo único objetivo seja a eliminação completa do seu oponente. Não há como ser bonzinho, compreensivo e tolerante enquanto mísseis são atirados a esmo na direção de cidades. Não há como negociar com países que toleram e até incluem no corpo governante pessoas associadas ao terrorismo. Não há como usar regras normais de guerra, quando o seu inimigo não é um exército regular e usa civis como escudo. Não há como aceitar como normal que alguém enrole quilos de explosivos no corpo, entre numa discoteca lotada de jovens se divertindo e faça tudo explodir, inclusive a si mesmo, achando que irá para o paraíso viver na companhia de 80 virgens...

Termino este artigo com um poema escrito pelo Pastor Martin Niemöller no século passado, mas que a cada dia, infelizmente, fica mais atual:

Primeiro eles vieram pelos judeus
E eu nada falei
Porque eu não era um judeu.
Depois eles vieram pelos comunistas
E eu nada falei
Porque eu não era um Comunista.
Depois eles vieram pelos sindicalistas
E eu nada falei
Porque eu não era um sindicalista.
Então eles vieram por mim
E não havia mais ninguém
Para falar por mim.

sábado, junho 10, 2006

Quanto vale uma vida?

Se for no Brasil, por 50 reais compra-se uma vida, ou melhor dizendo, uma morte. Se for na África ou em alguns lugares na Ásia, qualquer trocado serve para comprar uma criança ou adolescente, que depois será escravizada ou alugada em prostíbulos.

Coisa de gente pobre? Nem tanto. Há poucos dias, um alpinista que estava escalando o Himalaia não aguentou a jornada e desfaleceu numa das trilhas. Vários outros alpinistas passaram por ele e não prestaram auxílio alegando que, ao fazê-lo, provavelmente não poderiam completar a escalada, “desperdiçando” os milhares de dólares pagos na aventura. Sem auxílio, no frio e no ar rarefeito, o pobre coitado, cuja vida aparentemente não valia alguns milhares de dólares, morreu.

Fico imaginando se o fato de o mundo estar com mais de 6 bilhões de pessoas não está causando uma desvalorização de cada um de nós, banalizando a vida e a morte. Seria um caso de inflação humana.

De certa forma, muitos seres humanos já saem de fábrica com o preço definido: Uma criança que nasça numa aldeia pobre no interior da África ou em alguns lugares no sertão nordestino já virá ao mundo com o seu destino praticamente definido, que dificilmente será diferente do caminho seguido pelos seus pais e avós. Há exceções, claro, mas elas infelizmente apenas confirmam a regra.

Há pouco tempo li um estudo feito nos EUA que dizia que para criar uma criança, do nascimento até os 18 anos, gastava-se em torno de 200 mil dólares. Ainda que estes valores sejam relativos a um país rico, mesmo recalculando para a realidade do Brasil, ainda obteremos um valor alto, considerando-se despesas com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, etc.

Estamos então com uma situação contraditória: os seres humanos de uma forma geral “desvalorizados”, enquanto gastamos milhares de dólares (ou reais) para criar mais crianças...

Não estou propondo que deixemos de ter filhos, ou que deixemos de oferecer a eles o melhor que pudermos. Acho que devemos sim dar o melhor para os nossos filhos, para que eles possam crescer com saúde e desenvolver suas aptidões e talentos, mas não podemos esquecer de incluir no pacote ensinamentos de respeito ao próximo. Nenhuma sociedade organizada é bem sucedida com uma política de “primeiro eu e que se dane o resto”. Aquela criança que está nascendo na favela ou na palafita, que vai crescer sem estudo, educação, saúde ou qualquer tipo de assistência básica, amanhã ou depois vai ser o adolescente ou adulto que vai ameaçar você, sua família, ou seu patrimônio.

Num ecosistema, todos os seres e o meio-ambiente em que vivem estão em constante interação. Não dá para se isolar, ou fingir que não está vendo. Podemos gradear os nossos prédios, colocar vidros escuros e alarmes nos nossos carros, evitar alguns lugares mais perigosos, mas nada disso será suficiente.

Temos que exigir dos governantes que elegemos e sustentamos ações eficazes e não apenas atos demagógicos ou puramente assistencialistas como vale-transporte, restaurante e hotel a um real, etc.

Temos que ensinar a pescar, ao invés de dar o peixe (ou os restos do peixe). Isto significa que o país tem que investir com inteligência e competência em:

1- Educação: Educação não é só mandar para a escola, mas sim assegurar que a escola esteja propriamente equipada, que os professores estejam bem preparados e que tenham boa condição de trabalho (inclusive salário), que os alunos tenham um currículo voltado para a realidade do país, fazendo com que aprendam ao invés de simplesmente passarem de ano e que possam sair da escola capacitados a entrar no mercado de trabalho com alguma qualificação. Além disso, a escola deve suprir o aluno com noções de higiene, moral e respeito, já que muitos não recebem isto em casa.

