quinta-feira, julho 20, 2006

Viajando sem sair do lugar

Agora que a Copa do Mundo acabou (não, não vou falar sobre isso!), o Olho Grande volta a ficar bem aberto, olhando para o mundo à nossa volta e comentando sobre o que vê.

Mas, antes que eu diga o que vejo, gostaria de convidar você a fazer uma “viagem” comigo. Pode ficar tranquilo(a): este blog não consome drogas e a viagem não é lisérgica...

Feche os olhos e imagine que você está na sua casa, cuidando da sua própria vida, quando seu vizinho bate na porta e diz que vai expulsar você da sua casa. Você é uma pessoa sensata e resolve conversar com ele, para tentar entender o que está havendo.

O seu vizinho então argumenta que a sua casa, que você herdou do seu pai, que herdou do seu avô e que pertence à sua família há várias gerações, na verdade deveria ser dele. Você não consegue entender, já que você mora numa casa pequena, sem muitos atrativos, num terreno pobre, enquanto o seu vizinho mora numa casa enorme, com terreno riquíssimo, que fica junto a outras casas imensas que pertencem a parentes dele.

Seus argumentos não funcionam e seu vizinho sai jurando que vai expulsar você. Você liga para a polícia, mas ela diz que está muito ocupada para proteger você e sua família. No dia seguinte, seu vizinho agride seus filhos. Preocupado com a violência, você compra uma arma para se defender.

Seu vizinho chama a família dele, que é bastante numerosa, e começam a jogar pedras nas suas vidraças. Cercado, em inferioridade numérica, assustado, você não tem outra alternativa a não ser usar a sua arma. Seus vizinhos nem assim param e ainda por cima chamam a polícia alegando que você atirou na direção deles. A polícia avisa que você está agindo com violência desproporcional e exige que você imediatamente pare de usar a sua arma.

A polícia vai embora e seus vizinhos recomeçam a jogar pedras. Como você não reage, eles tomam coragem e invadem seu quintal, colocando fogo nas suas poucas árvores. Seguindo a determinação da polícia, você continua não reagindo e tentando negociar para que eles fiquem com o quintal mas deixem a sua casa e família em paz. Eles não aceitam. Respondem que não vão sossegar enquanto não eliminarem você e toda a sua família.

Durante a noite, enquanto você dormia, eles arrombam a porta dos fundos e raptam um de seus filhos. Ao acordar, você descobre o que aconteceu e tenta negociar a devolução dele. Eles fazem demandas absurdas, que sabem que você não pode e nem tem como aceitar.

Temendo pela sorte de seu filho, você toma coragem e, armado, vai até o terreno do seu vizinho para resgatá-lo. Neste momento, seu celular toca e é a polícia, mais uma vez avisando que você não pode usar a sua arma, pois mulheres e crianças da família do seu vizinho podem morrer no fogo cruzado. O que fazer?

Já que estamos “viajando”, vamos dar um pouco mais de asas à imaginação. Imagine uma situação em que a Argentina patrocinasse um grupo de criminosos, fornecendo armas e dinheiro para que eles se instalassem no Paraguai, na fronteira com o Brasil. Nesta situação hipotética, aproveitando que o Paraguai fingia que não via, os criminosos então passassem a atirar mísseis atingindo a população do Rio, São Paulo e até mesmo Brasília. Qual seria a sua reação?

Tenho certeza que o Brasil iria exigir que o Paraguai fizesse o seu dever de casa e cuidasse direito do seu lado da fronteira, ao mesmo tempo em que as forças armadas brasileiras se mobilizariam para defender a integridade do país e dos brasileiros, ameaçando não só o Paraguai, como também a Argentina caso os criminosos não fossem contidos.

Você deve estar pensando que eu enlouqueci, ou que estou sem um mínimo de criatividade e assunto, para inventar umas histórias tão sem pé nem cabeça com essas. Eu aceito a acusação de falta de criatividade, porque eu não inventei estas histórias. Elas estão nas manchetes dos jornais. Não lembra? Vou ajudar dando o nome dos personagens.

