quarta-feira, junho 20, 2012

Diários de Viagem: 8 - Na Área do Mar Morto

Dia de ir embora de Jerusalém. Se por um lado estávamos com pena porque tínhamos gostado muito da cidade, por outro estávamos ansiosos e curiosos com o que ainda estava por vir, pois agora começaria a nossa aventura cruzando de carro Israel todo, primeiramente rumo ao sul e depois ao norte.

Café da manhã tomado e, como ainda era cedo, subimos a rua do hotel, pois na noite anterior um casal de israelenses que estava jantando numa mesa próxima à nossa nos deu a dica de que às sextas-feiras há uma feira de artesanato na rua. A feira era bem comprida e havia muita coisa, mas nada que nos interessasse.

De volta ao hotel, fechamos as malas, deixamos na recepção e fomos pegar o carro que estava reservado. A locadora ficava a uns 20 minutos andando, próxima ao hotel King David. No caminho, passamos pela Grande Sinagoga de Jerusalém mas não entramos porque àquela hora parecia estar fechada.

Grande Sinagoga de Jerusalém

Depois do GPS do celular ter se perdido e termos que perguntar a algumas pessoas no caminho, passamos pelo Hotel King David, que é bem grande e um dos mais caros de Jerusalém, finalmente chegamos na locadora. O atendimento foi demorado e confuso (serviços em Israel parecem ser meio enrolados), o que já não era um bom sinal. Quando fomos pegar o carro, estava com quase 80 mil km rodados, com vários amassadinhos e arranhões. Pedi outro, mas não tinha. Resignados e sem opção, saímos com ele mesmo.

Pegamos as malas no hotel e fomos embora. A saída de Jerusalém foi complicada: o GPS se perdeu, a gente entrou no lugar errado, acabamos dando umas 3 voltas em torno da cidade velha até acharmos o caminho certo, tudo isso no meio de um trânsito péssimo, o que atrasou bastante.

O problema é que Israel passou algumas áreas da Cisjordânia para o controle da Autoridade Palestina e, ou o GPS tenta fazer o caminho passando por essas áreas, o que não é desejável (locadoras não permitem uso dos carros alugados nestas áreas, por não serem seguras), ou o mapa dos GPS não reconhecem que determinadas estradas, apesar de passarem por essas áreas, estão sob controle de Israel e portanto não há problema.

Caminho de Jerusalém para o Mar Morto
As estradas que levam de Jerusalém para a região do Mar Morto (rodovias 1 e 90) estavam nesse segundo caso e a muito custo conseguimos entrar na 1. Como Jerusalém está mais para o centro, pegamos a rodovia 1 para leste, na direção do Mar Morto e depois seguimos para sul, margeando o Mar Morto, pela rodovia 90.

O caminho é muito interessante, cruzando o Deserto da Judéia. Vermos o Mar Morto pela primeira vez foi uma emoção, já que na 90, de um lado fica o Mar Morto e do outro o deserto, com montanhas de areia. Como não há vida no Mar Morto e pouca vida visível no deserto, parecia que estávamos em outro planeta, mas a paisagem tem uma beleza especial que as fotos não conseguem captar inteiramente.  

No cruzamento da 1 com a 90 havia um posto de gasolina daqueles de parada de ônibus que vendem de tudo e, como estava muito calor, paramos para comprar uma água e aproveitei para comprar um chapéu de palha, acessório que seria essencial nesta região. Lá vimos um camelo que, eu tenho certeza, estava sorrindo para a gente. Confira as fotos do caminho e do camelo aqui.

O Mar Morto (que na verdade é um grande lago salgado) fica a mais de 400 metros abaixo do nível do mar, sendo o ponto mais baixo na superfície da Terra. Por isso, a densidade de oxigênio no ar é bem maior que o normal, o que facilita a respiração e naturalmente filtra os raios ultra-violetas do sol, limitando a necessidade de protetor solar. Ele tem esse nome porque como a concentração de sal na água é quase 10 vezes maior que a dos oceanos, nada consegue viver nele. Surpreendentemente, há poucas praias (leia-se, lugar onde não é proibido entrar na água), sendo a mais famosa a de Ein Bokek, onde tem vários hotéis.

Como Ein Bokek fica lotada de turistas, optamos por ir para a Praia Mineral (Mineral Beach), que é mais usada por israelenses. A praia fica na área de um Kibbutz e da fábrica Ahava de produtos de beleza do Mar Morto. A praia não estava muito cheia e é bem organizada: você paga um ingresso e desfruta de infraestrutura que inclui vestiários, chuveiros, cadeiras, etc.

Entrar na água do Mar Morto foi uma experiência estranha no início, porque é impossível afundar. Logicamente você não pode mergulhar ou molhar o rosto e qualquer feridinha na pele arde bastante. Quando você entra pela primeira vez é muito esquisita a sensação de flutuar em qualquer posição, mas aos poucos você vai acostumando. Curtimos bastante a novidade.

Em algumas áreas do Mar Morto tem uma lama que dizem ser boa para pele. Nessa praia não tinha, mas eles traziam tonéis com lama. A lama tem a consistência quase como de massa de modelar. A gente passa no corpo e deixa secando ao sol por 20 minutos, criando uma crosta e depois tira numa das duchas. Sentimos a pele um pouco mais macia depois, mas pode ser efeito placebo. O que interessa é que deram umas fotos ótimas. Veja aqui.