2- Saúde: Saúde não é só construir hospital e inaugurar com banda de música. É equipar o hospital com recursos humanos e materiais de qualidade. É investir em saneamento básico, vacinação e outras medidas de prevenção, que diminuirão a demanda por hospitais e tornarão a população mais saudável e produtiva.

3- Segurança: Segurança não é só botar polícia na rua. Segurança é o estado se fazer presente em todos os lugares e comunidades, para que não aconteça o que hoje vemos nas favelas, onde os traficantes são a autoridade. Logicamente, a polícia sempre será necessária, mas esta tem que ser bem preparada, paga e equipada. Um policial não pode ser diferente do bandido apenas no uniforme.

4- Trabalho: Deixei por último o item mais importante. O trabalho é aquele que vai possibilitar os três itens mencionados, ao mesmo tempo em que também será a consequência deles. Um povo que tem trabalho com salários dignos, paga mais impostos, consome mais (gerando mais demanda, produção e emprego) e tem melhores condições cuidar de seus filhos. Um estado em que o povo tenha trabalho com salários dignos, arrecada mais dinheiro, que pode então ser usado para investimentos que melhorem ainda mais as condições de seu povo. É um círculo virtuoso, em oposição ao círculo vicioso em que vivemos hoje de estado e povo falidos.

Eu reconheço que este artigo está meio utópico. Mas, temos que sonhar e exigir o melhor. Outros países, com muito menos recursos humanos e riquezas materiais, conseguiram superar anos de dificuldades e até de guerras, estando hoje inseridos no mercado globalizado, com evidentes ganhos de qualidade de vida para os seus cidadãos.

Uma vida vale muito. Uma vida produtiva, que contribua para as outras vidas atuais e futuras, vale muito mais. Pense nisto na próxima vez em que for votar.

segunda-feira, junho 05, 2006

Minha avó

Hoje faleceu a minha avó. Finalmente descansou, pois desde que o meu avô faleceu ela havia perdido a lucidez, não mais reconhecendo as pessoas, vivendo numa outra dimensão, num mundo só dela.

Ainda que ache que ela se libertou do peso em que a vida havia se transformado para ela, estou sentindo um vazio muito grande. Um vazio de quem não é mais neto de ninguém, já que não tenho mais avôs ou avós vivos. Um vazio por não mais poder saborear os pés-de-moleque que só ela sabia fazer. Um vazio por nunca ter me despedido propriamente (se é que isso existe)...

Minha avó era uma pessoa muito engraçada. Tendo imigrado para o Brasil ainda jovem, sem saber o português, nunca perdeu o sotaque que lhe era característico. Como toda avó, adorava empurrar comida nos netos e ficava ofendidíssima (adorava um drama!) se recusássemos. Não dava para visitá-la sem encher a barriga. Não dava também para escapar daqueles beijos que pareciam que iam arrancar fora a nossa bochecha. Adorava pegar a gente para um jogo de buraco, mas ficava possessa quando a flagrávamos jogando de forma “menos ortodoxa”.

Ela não bebia nem fumava, era a típica dona de casa, mas tinha um hábito que já tinha se tornado parte do folclore da família: adorava jogar no bicho. Jogava mixaria, trocados, mas era o passatempo dela (como o bingo dos aposentados, hoje em dia). Até quando a gente viajava de férias para alguma outra cidade, não sei como, ela sempre dava um jeito de achar o apontador de bicho local. O meu avô, muito rígido, não gostava e brigava, o que me fez, já adulto, de vez em quando, dar a ela algum dinheiro escondido para ela jogar na “brabuleta”.

Ainda que ela tivesse opiniões fortes, tinha uma certa ingenuidade infantil. Adorava uma festa e fazia o maior sacrifício para não perder nenhuma, apesar da artrose nos joelhos que a incomodava desde que eu me conheço por gente. Era muito vaidosa e se arrumava toda, com capricho.

Ela se foi, deixando saudades, mas ficou na memória dos muitos filhos, netos e bisnetos. Espero que onde ela esteja agora tenha sempre muita festa, com muita comida e convidados. Tenho certeza que, a essa altura, ela até fez uma fezinha, escondida do meu avô...

terça-feira, maio 30, 2006

A Ética do Ego (ou vice-versa)

Ética [Do lat. ethica - gr. ethiké.] S. f. Filos. 1. Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. [Cf. bem (1) e moral (1).]

Ego [Do lat. ego.] S. m. 1. O eu de qualquer indivíduo. [Opõe-se a álter.] 2. V. egotismo (1): Seu ego torna-o cada dia mais insuportável.


Neste fim de semana eu estava assistindo o treino da Fórmula 1. Para aqueles que não acompanham F1, o treino é usado para definir as posições de largada na corrida. Como a corrida era em Mônaco, onde é quase impossível ultrapassar, largar na frente seria uma grande vantagem.

Faltava cerca de um minuto para o fim do treino. O piloto alemão Michael Schumacher até então estava com o melhor tempo, mas o piloto espanhol Fernando Alonso vinha fazendo uma volta extremamente rápida, prestes a superar a marca de Schumacher.