Na primeira história, o morador da casa pequena chama-se Israel. A família que mora nas casas grandes chama-se Árabes. O vizinho que sequestrou seu filho chama-se Hamas ou Hisbolá (cada dia ele assume uma identidade diferente). A polícia chama-se ONU.

Na segunda história, o Brasil faz o papel de Israel, a Argentina o da Síria e o Paraguai o do Líbano.

Eu fiz estas adaptações porque parece que as pessoas estão com mais facilidade de entender a ficção do que a realidade. O mundo não está sabendo reagir a uma situação que, ainda que não seja nova, está a cada dia mais clara: os radicais muçulmanos estão numa guerra santa, não contra Israel, mas contra a civilização ocidental.

Hoje, o inimigo da vez (até porque é o de mais fácil apelo) é Israel em primeiro lugar e os Estados Unidos em segundo. Mas, amanhã pode ser a Inglaterra, Alemanha, Japão, ou até o Brasil (vide o caso da Dinamarca / caricaturas). Basta que eles arrumem um motivo qualquer.

A população dos países árabes, de uma forma geral, vive numa realidade à parte, por falta de educação e informação, e por excesso de manipulação e fanatismo. Os dirigentes, muitas vezes disfarçados de líderes religiosos, usam a religião como pretexto e o povo como massa de manobra para atingir os seus objetivos nocivos, com isso mascarando a situação de pobreza e ignorância de um povo que pisa em terras riquíssimas de petróleo mas sequer tem o que comer.

Portanto, é mais fácil culpar Israel e os Estados Unidos, do que usar os royalties do petróleo para construir escolas, hospitais, casas, tirar o povo da idade média e trazê-los para o mundo globalizado do século 21.

Os atentados de 11 de setembro marcam o início de uma nova era, ainda que muitos não tenham percebido. Até então, os radicais muçulmanos tinham o ódio, mas não tinham a organização, a união e a audácia para agir em larga escala contra o ocidente. Eles estavam treinando, se preparando, nas Intifadas contra Israel, nos atentados contra embaixadas americanas, nas areias do Líbano e nas cidades da Faixa de Gaza.

Hoje, contando com apoio logístico e financeiro declarado de países como Síria e Irã, com o apoio velado de outros países que fazem jogo duplo (como a Arábia Saudita) e com a indiferença do resto do mundo, eles estão cada vez mais fortes e cada vez mais ambiciosos.

O que acontece hoje em Gaza e no Líbano, simultaneamente, não é mera obra do acaso. É sim, mais um teste para avaliar a resolução do mundo. A união, que na época da segunda guerra mundial juntou quase todos os países contra a ameaça nazista, hoje não existe. Pelo contrário, o que se vê são críticas a Israel e aos Estados Unidos por enfrentarem corajosamente o terrorismo, e simpatia dirigida aos terroristas (“os pobre coitados”), expressa em declarações, artigos nos jornais e cartas de leitores que tentam até justificar crimes absurdos como os perpetrados em 11 de setembro de 2001.

A realidade, ainda que seja dura e difícil de ser aceita, tem que ser encarada antes que seja tarde demais: não há como fazer a paz com alguém cujo único objetivo seja a eliminação completa do seu oponente. Não há como ser bonzinho, compreensivo e tolerante enquanto mísseis são atirados a esmo na direção de cidades. Não há como negociar com países que toleram e até incluem no corpo governante pessoas associadas ao terrorismo. Não há como usar regras normais de guerra, quando o seu inimigo não é um exército regular e usa civis como escudo. Não há como aceitar como normal que alguém enrole quilos de explosivos no corpo, entre numa discoteca lotada de jovens se divertindo e faça tudo explodir, inclusive a si mesmo, achando que irá para o paraíso viver na companhia de 80 virgens...

Termino este artigo com um poema escrito pelo Pastor Martin Niemöller no século passado, mas que a cada dia, infelizmente, fica mais atual:

Primeiro eles vieram pelos judeus
E eu nada falei
Porque eu não era um judeu.
Depois eles vieram pelos comunistas
E eu nada falei
Porque eu não era um Comunista.
Depois eles vieram pelos sindicalistas
E eu nada falei
Porque eu não era um sindicalista.
Então eles vieram por mim
E não havia mais ninguém
Para falar por mim.