De lá, continuamos na direção sul, ainda margeando o Mar Morto e o deserto. O plano original era irmos para Ein Gedi, que é um oásis próximo, mas já estava tarde então deixamos para o dia seguinte. Assim, seguimos para Ein Bokek e sentamos no restaurante Hordus, do lado de fora, em frente ao mar. Estava muito agradável, pois o sol estava se pondo, o calor tinha diminuído e estávamos bem relaxados depois do banho de mar. Ainda tinha muito movimento, com gente acampando na areia, tocando música, tomando banho no mar. Veja algumas fotos tiradas no caminho e no restaurante clicando aqui.

Matada a fome, continuamos para o sul, até onde o Mar Morto termina. O nosso hotel era em uma pequena cidade/comunidade agrícola (moshav em hebraico) chamada Neot Hakikar. Escolhemos este local, não só pela proximidade do Mar Morto e de Massada (nosso programa para o dia seguinte), mas também porque queríamos experimentar algo mais local, diferente de hotéis de cadeia. Esse moshav fica literalmente na fronteira com a Jordânia e tem uma base de treinamento do exército lá. É uma fronteira calma, pois Israel e a Jordânia assinaram acordo de paz há muitos anos.

Embora chegamos facilmente ao moshav, depois de passarmos pelo portão de acesso controlado por um soldado, achar o hotel foi meio difícil, pois já era noite e as instruções não eram claras. Com a dona do hotel ao telefone com a Vivian (que podia ligar grátis para Israel) durante vários minutos e a Vivian mandando torpedos para a gente, finalmente chegamos. A dona A dona ficou muito surpresa ao saber que a Vivian estava ligando de New York e não de Israel...

Fomos muito bem recebidos, mesmo sendo tarde. A dona tinha preparado um prato de tâmaras da própria plantação dela e o chalé era muito bonito, confortável, espaçoso. Dormimos bem e no dia seguinte de manhã, antes de irmos embora, andamos um pouco pelo moshav, vendo as plantações (impressionante como conseguem fazer crescer tomate, pimentão, melancia e muito mais coisas naquela areia de deserto) e até mesmo arame farpado e campo minado na fronteira! Veja as fotos aqui.     

Mas, o dia seguinte é assunto para o próximo artigo, quando visitamos Massada, o oásis de Ein Gedi e seguimos para o deserto do Neguev.


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sexta-feira, junho 15, 2012

Diários de Viagem: 7 - Em Jerusalém (dia 3)

Mais um dia de muito sol e calor. Depois do habitual café da manhã israelense, pegamos um taxi com destino ao Monte das Oliveiras. Vários guias de viagens que lemos alertavam para tomar cuidado com os motoristas de taxi em Jerusalém, mas ou demos sorte, ou os guias exageram. O motorista era um senhor muito educado, falava inglês (como a maioria dos israelenses), foi batendo papo  e até deu dicas para o caminho de retorno.

O Monte das Oliveiras fica numa vizinhança predominantemente árabe e lá em cima não tem muito movimento além do de turistas. O local, além de ter uma privilegiada vista panorâmica, é importante para o judaísmo e para o cristianismo.

Para o judaísmo, porque no Monte há um cemitério judaico de mais de 3 mil anos, que é usado até hoje (deve ser o cemitério mais antigo em operação), com cerca de 150 mil túmulos. Parte foi destruída durante o domínio jordaniano. Muitos querem ser enterrados nele não só por tradição mas também porque na Bíblia há uma passagem que diz que quando o Messias chegar, a ressurreição dos mortos começará por lá.

Para o cristianismo, porque de acordo com o Novo Testamento, Jesus ascendeu a partir do Monte das Oliveiras, além de por um tempo ter sido o local onde ele ensinava e pregava aos discípulos, e onde ele passou a noite antes de ser preso e crucificado.

Havia muitos ônibus de turismo com vários grupos e ventava bastante. Tiramos muitas fotos, com vistas para a cidade velha, cidade nova, Cidade de David (que havíamos visitado no dia anterior) e caminhamos pelo cemitério, um local tranquilo e simples.

De lá, descemos um pouco a ladeira e paramos na Capela da Ascensão, construída no local em que se acredita que Cristo tenha subido aos céus. No chão, dentro de um retângulo de pedra, há uma laje com o que dizem ser uma impressão do pé direito de Jesus (a do esquerdo foi levada na idade média para a Mesquita de Al-Aqsa), sendo o último lugar na terra que Jesus teria tocado.

As fotos tiradas do alto do Monte das Oliveiras e da Capela podem ser vistas aqui.

Depois de muito custo conseguimos um taxi, que nos deixou no portão Jaffa da cidade velha. Fomos então conhecer a Torre de David. Apesar do nome, o local não tem nada a ver com o Rei David. Este nome foi dado pelos bizantinos, que pensavam erroneamente que o local havia sido o palácio de David.

A Torre de David é uma fortaleza próxima ao portão Jaffa, construída no no século 2 AC e destruída e reconstruída várias vezes, por ter importância estratégica na defesa da cidade. Hoje é usada para fins mais pacíficos, como local de shows e concertos, e como museu de artefatos e  ruínas, algumas com mais de 2700 anos, da época dos cananeus.