De repente, o que era competição vira teatro: Schumacher simula uma quase batida no muro, deixando o carro atravessado na pista, forçando a interrupção do treino e da volta rápida do Alonso. Não havia tempo para outra volta. Portanto, debaixo de vaias, Schumacher se classifica em primeiro lugar, deixando Alonso em segundo.

Após o treino, os oficiais da Federação de Automobilismo corretamente puniram Schumacher forçando-o a largar em último, ficando Alonso com o primeiro lugar na largada e, posteriormente, vencendo a corrida.

Fiquei pensando no que levaria um piloto sete vezes campeão do mundo, que pulverizou todos os recordes da Fórmula 1, que é um dos desportistas mais bem pagos, a fazer uma palhaçada dessas para largar em primeiro e não em segundo. Valeria a pena sujar uma carreira de recordes e sucessos com algo tão pequeno? Creio que a resposta esteja ligada a duas palavras que têm ultimamente seguido direções opostas: a ética e o ego.

A ética deveria nortear as nossas ações, deveria ser a nossa “Constituição” interna dizendo o que é certo e o que é errado. Deveria, junto com a nossa consciência e valores morais, servir como primeiro freio, atuando e nos guiando antes mesmo das crenças religiosas e das leis.

Infelizmente, ao abrirmos os jornais todos os dias, constatamos que a ética anda em falta no mercado. São escândalos, mentiras e golpes de todos os tipos, com pessoas agindo sem escrúpulos, cada um preocupado em levar vantagem sobre os demais, não importa de que forma. É como se o mundo fosse acabar amanhã e cada um quisesse aproveitar os últimos momentos, sem se preocupar com as consequências.


O ego deveria ser aquele que nos torna indivíduos, únicos, o nosso “eu” que é a nossa marca registrada. O ego, em colaboração com outros componentes da psique humana, deveria controlar o comportamento de uma pessoa.

Entretanto, enquanto a ética falta, o ego anda sobrando. O que vemos são egos inflados, viciados – quanto mais inflados, mais querem. Vivemos num momento da história da humanidade em que os egos cegam as pessoas mais que os flashes dos repórteres. Não importa como, o negócio é aparecer, ser bajulado, ser o centro das atenções. Como num transe alucinógeno, perde-se a noção da realidade, do limite e do ridículo.

Essa combinação de falta de ética e excesso de ego, tem levado ao “primeiro eu e que se dane o resto”. Os (maus) exemplos, não faltam: políticos mais preocupados com o bolso do que com a biografia ou com os cidadãos, pseudo-artistas lutando (às vezes literalmente) nos BBB para aparecer, governantes fazendo conchavos com bandidos, presidentes desonrando acordos ou provocando guerras com falsos motivos, CEOs roubando as empresas e os acionistas. E pensar que o coitado do Gérson é que ficou com a fama do “quero levar vantagem em tudo”...

Estes comportamentos, cada vez mais impunes, estão num crescendo, com cada fato ou escândalo superando o anterior, esticando cada vez mais os limites. Desta forma, o que era tabu ou impensável antes, passa a ser aceito agora, abrindo caminho para ir um pouco mais adiante depois.

Cabe à sociedade dar um basta nisso. Temos que adotar comportamentos éticos e exigir o mesmo de nossos representantes. Temos que colocar um freio nos nossos egos, agir como parte do todo e parar de endeusar aqueles que se acham o centro do mundo. Temos que dizer “não” aos Schumachers, às revistas Caras, aos BBBs, aos políticos demagogos e aos falsos salvadores da pátria.

Temos que fazer uma escolha: ou a ética limita o ego, ou o ego continuará a limitar a ética.

domingo, maio 21, 2006

O jogo do empurra – O jogo em que todos perdem

Nos últimos anos muito se tem falado e supostamente investido em “Satisfação do Cliente”, “Central de Atendimento ao Cliente”, “Direito do Consumidor”, etc.

Entretanto, a sensação que se tem é de que os consumidores (todos nós) estão cada vez mais desamparados. Seja o passageiro de avião que tenta inutilmente localizar a bagagem que viajou para local desconhecido, ou o cliente que liga para o telefone 800 (isto quando há um número gratuito disponível) e fica minutos ou horas ouvindo uma gravação monótona agradecendo por uma paciência que já se esgotou há muito tempo, ou o contribuinte que procura resolver algum problema em uma repartição pública e constata que se tornou uma pessoa invisível. Todos estão participando, sem saber, de um jogo chamado “Jogo do Empurra”.

A regra principal do jogo é evitar jogar e passar a vez para o próximo. Na gíria, isto é conhecido como “tirar o corpo fora”. A estratégia é evitar ao máximo assumir responsabilidade por algo e passar adiante.

Tente lembrar qual foi a última vez (se é que alguma vez aconteceu) em que você ouviu alguém dizer: “isto não é da minha área de responsabilidade, mas eu vou pessoalmente cuidar para que este assunto seja resolvido e entrar em contato com você quando estiver resolvido, ou para informar o progresso” e realmente fazê-lo?

