sexta-feira, fevereiro 06, 2009

A Crise e os Círculos

Como moro nos EUA, a pergunta que mais ouço atualmente quando falo com alguém no Brasil é: “E a crise?”. Dá vontade de responder “vai bem, obrigado” já que essa não é uma pergunta fácil de responder com seriedade.

Eu não sou economista, mas entendo bastante de economia, pois venho há anos tentando economizar para manter o meu orçamento doméstico. Não tenho experiência nenhuma de mercado de capitais, mas conheço bem o comportamento sempre crescente dos preços no supermercado.

Portanto, acho que tenho PhD em crises, já que faço parte da famosa classe média, que a cada dia perde mais a classe e se torna cada vez menos média...

No meu limitado entendimento, acho que a economia de certa forma anda em círculos, e o círculo pode ser virtuoso ou vicioso.

No círculo virtuoso, as empresas produzem e vendem, contratam mais gente, os contratados consomem, o que gera mais demanda e com isso as empresas continuam produzindo e vendendo. Essa é a situação ideal, apesar de sempre existir o risco de um desequilíbrio entre oferta e procura, o que tende a gerar aumento de preços e inflação.

No círculo vicioso, as empresas vendem pouco, cortam a produção e demitem funcionários. Os demitidos, ou não encontram colocação no mercado, ou encontram ganhando menos. Com isso, consomem menos, o que leva as empresas a vender menos. O risco nesse caso é recessão, desemprego e crise social.

Do ponto de vista de governo, o círculo virtuoso é bom, porque a economia cresce, gerando mais impostos e bens, criando emprego para as pessoas jovens que estão chegando ao mercado, e permitindo a criação (teoricamente) de uma poupança interna. Logicamente, o governo tem que ficar atento à inflação, pois esta destrói todos os ganhos e aos poucos mina a economia como um todo.

Já o círculo vicioso é ruim para os governos, porque há perda de arrecadação e aumento de despesas, com mais gente tendo que buscar seguro-desemprego, assistência social, etc., além da redução do produto nacional bruto e o conseqüente "empobrecimento" do país.

Como sabemos desde o tempo dos faraós, o certo seria economizar na época das vacas gordas, para sobreviver na época das vacas magras. Só que a coisa é mais complicada:

1- Governo nenhum tem sobras (o chamado superávit) para economizar. Todos têm dívidas, porque é muito mais popular fazer obra, assistencialismo, ou até abaixar imposto do que guardar dinheiro. Vide a situação da previdência social no Brasil, nos EUA, e pelo mundo afora.

2- As pessoas sempre querem viver acima de suas possibilidades, porque se criou uma mentalidade de consumo. Como resultado, haja financiamento, cheque pré-datado, cartão de crédito, endividamento. Se gasta primeiro para ver como pagar depois (como e quando der). Com isso, não há sobras para sobreviver na época do aperto.

Voltando então à crise americana (que acaba refletindo no resto do mundo): o que está acontecendo aqui é o círculo vicioso, depois de um longo período de círculo virtuoso.

De uma forma simplista, o último grande círculo vicioso nos EUA foi a Depressão da década de 30. De lá para cá, exceto alguns pequenos períodos de pouco ou nenhum crescimento, viveu-se um círculo virtuoso, com a economia expandindo, empregos sendo gerados e cada geração vivendo melhor que a anterior. Isso ficou bem evidente no período após a Segunda-Guerra Mundial e no período do governo Clinton.

No final do governo Clinton, a grande discussão era o que fazer com o superávit do governo! 8 anos e um desgoverno Bush depois, o país enfrenta um déficit interno e externo recordes e não parece haver solução para enfrentar uma recessão que piora a cada dia.

O povo americano, endividado como sempre e desabituado a ter que apertar o cinto, espera algum milagre ou mágica por parte do governo (ainda mais um governo novo como o do Obama), mas não há mágica que resolva uma situação tão grave da noite para o dia.

Logicamente, eu não tenho a solução para a crise, senão ficaria rico tirando proveito desse conhecimento ou então dando consultoria. Mas, acho que é básico a médio e longo prazo haver uma mudança de mentalidade passando de um modelo de consumo para um modelo de moderação, o que creio ser quase impossível, porque a geração seguinte nunca quer ser “mais pobre” que a anterior. Além disso, seria criado um paradoxo: a moderação do consumo, neste momento, iria apenas estender ainda mais o círculo vicioso e a recessão.

Uma alternativa seria dar um choque na economia, tentando fazer com que ela “pegue no tranco” e se mantenha aquecida, gerando uma pirâmide de prosperidade e entrando num círculo virtuoso. Esta opção é a que o governo americano está tentando, mas acho que de forma equivocada.

Infelizmente o que se vê são pacotes (bailouts) para os bancos, para as montadoras de veículos e para quem mais tiver um lobby forte, que apenas deixarão o governo (leia-se contribuintes) mais endividado, ao invés de medidas que criem empregos imediatamente, que melhorem a infra-estrutura (leia-se produtividade, eficiência e patrimônio) do país e que não se percam nos meandros da burocracia do governo ou nos bolsos das empresas.