Chegando lá, fomos para a bilheteria pegar o ingresso que tínhamos comprado online para visitar a Torre durante o dia e para assistir o show de luzes à noite (mais tarde comento sobre ele). Aí, pasmem, disseram que a entrada para a visita matinal tinha sido reduzida e devolveram parte do valor pago!

Andamos por toda a fortaleza, num sobe e desce de degraus que já estava virando rotina, tirando muitas fotos. Passamos também por vários salões com filmes e exposições, mas o melhor mesmo foi o visual do topo da fortaleza, de onde tem-se uma vista panorâmica dos arredores. Veja as fotos aqui.

Ao sairmos da Torre e, como este seria o nosso último dia na cidade velha, resolvemos passar mais uma vez no Muro, para uma "despedida". Já estávamos craques em navegar pela ruelas da cidade velha e achar o caminho. Ao chegar lá, como era quinta-feira, havia festas de Bar-Mitzvá (maioridade religiosa judaica, aos 13 anos para os garotos e 12 para as garotas) junto do muro, com música, gente dançando e muita alegria.

Depois, pensamos até em visitar o Domo da Rocha, mas a entrada só é permitida em algumas horas do dia e a fila estava muito grande. Depois de ficarmos na fila por uns 15 minutos no sol forte, sem que ela sequer andasse um passo, desistimos e fomos almoçar.

Neste ponto, cabe uma correção: no relato do dia anterior (veja aqui, se não lembrar), eu havia dito que sentamos em um restaurante, não fomos atendidos e fomos para outro no setor árabe, que teria o melhor humus de Jerusalém. Tudo isso era verdade, só que não aconteceu naquele dia e sim nesse (muita coisa para lembrar, escrevendo mais de um mês depois do ocorrido!). Desculpem a nossa falha. Confiram as fotos do muro e do restaurante aqui

Depois do almoço, saímos como no dia anterior pelo portão Damascus na parte árabe da Jerusalém nova, mas desta vez já sabíamos o caminho para a estação do trem. Pegamos o metrô de superfície até o centro da cidade nova, para evitar trânsito e de lá pegamos um taxi até o Museu de Israel, que era perto.

O Museu é muito bonito, composto de vários prédios modernos. Um deles tem uma cúpula que lembra o chocolate Kisses, muito comum aqui nos EUA. Este museu é onde estão os manuscritos do Mar Morto, que foram revelados ao mundo há alguns anos e que confirmaram várias passagens do Primeiro Testamento. Ao entrarmos no museu, descobrimos que naquele dia a entrada era grátis (devia ser um dia especial em todos os museus, já que recebemos devolução na Torre de David, conforme relatado acima).

Em resumo, o mais interessante para nós foi ver os manuscritos, que tentamos fotografar mas como são mantidos em salas com pouquíssima luz para não danifica-los, as fotos saíram péssimas. Muito interessante a escrita, toda certinha, numa linguagem que parece ser um proto-hebraico. Passamos também por várias relíquias arqueológicas de Israel e vizinhos como o Egito e, do lado de fora, havia esculturas modernas e uma maquete ENORME de como teria sido Jerusalém na época do Segundo Templo. A reprodução está tão bem feita, com muitos detalhes, que fotografando uma parte com zoom, alguém poderia acreditar que era foto do prédio verdadeiro e não uma maquete.

Ficamos por lá até o fechamento, as 5 da tarde e fomos andando na direção do Parlamento israelense, o Knesset. O prédio em si, pelo lado de fora, não parece nada de mais. Em frente, há um parque muito bonito, extremamente florido, com muita gente aproveitando o sol e calor para acampar, brincar com as crianças na grama, jogar bola, etc. O parque tem uma Menorah gigante que, por incrível que pareça, não conseguimos achar. Achamos uma menor, fotografamos e nos demos por satisfeitos...

Ao final do parque, passamos pelo prédio da Suprema Corte israelense. Naquela redondeza há vários  prédios de órgãos do governo, já que Jerusalém é a capital. Veja as fotos tiradas no Museu de Israel e neste lugares próximos, clicando aqui.

 Estávamos ficando cansados, pois estávamos andando desde cedo e ainda tínhamos compromisso para a noite, então pegamos um taxi para o hotel. Chegando na rua do hotel, sentamos numa lanchonete na esquina para beliscar algo. Patrícia pediu uma trufa de chocolate, mas acho que eu pedi melhor: era um bolo com chocolate no meio, que eles aqueceram e o chocolate derreteu (aqui nos EUA isso se chama lava cake - "bolo de lava"). Uma delícia e até me dá água na boca lembrando e escrevendo.

Descansamos um pouco e mais tarde lá fomos nós de novo para a cidade velha, para assistir ao show de luzes e som na Torre de David. Foi interessante ver os muros da cidade velha iluminados à noite. Tinha muita gente para ver o show (compramos ingressos com 3 meses de antecedência, porque esgotam) e ficamos ali no meio da multidão esperando abrirem as portas. Quando abriram, havia cadeiras em volta da área central, em cima e embaixo. Resolvemos então ficar em cima, de onde poderíamos ter uma vista melhor.

Imaginem então o cenário: sentados, dentro de uma fortaleza de pedra de mais de mil anos, à noite, escuro, com algumas luzes projetadas nas paredes de pedra. Já estava bonito antes mesmo do show começar. Veja as fotos aqui.