Em inglês isto se chama “take ownership”, que em português, numa tradução livre, quer dizer assumir a responsabilidade. Hoje em dia, cada vez mais, é difícil achar uma empresa ou repartição onde os funcionários estejam dispostos a assumir a responsabilidade de resolver um problema, do começo ao fim. A ordem vigente é passar adiante o mais rápido possível. Má vontade pura e simplesmente? Não creio. Acho que há vários motivos possíveis para tal:

1- O desafio da estatística: Com o advento dos Centros de Atendimento a Clientes, também chamados de call centers, grande parte deles terceirizados, o foco passou a ser atender o maior número de pessoas num determinado período de tempo. Os relatórios estatísticos dos centros mostram quantidade de atendimentos por hora, duração média de cada atendimento, tempo de espera na fila, produtividade de cada atendente, etc., mas dificilmente há medições para aferir a eficácia do atendimento, ou seja, se o problema foi efetivamente resolvido. Ora, se eu sou um atendente de um call center e tenho que manter a minha produtividade alta, cumprindo metas pré-estabelecidas, eu vou tentar atender o maior número de pessoas o mais rápido possível. A melhor forma de fazer isto é passar o problema adiante, ou simplesmente dar uma “solução” que na verdade não resolve nada.

2- Treinamento insuficiente: A maioria dos atendentes são funcionários mal pagos, mal treinados, e sem incentivo para fazer aquele “algo mais” em benefício do cliente. Muitos alegam que isso é devido à alta rotatividade do setor, mas creio que esta é a consequência e não a causa, afinal de contas deve ser extremamente frustrante trabalhar nestas condições. Funcionários bem pagos e bem treinados custam caro. Os call centers internos são vistos como centros de custos e não de receitas, ao passo que os terceirizados têm que manter seus custos baixos para poderem ser competitivos. Já os funcionários públicos, além de mal treinados, são desmotivados por salários abaixo dos de mercado e por poucas perspectivas de crescimento de carreira.

3- Compartimentalização: É comum as empresas estarem estruturadas em setores estanque, em que um setor lida apenas com aquilo que lhe diz respeito, não havendo processos que cubram o ciclo de vida completo, abrangendo diversos setores. Isto serve de incentivo adicional ao jogo de empurra. Portanto, não é surpresa que o pobre cliente seja transferido de um setor para outro, muitas vezes voltando ao ponto de origem.

O cliente ou contribuinte virou apenas mais um número numa estatística, apenas mais um a atrapalhar o andamento do jogo. Perdeu-se a sensibilidade, a compaixão, a vontade de fazer a diferença dando uma solução de fato ao problema.

Neste jogo, perdem todos.

Perdem os clientes, que gastam cada vez mais tempo e energia para resolver situações muitas vezes banais, frequentemente desistindo, se resignando pela total sensação de impotência. Exemplos não faltam e pipocam nas reclamações aos jornais, numa tentativa desesperada de serem ouvidos. Quem já lidou com a CEG, Telemar e com repartições públicas sabe a que me refiro.

Perdem também as empresas, pois gastam fortunas em anúncios de produtos e em campanhas institucionais para reforçar a imagem da marca, mas acabam jogando tudo isso fora ao atender mal aquele que ela tanto cortejou – o cliente. Este acaba pulando de uma empresa para outra (quando há alternativas) na busca de um serviço ou produto que cumpra o prometido. Quem já lidou com a Net, operadoras de celular (qualquer uma) e outras empresas que investem mais no marketing do que na qualidade do atendimento, provavelmente já passou por situações semelhantes.

Está na hora das empresas lembrarem que a razão delas existirem é o cliente. Sem o cliente, por mais chato, exigente ou complicado que ele possa ser, não há quem compre os produtos ou serviços.

Hoje em dia várias empresas, como por exemplo as operadoras de celular, oferecem produtos e serviços muito semelhantes. O que poderia e deveria fazer a diferença é o suporte que o cliente obtém no uso destes produtos e serviços. Mas, infelizmente, as empresas resolveram se igualar também neste quesito, por baixo, ignorando o que poderia ser a maior vantagem competitiva.

Portanto, ao entrar no jogo, saiba que você precisará de muita paciência e perseverança para poder ganhar. Provavelmente terá que enfrentar diversas rodadas, voltar várias casas antes de poder seguir em frente, ser penalizado, mas não desista. Quem sabe assim as regras um dia mudam.

quarta-feira, maio 17, 2006

A Lei das Consequências Inesperadas

Todos nós já ouvimos falar da Lei de Murphy, aquela que diz que se algo pode dar errado, certamente dará. O que poucos sabem é que a Lei de Murphy é parte da “Law of Unintended Consequences”, ou Lei das Consequências Inesperadas.

O que diz esta Lei? Ela postula que “quase todas as ações humanas têm pelo menos uma consequência inesperada”. Em outras palavras, ela quer dizer que cada causa tem mais do que uma consequência, incluindo resultados inesperados.

