sábado, novembro 03, 2007

O Grande Complô

Há cerca de onze meses eu escrevi o meu último artigo, intitulado “Preguiça”. Coincidentemente ou não, desde então não consegui escrever mais nada – dava uma preguiça...

Não é fácil vencer a inércia, ainda mais quando se tem a responsabilidade de escrever algo que tenha algum significado para quem escreve e para quem lê. Hoje a informação – importante ou banal, está nos jornais, revistas, TV e internet, 24 horas por dia, 7 dias por semana. A gente tem uma overdose de informação e, de certa forma, acabamos ficando um pouco anestesiados, menos sensíveis aos dados e notícias que recebemos. É como o cheiro de um perfume que usamos todos os dias: depois de um tempo já não sentimos mais.

Hoje resolvi combater a preguiça e escrever sobre uma coisa que acho da maior importância (espero que você também ache) e que está muito relacionada à quantidade e à qualidade da informação que recebemos.

Recentemente assisti a um filme chamado “Zeitgeist, the Movie” (pode ser assistindo integralmente em http://www.zeitgeistmovie.com/. Está em inglês, mas tem a opção de legenda em espanhol).

Zeitgeist é uma palavra em alemão e significa "espírito da época", espírito ou atmosfera de um período específico da história, características intelectuais e culturais de uma era.

Sem estragar a história para quem for ver, o filme tenta mostrar que ao longo do tempo e de acordo com as características da época, as pessoas foram controladas e manipuladas por entidades que tinham interesses diferentes daqueles publicamente declarados. O filme começa falando de religião, passa por economia e termina abordando o terrorismo.

O filme é relativamente bem feito, com argumentos aparentemente válidos. No site inclusive há a relação das fontes usadas, o que dá um caráter de legitimidade ao que é dito.

Acabei de ver o filme meio chocado, pois ficou aquela sensação de quem foi (e está sendo) enganado esses anos todos sem nunca ter percebido nada, apesar de tão óbvio. Fui então para a internet pesquisar mais sobre os assuntos abordados. Aí veio o segundo choque: várias afirmações feitas parecem não ter fundamento!

Alerta: A partir desse ponto, talvez seja melhor você parar de ler este artigo e só continuar depois de ter assistido o filme, pois pode acabar estragando o impacto do mesmo e influenciar a sua opinião a respeito do que é mostrado.

O filme começa até bem, mostrando a influência que a visão do céu, do sol, da lua e das estrelas teve nas culturas da antiguidade, nos ritos pagãos e como as religiões incorporaram e transformaram estes ritos.

O filme então mostra como o cristianismo absorveu muitas coisas das religiões pagãs e tenta então mostrar que Cristo talvez nem tenha existido. Os argumentos são fortíssimos e impressionam.

Entretanto, ao pesquisar na internet, usando fontes sérias e estudos mais elaborados, me parece que o filme usou um fato concreto (a clara influência das religiões pagãs), para chegar a uma conclusão forçada (que Cristo sequer existiu). Muitos dos argumentos usados não parecem ter fundamento histórico e parecem uma tentativa desesperada (e muitas vezes bem sucedida) de criar no espectador aquele clima de desconfiança e de complô.

Em seguida, o filme mostra como a economia aos poucos assumiu o lugar da religião no controle das pessoas. O filme, mais uma vez, usa fatos concretos como a criação do Federal Reserve nos EUA, a abolição do padrão-ouro nos meios financeiros e a manipulação dos mercados, para chegar à conclusão de que há um plano por trás disso tudo que visa a criação de um governo mundial.

O filme tendenciosamente tenta usar fatos positivos, como a globalização e a abertura de mercados para justificar um suposto complô armado por um grupo de elite. Este grupo estaria visando o controle do mundo, através da eliminação dos países como entidades soberanas e independentes, e da criação de um governo central, de âmbito global, com controle total sobre a liberdade e a vida das pessoas, tal como um Big Brother (não é o programa e sim a entidade Orwelliana) global, onipresente e onisciente.

Para reforçar essa idéia, o filme então dá a cartada final e “mostra” como os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos nada mais foram do que um complô do governo americano!

Ora, eu também acho que as religiões de certa forma controlam as pessoas. Este controle pode ter gerado muitas coisas ruins, tais como as Cruzadas, a Inquisição, a intolerância religiosa e a idéia de que “o meu Deus é melhor que o seu”. Mas, não se pode negar a influência positiva que as religiões tiveram ao ensinar conceitos de ética, respeito, compaixão, convivência e de servir de pilar para toda a cultura existente, seja ela ocidental ou não.

Que o mercado financeiro sempre visou a maximização do lucro, não é novidade nenhuma. Que os grupos financeiros sempre procuraram influenciar os governos e as leis, até um ingênuo sabe. Mas, daí a imaginar que um grupo de “entidades pardas” estaria por trás dos eventos contemporâneos mais importantes, tais como as guerras mundiais, a guerra do Vietnam, o assassinato de Kennedy e a criação da ONU como instrumentos visando a criação de um governo único mundial, me parece um pouco de exagero.

Por fim, achar que 11 de setembro foi um complô do governo e não um ato terrorista, chega a ser desrespeito aos milhares de mortos nos atentados. Imagine a quantidade de pessoas que teria que estar envolvida no planejamento e na execução de tal complô. Estamos falando de centenas ou talvez de milhares de pessoas, todas com famílias, amigos e vizinhos. Será que nenhuma delas teve uma crise de consciência? Será que um segredo tão grande e chocante conseguiu ficar tão bem guardado até hoje, sem vazar?

O filme tenta provar também que os aviões que caíram na Pensilvânia e no Pentágono na verdade nunca existiram. Ora, então cadê os aviões, os tripulantes e os passageiros? Será que foram seqüestrados por marcianos?

Prefiro acreditar que o governo americano agiu de forma incompetente, sendo pego totalmente de surpresa e despreparado, principalmente em função da arrogância e do mito de que o território dos Estados Unidos era inatingível. Lembre que os EUA sempre enfrentaram as guerras fora de casa, nunca em seu próprio território, desde a revolta contra os domínio colonial inglês e a declaração de independência.

Concordo que o terrorismo está sendo usado em muitos casos como desculpa ou oportunidade para limitar as liberdades individuais. Concordo que talvez 11 de setembro pudesse ter sido evitado. Mas, não consigo concordar que tudo isso faça parte de um plano maior, maquiavélico e diabólico, para nos controlar e escravizar.

Acho que a humanidade nem sempre seguiu um caminho virtuoso – a Idade Média e a Alemanha nazista estão aí para nos mostrar isso, mas depois de um tempo a rota é corrigida e o caminho correto é retomado: depois da Idade Média veio o Renascimento, com um impulso vigoroso nas artes e ciências. Depois da Alemanha nazista o conceito de democracia e de combate ao racismo (que até então era considerado normal) tomou força – a criação de Israel está aí como prova viva.

Evidentemente que não vivemos em um mundo perfeito. Longe disso. Mas, prefiro acreditar que o mundo em que meus filhos e netos viverão será melhor do que aquele em que vivo, senão os conceitos de evolução e de continuidade perdem o sentido. E, sem eles, a própria vida fica vazia, sem objetivo, sem valor.

Prefiro acreditar que a gente existe por um motivo, que a nossa vida tem um significado maior e que este sim é o grande complô – criado por Deus.