Aí o show começou e vou tentar descrever, mas tenho certeza que não vai fazer jus. Eles projetaram imagens nas ruínas, contando a história de Jerusalém, desde os tempos primordiais até os dias de hoje. As imagens eram coloridas e tinha um efeito em alto relevo, como 3D. Então, quando aparecia uma pessoa, não parecia ser uma projeção e sim um ator. Quando aparecia um cavalo, parecia que estava lá, vivo. O som e a música também ajudavam a criar o clima. O show durou cerca de 25 minutos, mas valeu por cada segundo e deixou uma sensação de quero mais. Como era proibido filmar, veja partes do show no youtube, clicando aqui.

Eu e Patricia saímos do show em estado de graça, pois foi um dos pontos altos não só de Jerusalém, mas da viagem toda. É imperdível para quem for a Jerusalém. Andamos mais um pouco pela cidade velha, pois queríamos fazer umas compras, mas as lojas estavam fechando. Então passamos pelo Mamilla, que estava lotado e fomos para aquele point em torno das ruas Jaffa e Ben-Yehudá, onde tínhamos jantados há duas noites.

Apesar de ser quase 10 da noite, conseguimos comprar presentes para a Vivian e Marcelo (com muita negociação, como manda o costume local), e Pat comprou uma bolsa que ela tinha visto antes e gostado. Então voltamos ao mesmo restaurante (Bleecker) onde tínhamos comido da outra vez e descobrimos que já estávamos conhecidos em Jerusalém, apesar de estarmos lá há poucos dias: a recepcionista do restaurante disse que o garçom que nos tinha atendido antes viu que estávamos chegando e avisou que éramos clientes dele, e que era para ela nos atender muito bem...

Como muita gente não trabalha sexta-feira por causa do Shabbat, a noite de quinta-feira é sempre muito movimentada. As ruas e restaurantes estavam cheios e estava um clima geral muito agradável. Patricia encerrou o jantar tomando um chá natural de hortelã, muito comum em Israel.

Chá de hortelã e com hortelã

Voltamos andando para o hotel, curtindo a nossa última noite em Jerusalém, cidade que superou todas as nossas expectativas, que já eram altas. É impressionante como um lugar tão pequeno pode ter tanta história e tanto significado para tantas culturas diferentes. É fascinante ver as várias perspectiva de Jerusalém, como a maior cidade e capital de Israel, ao mesmo tempo moderna e antiga. É um lugar especial, independentemente da crença, fé ou nacionalidade de quem visita.

No próximo capítulo: Adeus a Jerusalém e rumo ao Mar Morto.


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quarta-feira, junho 13, 2012

Diários de Viagem: 6 - Em Jerusalém (dia 2)

Depois de uma noite bem dormida, acordamos cedo para mais um dia repleto de atividades. Interessante que nem em Roma e nem em Israel sentimos o jet lag, apesar da grande diferença de fuso horário. Talvez o segredo seja se cansar ao máximo e só dormir na hora certa do local.

O café da manhã do hotel era estilo israelense: pães diversos (como o pão em Israel é bom!), queijos (até queijo minas), iogurtes, frutas secas, salada de frutas, saladas de verduras, cereais, ovos em vários estilos, pratos quentes, humus, etc.  É uma mistura de café da manhã com almoço. 

Estava fazendo um dia bonito, com muito sol e prometia ser bem quente. Estávamos preparados, carregando garrafa de água na mochila, item essencial em Israel. Andamos até o Portão Jaffa, passando novamente pelo Mamilla Mall. De la', fomos por dentro da cidade velha para o Portão Dung (veja mapa publicado na edição anterior), por onde saímos e começamos a subir em direção à Cidade de David.

A Jerusalém que o Rei David conquistou e estabeleceu como capital por volta de 1000 AC, unindo as 12 tribos, não era onde hoje está a cidade velha, mas sim ao sul dela e fora da muralha atual, no vale de Kidron, onde hoje tem um bairro árabe chamado Silwan (ou Kfar Shiloah em hebraico). Há alguns anos, ruínas da cidade original foram encontradas e hoje é um sítio arqueológico chamado Cidade de David. A criação deste parque arqueológico criou muita polêmica e confusão pois os moradores acusaram Israel de estar aos poucos tomando as terras do local.

Silwan tem um aspecto meio de Favela da Rocinha, com muitas casas apinhadas e não parece ser um lugar muito agradável. O caminho para a Cidade de David passava por fora e notamos algum policiamento, mas nada de excepcional.

Fizemos o tour guiado, que levou cerca de 3 horas. Vou tentar resumir, porque vimos e ouvimos muita coisa. O Rei David escolheu aquele local por ser um local alto, naturalmente protegido cercado de vales, e por ter água, de uma nascente chamada Gihon. Ali ele construiu o seu palácio e a teoria atual (muda toda hora a medida que vão fazendo mais descobertas) é que com o tempo a cidade cresceu para o norte, passando então a incluir o local onde o Rei Salomão construiu o primeiro Templo (local hoje ocupado pelo Domo da Rocha muçulmano) e a área da cidade velha.

Sem querer tornar esse blog muito chato com aulas de história, vou contar rapidamente um caso que é muito interessante. Em cerca de 700 AC o Rei Ezequias estava esperando um ataque dos assírios. Para que os assírios não pudessem tomar conta da nascente e forçar a cidade a se render por falta de água, ele mandou construir um túnel pela rocha, levando a água para um reservatório dentro da cidade. Como o tempo era curto, o túnel foi perfurado pelos dois lados e, apesar de não haver instrumentos de precisão na época, de alguma forma ambas escavações se encontraram certinho e os assírios não conseguiram conquistar Jerusalém. Quem quiser saber mais, leia o Livro de Isaías da Bíblia. 