Esta Lei me veio à cabeça ao ler o noticiário dos últimos dias, em particular duas notícias. A primeira, publicada na semana passada, relatava os resultados trimestrais anunciados por diversos bancos brasileiros. Bancos como Bradesco e Itaú anunciaram lucros acima de 700 milhões de dólares, ao passo que o Banco do Brasil registrou um lucro líquido de 1 bilhão de dólares. Um bilhão de dólares! US$ 1.000.000.000,00.

São resultados espantosos, pois se referem ao lucro e não à receita, a um trimestre e não ao ano todo e estão expressos em dólares e não em reais. Além disso, estamos falando de bancos brasileiros e não suíços.

A segunda notícia, publicada ao longo desta semana, descrevia os graves acontecimentos em São Paulo, onde quadrilhas resolveram se rebelar contra a decisão do governo estadual de transferir de prisão alguns dos líderes de facções criminosas. Depois de vários dias de clima de guerra, ficou um saldo de mais de uma centena de mortos, uma população amedrontada e a constatação, mais uma vez, do total despreparo do aparato de segurança pública.

O que a Lei das Consequências Inesperadas tem a ver com estas duas notícias, aparentemente desconexas? Na minha opinião, tudo. Para provar a minha tese, façamos uma viagem no tempo.

Durante os anos da ditadura militar, o governo investiu bastante no aparato de segurança, ao mesmo tempo em que criava as bases para o moderno sistema bancário brasileiro.

A área de segurança, obviamente uma prioridade para um regime que tomou o poder e se manteve nele à base da força, cresceu e se aparelhou, mas com foco deturpado, já que a sua principal missão era proteger o regime e não a população. As atividades de inteligência, cruciais na prevenção e combate ao crime, se voltaram para a identificação dos “comunistas” e não observaram a gradual evolução do crime. O crime organizado até então tinha como principais lideranças os banqueiros de bicho, mas novos personagens surgiram à medida que o tráfico de drogas cresceu e se estruturou.

Com o fim da ditadura militar houve uma ressaca de liberdade e os novos governos eleitos erradamente confundiram repressão ao crime com cerceamento de direitos. Plataformas políticas demagógicas evitaram a imposição de um estado de lei nas favelas e bairros menos favorecidos, criando um campo fértil para o tráfico de drogas se estabelecer como o governo de fato nestas áreas.

Em paralelo, o sistema bancário cresceu bastante durante o governo militar, pois o modelo de desenvolvimento do país se baseava em altos investimentos em obras de infra-estrutura custeadas à base do endividamento, supondo-se que em algum momento elas gerariam receitas e se pagariam. Entretanto, corrupção e má gerência fizeram com que as despesas superassem em muito as receitas, forçando ao aumento sucessivo do endividamento interno e externo. Além disso, nas décadas de 80 e 90, devido às diversas crises no mercado internacional, o dinheiro que até então era barato, passou a ficar mais caro e difícil de ser conseguido, forçando o governo a rolar seus empréstimos em situações cada vez menos vantajosas.

Os bancos brasileiros, intermediários ou fornecedores diretos da matéria-prima que o governo tanto precisava - o dinheiro, experimentaram uma explosão de crescimento, alimentada por uma política de juros altíssimos.

O governo, como principal tomador, passou a ser o principal cliente dos bancos, que deixaram de exercer o seu papel original de fomentadores de negócios. Assim, o mercado não produtivo (capital financiando capital) sufocou o mercado produtivo (capital financiando trabalho), causando inflação, recessão, falta de emprego, empobrecimento da população e total incapacidade de investimento por parte do governo.

Muito embora algum progresso tenha sido feito nos últimos anos no controle das finanças públicas, com redução da inflação, melhoria do perfil da dívida pública e mais transparência no uso do dinheiro público, muito ainda tem que ser feito. O lado social, totalmente relegado a segundo plano nas últimas décadas, continua necessitando de iniciativas sérias, de longo alcance, sem cunho demagógico ou político.

Neste ponto, os dois fatos desconexos, se juntam: de um lado, bancos ricos florescendo em um estado falido, sem capacidade de dar à sua população condições mínimas de trabalho, saúde, educação e segurança, e do outro, quadrilhas bem armadas, solidamente estabelecidas, com efetivo controle de áreas inteiras nas cidades, se aproveitando da miséria do povo e da ausência do estado.

Portanto, o que aconteceu em São Paulo não deveria ser surpresa. Temo que seja apenas o começo de um confronto entre o crime organizado e a sociedade organizada (nem tanto). O Brasil por muitos anos fechou os olhos ou virou o rosto para não ver o crescimento das favelas, o empobrecimento da população, a total inversão de valores que deveriam ser a base de uma sociedade civilizada. Agora, a realidade explode na nossa frente e não tem como fingirmos que não estamos vendo.

Infelizmente, não há solução simples a curto prazo. De imediato, tem que haver repressão séria, eficaz, com os governos municipal, estadual e federal deixando de lado o partidarismo e priorizando o bem estar da população. Aparentemente, esta oportunidade foi perdida em São Paulo, onde supostamente preferiu-se negociar com os bandidos do que dentre os diversos níveis de governo.