Enfim, acho que essa crise vai ser um grande desafio para todos, principalmente para aqueles que vivem de salário, não têm para onde correr e nem lobby os defenda. Neste caso, resta apenas desabafar escrevendo num blog...

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Paintball

Acho que todo mundo sabe o que é paintball. Mas, para aqueles desavisados que quando crianças só brincaram de revolver de água, aqui vai a definição (obrigado, Wikipedia):

O Paintball é um esporte que consiste de um jogo onde duas ou mais equipes competem entre si, usando armas de bolas que soltam tinta ao atingir o adversário. O objetivo é apanhar a bandeira do outro grupo, na forma mais popular do jogo, e quanto mais adversários forem eliminados mais fácil fica de completar o objetivo.

Ou seja, o objetivo é “matar” o adversário dando um tiro de tinta nele. Simples...

Feitas as devidas apresentações, vamos agora ao assunto desse artigo, que são as acusações vindas de todas as partes do mundo de que Israel está empregando “força desproporcional” em Gaza.

Como esse blog não podia perder a chance de surfar na onda do politicamente correto, aproveitamos então para sermos os primeiros no mundo a lançarmos a campanha para que Israel passe a combater os terroristas com... armas de paintball!

Vocês hão de convir que a idéia é fantástica. Acabaria com vários problemas:

1- Os terroristas poderiam continuar lançando foguetes diariamente, durante o dia todo, sem serem incomodados.

2- Iriam morrer muito mais israelenses do que palestinos, aplacando a ira mundial que reclama que estão morrendo mais palestinos que israelenses. Poderiam até colocar um placar enorme, com resultados instantâneos transmitidos pela TV e pela internet, mostrando quantos israelenses estarão morrendo por dia. A ONU teria a responsabilidade de, como a entidade absolutamente neutra e honrada que é, definir de antemão a quota mínima diária aceitável de israelenses que teriam que morrer. O Lula lançaria até uma Loteria, cujo lucro reverteria para mais algum programa assistencialista e para o fundo de reeleição para o terceiro mandato, onde ganharia quem acertasse o número de israelenses mortos na semana. Os resultados seriam anunciados no domingo, no Fantástico, ou no Faustão, já que o Silvio Santos é judeu e suspeito.

3- O Irã iria desistir de conseguir armas nucleares, já que para varrer Israel do mapa bastaria qualquer arma, nem que fosse estilingue e arco e flecha. O mundo poderia finalmente respirar em paz.

4- Israel não seria mais taxado de estado nazista, já que as tropas de Hitler nunca tiveram a brilhante idéia de usarem paintball para combater as forças aliadas ou para as torturas e assassinatos nos campos de concentração.

5- Os terroristas poderiam deixar as crianças muçulmanas crescer como crianças, pelo menos brincando com paintball, ao invés de brincarem com armas de verdade.

6- Não mais assistiríamos a cenas horríveis na Al Jazeera de crianças e mulheres ensangüentadas ou mortas, porque os terroristas não iriam mais precisar usá-las como escudos humanos e nem esconder armas em mesquitas, escolas e hospitais, ou usar ambulâncias para transportá-las.

7- Os Estados Unidos continuariam a ser chamados de império capitalista demoníaco por fornecer as armas de paintball para Israel, mas poderiam ceder o controle da tinta para a OPEP, que então “regularia” o preço de forma justa, visando o bem da humanidade, como já faz hoje com o petróleo.

8- Gaza se tornaria um lugar alegre e viraria atração turística, com visitantes do mundo inteiro querendo ver a profusão de cores geradas pelos tiros de paintball em suas ruas, casas e muros. Haveria uma votação na internet para incluir Gaza entre as maravilhas do mundo moderno.

Logicamente, como em qualquer solução, por melhor que seja, logo apareceria algum espírito de porco reclamando (provavelmente a França ou uma ONG), dizendo que a tinta dos paintball está sujando a roupa dos coitados dos terroristas, que estão sem dinheiro para a lavanderia. A Cruz Vermelha e outras entidades de assistência fariam coletas de roupas e de dinheiro para ajudar a manter os terroristas limpinhos.

Os aiatolás diriam que Israel está usando tinta impura, porque os infiéis querem profanar o Islã e declarariam um novo Jihad contra o demônio sionista e o contra o império americano até que Israel passe a usar armas que disparem apenas ar.

Por fim, vencidos, os israelense que sobrassem não teriam escolha a não ser ir novamente para a diáspora. Não satisfeitos, os países árabes, reunidos em Damasco, exigiriam a imediata retirada da Palestina ocupada, alegando que o conjugado no Barata Ribeiro 194 (antigo 200), onde o que tiver restado do Estado de Israel teria se estabelecido, havia pertencido a um descendente de Maomé...