Eu e Patricia caminhamos por parte desse túnel e por degraus que supõe-se terem sido parte dos degraus que levavam até o Templo. Na base dos degraus havia uma grande "piscina" onde os viajantes que chegavam de todo lugar para ir ao Templo se banhavam e purificavam antes de subir as escadas que levavam a ele ("aliá" - subida, que acontecia 3 vezes ao ano, em Pessach, Sucot e Kipur).

O retorno à entrada do parque foi por um túnel do tempo dos Cananeus. Foi muito cansativo andar pelo túnel estreito, no meio da rocha, onde mal passa uma pessoa, subindo degraus, mas a alternativa - subir pelo lado de fora com o sol a pino, não era muito atraente. Veja as fotos do parque arqueológico, da redondeza, das ruínas e dos túneis aqui.

De lá, voltamos para a cidade velha, para almoçar. Perto do Muro há um restaurante árabe num estilo muito interessante, com as paredes em rocha e resolvemos sentar lá. Apesar do lugar estar praticamente vazio, ninguém veio nos atender. Depois de cerca de 10 minutos, levantamos e fomos embora. Caminhamos então pela Via Dolorosa até o setor muçulmano, onde há um restaurante que os guias de viagem diziam ter o melhor humus de Jerusalém.

O restaurante era bem simples, no estilo daqueles da rua da Alfândega no Rio. O atendimento foi rápido, mas sinceramente o humus e a comida estavam bons mas não tinham nada de mais. Como já estávamos no setor muçulmano, continuamos nele em direção ao portão Damascus, para sair da cidade velha e pegar o metrô de superfície para o Yad Vashem, o Museu do Holocausto. Este lado da cidade velha, o coração do setor muçulmano, é muito interessante pelas lojas de temperos (tudo a granel, em sacas, num festival de aromas), lojas daquelas roupas fechadas que cobrem as mulheres todas (burca) e  até mesmo camelôs apregoando em árabe as mercadorias.

Saímos da cidade velha no setor árabe (oriental) da cidade nova e, sem preconceito, parecia outro mundo. Um trânsito caótico, o jeito de vestir das pessoas muito diferente, as construções antigas e em mau estado. Tentamos pedir informações sobre onde pegar o trem mas foi difícil achar alguém que entendesse um pouco de inglês.

Ao chegarmos no ponto de parada, mais um desafio: comprar os bilhetes na máquina, em hebraico ou árabe. Um rapaz ajudou e embarcamos no moderníssimo trem (inaugurado em dezembro), que fazia um contraste muito grande com a vizinhança. Fotos do trem aqui.

A viagem foi rápida e muito agradável, cruzando boa parte da Rua Jaffa, em direção ao centro de Jerusalém nova. Descemos na estação final, Monte Herzl, onde fica o museu do mesmo nome, em homenagem a Theodor Herzl, pai do Sionismo moderno. Como estávamos com pouco tempo até o fechamento do Museu do Holocausto, demos uma olhada rápida nos jardins do Museu Herzl, já que era caminho, e fomos andando pela mata que leva ao Har Hazikaron (Monte da Lembrança em hebraico), onde fica o Museu do Holocausto, pois a van que faz a ligação entre os dois museus parece ter frequencia muito incerta.

O caminho é uma mata com muitos pinheiros, com um aroma agradável e um lugar espetacular para caminhar. É um paraíso propositadamente criado em volta do Museu, gerando harmonia em torno de um museu que serve de registro e lembrança (para que não deixemos acontecer de novo) do mal que o ser humano é capaz de fazer a outros.

O Museu do Holocausto é como um soco no estômago: mesmo você já tendo sentido um antes, dói toda vez que se repete. Apesar de termos feito uma visita mais rápida que o normal em função do pouco tempo que tínhamos até o fechamento (o Museu é muito grande e requer no mínimo meio dia para ser visto com calma) e mesmo já tendo visitado o Museu do Holocausto em Washington D.C., não dá para evitar a sensação de angústia e revolta que dá, além de uma grande compaixão pelas vítimas. O Museu, de forma bem respeitosa, individualiza o assassinato em massa, mostrando nomes, rostos, depoimentos, como se apresentando um por um dos cada 6 milhões que morreram.

O mais tocante, pela singeleza, simplicidade e pelo que representa, foi o salão em homenagem a um milhão e meio de crianças que morreram nas mãos dos nazistas. É uma sala escura, localizada em uma caverna subterrânea, com uma área circular no centro e com uma espécie de abóboda de vidro no teto, onde há vários pontos de luzes de velas, como estrelas no céu, talvez representando cada uma das crianças. As luzes se refletem nas paredes e no chão, criando um efeito envolvente. Só que na verdade há só uma vela (talvez representando a unidade do povo judaico?) sendo a luz refletida e reproduzida ao infinito através de um conjunto de prismas e espelhos. Ao fundo, ouve-se uma voz recitando pausadamente o nome de cada uma das crianças. Obviamente, em sinal de respeito, não tiramos fotos, mas achei uma na internet para dar uma idéia melhor do que descrevi.

Memorial das Crianças do Yad Vashem
A saída deste salão levava para um terraço com uma vista panorâmica das montanhas da Judéia. Veja as fotos externas dos dois museus, clicando aqui.