A médio e longo prazos, as soluções são bem conhecidas e só não são adotadas por falta de vontade política e de cidadania. São soluções que não dão voto em novembro, mas que poderiam mudar o país. Soluções básicas como tornar o estado mais eficiente e menos corrupto, implantando práticas de gerência profissional, investir em educação, saúde e segurança e incentivar o trabalho, a produção e não apenas o capital improdutivo.

Não é tarefa fácil, mas não é impossível. Não faltam exemplos de países que estavam em situação pior do que o Brasil e hoje despontam no cenário internacional como países competitivos e que estão gerando oportunidades de melhoria de vida para seus povos.

O Brasil tem recursos, talento, uma população ordeira e trabalhadora. Falta apenas liderança. Até que ela apareça, continuaremos a ver as leis do país sendo descumpridas e a Lei das Consequências Inesperadas cada vez mais em evidência.

terça-feira, maio 16, 2006

Pescando o Phishing

Estive lendo um artigo sobre a "explosão" da prática de phishing.

Mas, antes que você feche esta página e eu perca a minha audiência, deixe eu explicar o que é phishing.

Phishing são e-mails que você recebe como se fossem do seu banco ou de algum lugar onde você tem uma conta (pode ser ebay, Amazon, Lojas Americanas, escola, trabalho, etc.). O e-mail parece legítimo - em geral tem o mesmo layout, cores, elementos gráficos e estilo dos e-mails que você está acostumado a receber daquela empresa.

O e-mail pede para você confirmar seus dados, ou verificar se sua conta está ok, ou usa qualquer outro motivo que faça ter que acessar a sua conta no banco, loja, etc. O e-mail fornece um link para o site (ou então um botão tal como “clique aqui”) e este link parece correto.

Ao clicar no link, você é levado para um site igualzinho ao verdadeiro e, achando que você está nele, você faz o seu login fornecendo seu código de usuário e senha.

O que aconteceu de fato? Várias coisas:

1- O e-mail que você recebeu, mesmo parecendo legítimo, provavelmente não é. A maioria das empresas evita comunicação deste tipo, pois elas sabem dos riscos de fraudes.

2- O link em que você clicou, ainda que pareça correto, não é. Mesmo que esteja escrito, por exemplo, http://www.amazon.com ele na verdade pode levar você para um outro site fictício, com outro endereço, que tenha a mesma aparência do Amazon. O que está escrito no link não tem nada a ver com o endereço do link. O mesmo vale para os botões do tipo “clique aqui para acessar a sua conta”.

3- Quando você fez o login no site, seu nome de usuário e senha foram enviados para os criminosos que podem então fazer roubo da sua identidade (agir como se fossem você) e fazer a festa às suas custas. É comum fazerem compras usando a sua conta e fornecerem como endereço de entrega caixas postais, muitas vezes em países com fracos controles de crimes cibernéticos. Muitas vezes acessam dados pessoais e os usam para emissão de documentos falsos, ou solicitação de segunda via de seus documentos.

Esta e' uma daquelas situações MUITO fáceis de se evitar, apenas seguindo estas regras básicas:

1- Se o e-mail que você recebeu estiver mal escrito (erros de digitação ou de concordância), apague de imediato. É falso. Parece incrível, mas boa parte dos e-mails de phishing são mal escritos e ainda assim as pessoas acreditam...

2- Se o e-mail que você recebeu parece legítimo, ainda assim NÃO clique no link ou botão que ele forneceu. Ao invés disso, abra uma outra ocorrência do seu navegador (browser), entre com o endereço que você normalmente usa para acessar o seu banco ou loja (normalmente está na sua lista de favoritos) e aí sim faca o login e verifique se o que está sendo dito no e-mail é verdade.

Isto vale até mesmo para e-mails que você recebe no seu trabalho ou escola, ou de conhecidos, porque o micro de alguém pode estar infectado sem que a pessoa saiba e estar gerando e-mails falsos.

Em resumo, NÃO clique em link que você recebe por e-mail. Entre você mesmo com o endereço que você está acostumado a usar.

Com isso, phishing deixa de ser efetivo e os criminosos vão ter que procurar outro jeito de explorar a credulidade das pessoas.

PS: Este blog não tem nenhum link pedindo para você entrar na sua conta. Se tiver, foi invadido! :-)

segunda-feira, maio 15, 2006

Bolívia 1 x 0 Lula

Alguém aí se lembra de quando os Estados Unidos tiveram a “ousadia” de exigir que estrangeiros entrando no país tivessem as impressões digitais registradas, incluindo na lista cidadãos brasileiros que quisessem visitar os EUA?

Levante a mão quem se lembra da reação indignada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Dos protestos de políticos, jornais, estudantes e de brasileiros que vestiram a camisa da pátria amada violada? Das prontas reações e retaliações?