Todo mundo sai do Museu do Holocausto mais sensível e a caminhada pela mata de volta à estação do metrô veio bem a calhar. Pegamos novamente o trem e descemos no Mercado Yehudá (Machané Yehudá).

Quase em frente ao ponto onde descemos, tinha uma padaria (praticamente uma janela com um balcão) com pães muito bonitos. Não resistindo, compramos alguns (e depois nos arrependemos de não ter comprado mais). O mercado ocupa várias ruas transversais à Rua Yehudá e é como se fosse uma Cobal bem maior e variada, a céu aberto em algumas partes e coberto em outras. Foi uma boa distração após o Museu.

O mercado é uma experiência singular pela variedade, cores e movimento. Compramos queijo minas fresquinho, a peso, cortado na hora, biscoito de tâmara (tipo maaruta, para quem conhece) e, numa lojinha, depois de muita negociação bem típica, compramos um narguilé de presente para o Marcelo e a Pat comprou uma saia. Veja as fotos do mercado clicando aqui.

Voltamos para o hotel andando e, como estávamos muito cansados para sair, jantamos o pão com queijo minas, que acabou sendo uma refeição ótima, pois ambos estavam deliciosos (lembrem-se que não existe queijo minas nos EUA, então para a gente virou iguaria rara). Eram 7 horas da noite, estávamos programados para fazer um tour pelos túneis que passam embaixo do Muro às 8, mas àquela altura já não tínhamos mais gás para andar até a cidade velha e percorrer mais túneis. Fica para a próxima visita a Israel.

No próximo capítulo, o terceiro dia em Jerusalém, com mais lugares interessantes e muitas fotos.


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terça-feira, junho 12, 2012

Diários de Viagem: 5 - Em Jerusalém (dia 1)

O piloto anunciou que estávamos para pousar no aeroporto Ben Gurion, em Tel-Aviv. Lá fora, tudo ainda meio escuro, pois eram 5 horas da manhã. Dentro do avião, dava para sentir no ar a expectativa não só nossa, mas geral. Talvez isso explique os aplausos ao pousar, já que o pouso em si não teve nada de especial, com o usual tranco das rodas tocando a pista.

Ao sairmos do avião, o aeroporto parecia como qualquer outro, com a habitual longa caminhada até o controle de passaportes. Não importava: estávamos em Israel!

Aqui cabe um parênteses para explicar o que isso significava. Significava a realização de um sonho que até há 3 meses parecia impossível para nós dois. Significava para mim fazer o caminho inverso ao que parte da minha família havia feito há muitos anos, uma "volta às origens". Significava para mim e para a Patricia vermos em pessoa lugares que até então só conhecíamos por fotos ou através de relatos de outros que já tinham visitado e elogiado muito.

Surpreendentemente, entrar no país foi muito fácil. O oficial que nos atendeu foi bastante cordial e bem mais informal do que, por exemplo, os da imigração americana. As malas chegaram são e salvas, o que é sempre um alívio. O aeroporto é bonito, moderno e mesmo àquela hora da manhã, estava bastante movimentado. Tiramos dinheiro no caixa eletrônico lá mesmo e saímos para procurarmos o serviço de van que faz a ligação entre o aeroporto e Tel-Aviv ou Jerusalém, chamada em hebraico "sherut", da empresa Nesher, já que não vale a pena alugar um carro para usar em Jerusalém, devido ao trânsito e à dificuldade em estacionar.

Aqui vai então a nossa primeira dica de viagem em Israel: esta é a melhor forma de transporte para ir do aeroporto para uma das duas cidades. Há outras opções como taxi (bastante mais caro) ou ônibus e trem (não muito cômodos com malas), mas essas vans são ótimas porque levam até o hotel por um preço razoável e, como vão deixando vários passageiros pelo caminho, você acaba fazendo um tour pela cidade destino. A viagem do aeroporto de Tel-Aviv para Jerusalém leva em torno de uma hora, podendo levar um pouco mais ou menos se você for um dos últimos ou dos primeiros a descer.
 
As vans estavam bem em frente ao portão de saída e o ar da manhã estaria fresco se não fosse o monte de fumantes (até ortodoxos!) por todo lado. Descobrimos então que em Israel se fumava tanto ou mais que na Itália...

Demos sorte porque a nossa van lotou logo e em alguns minutos estávamos a caminho de Jerusalém. Foi interessante notar a quantidade de plantações ao longo das estradas por onde passamos. Muitas vezes via-se que a terra era ruim (afinal de contas é a área do deserto da Judéia), mas isso não parecia ser impedimento. Depois de um tempo, começamos a subir, sinal que estávamos nos aproximando de Jerusalém. Estava um belo dia de sol e céu azul.

Entramos em Jerusalém. A cidade parecia com qualquer outra, exceto pelas construções que usam materiais que dão um caráter antigo, de acordo com padronização feita pela prefeitura. Rodamos durante alguns minutos e a van foi esvaziando. Éramos um dos últimos quando o motorista parou na esquina do nosso hotel, já que a rua era de pedestres. Lá fomos nós puxando malas de novo, mas desta vez por cerca de 20 metros apenas.

A sorte continuava do nosso lado, pois no check-in do hotel informaram que apesar de ser cedo o nosso quarto estava disponível. Depois de um dia inteiro viajando, isso era quase como ganhar na loteria! Subimos (de elevador!) para o nosso quarto, que cheirava a cigarro apesar do hotel em teoria ser não fumante. Tomamos um banho revigorante (num chuveiro com banheira e não numa "cabine telefônica" como em Roma) e estávamos prontos para ir para a cidade velha.

Pausa para aula de geografia e história: Jerusalém na verdade são duas cidades, a Jerusalém histórica, cercada de muros e onde estão os lugares sagrados, chamada de cidade velha, e a Jerusalém moderna, chamada de cidade nova. Em 1948, quando a criação do Estado de Israel foi aprovada pela ONU, os países árabes em volta não aceitaram a divisão e atacaram. Esta guerra, chamada de Guerra da Independência, pegou um país recém criado quase indefeso e com isso metade da cidade nova e toda a cidade velha ficaram sob controle da Jordânia. A cidade só foi reunificada em 1967, na Guerra dos Seis Dias, quando Israel recuperou o controle de toda a área. Ainda hoje a cidade nova tem duas partes de características bem distintas: a parte "israelense" que sempre ficou com Israel, é bem moderna e desenvolvida, e a parte "árabe" que havia ficado com a Jordânia, onde ainda hoje a população é predominantemente de origem árabe e que parece não ter evoluído tanto.

Andamos até a cidade velha, já que ela ficava a cerca de 20 minutos do hotel. Como a cidade velha é murada, as entradas são pelos que eram antigamente portões. O que dá para o lado "israelense" é o portão Jaffa. Lá era o ponto de partida do tour guiado que faríamos, andando pela cidade velha. Como estávamos adiantados, ficamos tirando fotos e andando próximo ao portão. Outra dica: pegado ao portão Jaffa há um escritório de informações turísticas. O atendimento é ótimo e eles fornecem um mapa de ruas de Jerusalém muito bom.

O guia do nosso tour, por coincidência, era um americano que morava em Israel há muitos anos. O grupo era grande, com gente do mundo todo e iríamos andar pelos 4 quartos da cidade velha. Aqui, mais uma aula rápida de geografia: a cidade velha na teoria é dividida em 4 partes (quartos). O quarto judaico, o cristão, o muçulmano e o armênio. Na prática, é tudo misturado já que a cidade passou por vários ciclos diferentes de dominação nos últimos 2 mil anos.

Os "quartos" da cidade velha


A cidade velha é muito diferente do que imaginávamos. É uma cidade "viva" e não só um conjunto de ruínas, monumentos e lugares sagrados. Na cidade há lojas, restaurantes, casas residenciais e até mesmo escolas. As ruas são bem estreitas e em geral inclinadas (lembrem-se que Jerusalém foi construída sobre morros). Anda-se alguns passos aí vem um degrau, depois mais uns passos e outro degrau... As lojas vendem de tudo, desde as quinquilharias habituais para turistas, até frutas, verduras, carnes e temperos para os moradores. Passamos por várias padarias fazendo pão árabe e o cheiro no ar de pão assando era maravilhoso.

Começamos pelo quarto cristão, percorrendo a Via Dolorosa (por onde Cristo teria carregado a cruz), passando pela igreja do Santo Sepulcro, por um mosteiro da Igreja Cristã Ortodoxa e entrando no quarto muçulmano. Como o acesso ao Domo da Rocha (a mesquita com o domo dourado que aparece em várias fotos) tem horário limitado e muitas filas, continuamos para o quarto judaico, chegando então ao túnel que leva ao Muro. Em Israel eles não chamam (e nem gostam que se chame) de Muro das Lamentações e sim de Muro Ocidental.

Apesar de saber que o Muro na verdade não era o muro do Templo e sim parte do muro de sustentação da estrutura onde ficava o Templo propriamente dito, o lugar tem alguma coisa de especial que mexe com a gente. É uma sensação difícil de explicar, é quase como um arrepio do corpo e da alma. Eu e Pat tivemos que ir para lados distintos, já que há separação de homens e mulheres. Eu sentia um misto de reverência, respeito e emoção.

Como de praxe, deixei um papelzinho entre as pedras do muro e fiquei lá por alguns momentos, encostado e vivendo um turbilhão de emoções. O que escrevi no papel e o que pensei enquanto estava lá vai ficar entre Deus e eu...

Patricia também colocou o papelzinho dela no Muro e rezou, com muita emoção também por estar rodeada de tantos lugares sagrados de todas as religiões. O que ela escreveu no papelzinho também só vai ficar entre ela e Deus. Ela não vai divulgar nem no Facebook!!!!

Tiramos muitas fotos e ficamos olhando a "Praça do Muro", que é a região em torno dele. Havia de tudo: ortodoxos, turistas, crianças, idosos, soldados. O clima era de respeito, mas um tanto quanto festivo, como se a alegria das pessoas por estarem lá estivesse pairando no ar.

O tour continuou pelo quarto judaico, parando para descanso e comes e bebes defronte a uma sinagoga nova (Hurva) que foi construída no mesmo local de uma que havia sido destruída em 1948 na Guerra da Independência. O quarto judaico é o que tem construções mais novas, já que foi quase todo destruído durante o domínio jordaniano. Depois passamos pelo Cardo e fomos para o quarto Armênio, o menor deles. Lá atingimos o alto de uma construção (não lembro qual), de onde pudemos ter uma vista panorâmica dos arredores.