Pois eu lembro. E lembrei hoje de novo ao ler a noticia de que o presidente da Bolívia, Evo Morales, acusa o Brasil e a Petrobrás de operarem fora da lei, de terem praticado contratos ilegais e contrabando. Lembrei também da foto do mesmo Lula (não vou mais tratá-lo por "presidente", porque não faz jus ao título), tirada no início desta semana, sorridente ao lado do mesmo Morales, declarando que não havia crise e que a atitude da Bolívia, ao nacionalizar as empresas de exploração de gás, era correta.

Onde está a indignação exibida contra os EUA, ao vermos o país e a sua maior empresa serem taxados de foras da lei, por um país que tem como característica ser um dos maiores produtores de cocaína? Onde estão os defensores da pátria, que não se manifestam ao verem bilhões de dólares investidos pela Petrobrás na Bolívia, para extração e transporte do gás boliviano, serem tomados à força, incluindo a invasão das instalações da Petrobrás na Bolívia por soldados bolivianos?

Para quem não sabe, alguns dados sobre a Bolívia: País com pouco menos de 9 milhões de habitantes, o mais pobre da América Latina, principalmente devido ao alto índice de corrupção e instabilidade política. Entretanto, tem muitas riquezas naturais, tais como gás, prata, ferro e magnésio, sendo conhecido como "donkey sitting on a gold mine" (burro sentado na mina de ouro).

A Petrobrás iniciou suas atividades na Bolívia no ano de 1995, através de sua subsidiaria Petrobrás Bolívia S.A., em virtude dos acordos de integração energética assinados entre a Bolívia e o Brasil. Sua criação esteve estrategicamente ligada à exploração das reservas de gás para garantir o fornecimento ao gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL), concluído em dezembro de 1998, com uma extensão de 3.150 km e um investimento total de US$ 8 bilhões.

O Brasil viabilizou a exploração e a venda do gás boliviano, construindo o gasoduto que leva o gás até São Paulo, assegurando à Bolívia um preço que na época gerou muitas críticas internas no Brasil, por ser mais alto que o preço de mercado. Sem a Petrobrás, o gás boliviano provavelmente ainda estaria embaixo da terra, parte dele sequer descoberto. Os contratos que Evo Morales diz serem ilegais previam que a Petrobrás Bolívia faria a pesquisa de alto risco em algumas áreas onde ainda não havia sido descoberto gás: se não achasse nada, 100% dos custos eram absorvidos pela Petrobrás. Se achasse, 50% dos custos ficavam por conta da Petrobrás e 50% por conta da estatal boliviana YPFB. Pois bem, as descobertas feitas pela Petrobrás equivalem a quase 40% das atuais reservas certificadas da Bolívia.

Portanto, o Brasil ajudou a Bolívia a descobrir e a explorar as riquezas que a Bolívia nunca foi capaz de tirar proveito sozinha. O Brasil ofereceu um mercado cativo (as indústrias de São Paulo), com um preço e consumo mínimos garantidos e, ao invés de ser tratado como parceiro preferencial, é escorraçado e tratado como criminoso e aproveitador.

Fará muito bem a Petrobrás se suspender os investimentos que estavam sendo feitos na Bolívia e direcioná-los para a utilização do gás gerado nas plataformas de extração de petróleo na costa do Brasil (principalmente na Bacia de Campos), gás este que hoje é queimado ou injetado de volta nos campos, por incapacidade de aproveitamento. Não é uma solução de curtíssimo prazo, mas é uma solução estratégica.

Está na hora do lula acordar e parar de querer ser como os morales, castros e chavez (todos com minúsculas mesmo, pois minúsculos o são). Está na hora do lula adotar uma postura de estadista, nem que seja apenas por encenação, e não deixar que os nomes do país e de suas empresas sejam desmoralizados deste jeito.

Não adianta andar de avião último tipo, fazer bravatas contra os americanos e pleitear um lugar no Conselho de Segurança da ONU, se sequer conseguimos ter respeito no nosso quintal. Já que o (des) governo lula não consegue ajudar a Petrobrás, que então fique calado e não dê mais declarações ridículas como as do início da semana passada.

Orkut ou nao?

Durante os meus 30 anos de trabalho na área de informática, por diversas vezes recebi consultas de amigos e parentes como do tipo: “que computador devo comprar?”, “qual o melhor programa para fazer isso ou aquilo?”, “como tiro vírus?”, etc. Entretanto, recentemente a pergunta mais comum é: “devo deixar meu filho usar o Orkut?”.

A explosão do uso do Orkut no Brasil evidenciou ainda mais o problema, uma vez que adultos e crianças agora podem rápida e facilmente, sem maiores conhecimentos técnicos, criar suas próprias páginas na internet e compartilhá-las com outros internautas.

A questão não se resume apenas a usar ou não o Orkut - sendo bem mais abrangente, devendo ser abordada por partes:

(I) Orkut: Pessoalmente, não gosto. A idéia de reunir amigos é boa, mas desandou numa exposição extremada, cada um buscando seus 15 segundos de fama.

O xis da questão é: devemos incentivar esta super exposição? Devemos viver num BBB on-line? Não creio que para uma criança ou para um adolescente seja positivo entrar na moda de se expor. Por outro lado, reconheço a dificuldade em evitar totalmente pois, como eles próprios dirão, “todo mundo usa e tem” (e se não usarem em casa, o farão na casa de algum amigo).

Temos ainda a questão da segurança. Mesmo com tanta paranóia, muitos falsos alarmes circulando, não vale arriscar demais. Imagine um advogado que ganhe uma ação de divórcio e o marido da cliente, vencido e muito aborrecido, resolva se vingar dele? Ou um funcionário demitido, achando que o patrão foi injusto, resolva dar o troco?
As informações sobre a família dos seus desafetos estão todas lá no Orkut: nomes, fotos das crianças, da casa, nome da escola, nome dos amigos e muito mais.

Improvável, mas não impossível.

(II) Internet de uma forma geral (incluindo comunicadores instantâneos como AIM e MSN): A internet é um espelho do mundo em que vivemos. Há muitas coisas boas, e muito lixo também. Assim como existem tanto os bairros com lugares e ruas seguras quanto os bairros mais “barra pesada”, a internet tem sites bons e sites ruins. Pessoas boas e pessoas ruins.

Você poderia prender seu filho ou sua filha em casa e não deixá-los ir à rua? Quando eles estiverem com 16, 18 anos, você terá como evitar (ou até como saber) que eles visitem um lugar perigoso com um amigo ou amiga, nem que seja por curiosidade? Não tem como. Da mesma forma, você não terá como evitar que eles naveguem a vontade pela internet e caiam num site ruim, até mesmo por acidente.

Até aqui não foi respondida a pergunta principal: “devo deixar meu filho usar o Orkut?”

Então, como profissional da área, mas, principalmente, como pai de dois adolescentes que “sobreviveram” na internet, creio não ser possível remar contra a corrente. Impensável colocar os filhos numa redoma para evitar que se envolvam em encrencas, se machuquem, sofram ou façam besteiras. Como podemos contribuir? Explicando, prevenindo, ajudando, ensinando e monitorando.

Sugiro conversar com os seus filhos para explicar os riscos da internet. Seja bem claro e específico, do contrário eles não entenderão, achando que há exagero dos pais, fingindo que escutam mas na prática não interiorizando a idéia.

Normalmente as pessoas (e principalmente as crianças) tendem a acreditar e confiar em tudo que aparece no computador, afinal é através dele que obtemos várias informações. É preciso despertar neles a desconfiança, o sentido de ficar alerta. Explique: 1º) NUNCA colocar dados pessoais que permitam identificação, tais como nome completo, endereço e telefone; 2º) NUNCA se comunicar por e-mail ou mensagem instantânea com quem não conhecem, nem que a pessoa do outro lado alegue ter 10 anos, ou ser amiga de fulano; 3º) NUNCA entrar em links enviados por e-mails de desconhecidos (é melhor nem abrir esses e-mails).

Explique aos filhos que usar a internet não é um DIREITO deles, e sim um PRIVILÉGIO que pode ser cortado a qualquer momento (da mesma forma que ir passar o fim de semana na casa de um amigo não é direito e sim uma concessão dos pais, normalmente revogada quando fazem algo de errado).

Deixe bem claro que você monitorará os sites visitados, as páginas deles no Orkut, os e-mails e as mensagens instantâneas, não porque queira bisbilhotar a comunicação (muito cuidado para não cair na tentação), mas sim para ter certeza de que eles estão seguros e para poder corrigir o rumo caso algo não esteja certo. Explique que, à medida que eles forem aprendendo a utilizar as ferramentas e os procedimentos com segurança, sem que se exponham, você ficará mais tranquilo e progressivamente diminuirá a monitoração.

Você deve manter uma postura de quem está disposto a ajudar ao invés de policiar. Assim, eles buscarão o seu apoio e não agirão às escondidas. Você poderá até ajudá-los a construir a página no Orkut, ou fazer uma para você e mostrar a eles, agindo como modelo.

Lembre-se: a criança observa e se espelha no modelo dos pais. Não adianta dizer uma coisa e fazer outra.

Tente fazê-los entender que isso é para o bem deles. Faça a analogia da bicicleta: quando eles estavam aprendendo a andar de bicicleta, você segurava e não deixava que andassem sozinhos, não porque você não quisesse que andassem sozinhos, mas porque você não queria que caíssem e se machucassem. À medida que demonstraram equilíbrio, você foi soltando e deixando irem sozinhos. Lógico que às vezes eles caíam, mas o tombo também fez parte do aprendizado.

Sei que isso é difícil, porque temos que passar para uma criança uma desconfiança de adulto. Não vejo outra maneira. Hoje as crianças estão muito mais expostas ao mundo adulto via TV e internet e, infelizmente, temos que ‘matar’ um pouco da inocência delas para que criem anticorpos suficientes e possam crescer saudáveis, fazendo as escolhas corretas.

Encerro desejando boa sorte – sempre ajuda...