O tour voltou então para o portão Jaffa, onde terminou. Foram três horas caminhando pela cidade velha, numa experiência muito interessante. Estava muito calor, estávamos cansados e com fome. Resolvemos então voltar para o hotel e comer algo no caminho. Fizemos o caminho de volta pelo Mamilla Mall, que é um shopping center a céu aberto, construído recentemente, quase defronte à cidade velha.

O Mamilla é um local vibrante, principalmente à noite, com muitos bares e restaurantes que ficam lotados, além de várias lojas finas. É um contraste interessante entre a modernidade do mall e a antiguidade da cidade velha.

Continuamos para o hotel e estávamos com vontade de comer falafel. Por sorte, passamos na porta de um lugar pequeno, basicamente com um balcão, uma fritadeira grande atrás e um pequeno espaço na frente. Mas como o falafel estava sendo frito na hora, resolvemos experimentar. Depois de fazermos o pedido, o dono, muito gentil e comunicativo (aproveitei até para falar umas 2 frases em hebraico), disse para sentarmos nos fundos que ele levaria a comida. Para nossa surpresa, nos fundos havia um pequeno quintal muito agradável, com mesas, cadeiras e árvores.

A despeito da simplicidade do local, a comida estava ÓTIMA! Comemos falafel, humus, salada israelense (tomate, pepino, etc. picados), com pão árabe quentinho. Bem alimentados e satisfeitos descansamos um pouco ao chegar no hotel.

À noite, fomos para as redondezas da rua Ben Yehudá. Esta região, que inclui entre outras a rua Jaffa (Yaffo em hebraico), tem várias ruas de pedestres, com muitos restaurantes, mesas na calçada, lojas que ficam abertas até tarde e um movimento bastante grande, mesmo tarde da noite. Fizemos algumas compras e depois sentamos na Bleecker Bakery, que é um misto de restaurante, café e confeitaria. O rapaz que atendeu a gente, muito simpático, ficou batendo papo sobre o Brasil (israelense adora Brasil) e como tínhamos almoçado tarde, comemos uma salada muito boa, com frutas secas.

Chegamos no hotel por volta de meia noite. Foi um dia longo, mas que valeu por cada segundo. Confira vendo as nossas fotos clicando aqui.

No próximo artigo: O segundo dia em Jerusalém - Cidade de David, Museu do Holocausto, a cidade nova e muito mais!

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quarta-feira, junho 06, 2012

Diários de Viagem: 4 - Em Roma (dia 3) e a caminho de Israel

Restava pouco tempo em Roma, pois no começo da tarde iríamos para o aeroporto pegar o nosso vôo para Londres e Tel Aviv. Então resolvemos acordar cedo para visitarmos os lugares que faltavam.

As malas estavam praticamente prontas. Tomamos o café da manhã e fomos procurar a Praça Barberini, onde haveria mais uma fonte de Bernini.

Como a Fontana di Trevi ficava no caminho, passamos lá mais uma vez, já que só tínhamos ido à noite. Ao chegarmos lá, resolvemos um grande mistério: o destino das moedas que são jogadas na fonte!  A fonte estava desligada e tinha uma equipe, protegida por policiais, usando equipamento de sucção e sugando as moedas, que supostamente seriam depois doadas para caridade. Se por um lado não pudemos fotografar a fonte funcionando (o processo de retirada das moedas era muito lento e não tínhamos tempo a perder), por outro foi interessante descobrir que fim levavam as moedas. Veja as fotos clicando aqui.

O tempo continuava meio ruim, com chuviscos esparsos. Continuamos rumo à Praça Barberini. No caminho, passamos por vários prédio comerciais e é impressionante a quantidade de scooters não só circulando na rua, mas estacionados na frente dos prédios. Tinha até uma BWM que era quase um carro, com capota e limpador de para-brisa!

Scooter BMW


A Praça Barberini fica num cruzamento de várias ruas de trânsito intenso, num lugar feio e nem perdemos tempo. Por acaso, no caminho nos deparamos com o Palácio Barberini, que foi construído pela família dele na época em que ele foi papa e, mais uma vez, é obra do Bernini. O palácio hoje é sede do Museu Italiano de Arte Antiga. Como ainda era cedo, estava fechado, mas deu para fotografarmos o prédio, que por sinal tem uma escada helicoidal famosa e, para variar, uma fonte do Bernini. Veja as fotos aqui.

Continuamos então na direção da Praça do Quirinale, onde fica o Palácio do mesmo nome, sede do governo italiano. Para chegar nele, andamos pela Via del Quirinale, que apresenta um contraste interessante. O Palácio faz parte de um complexo de prédios contínuos que fazem quase um retângulo, ocupando uma área enorme. Os prédios são muito feios, estilo caixa e até pensei que eram da época do fascismo (Mussolini), mas eles são bem mais antigos. Entretanto, na área interna, há o jardim do palácio que parece ser muito bonito (a entrada, obviamente, é proibida ao público). Fotos do Palácio e arredores, aqui.

Como o palácio fica no morro Quirinale, o mais alto dos 7 morros de Roma, descemos rumo ao Pantheon. As ruas do centro histórico de Roma são muito estreitas (provavelmente por serem antigas), quase não dá um carro mas mesmo assim algumas são de mão dupla e passa até caminhão. Em várias praticamente não há calçadas. Há também muitas Piazzas (praças), em geral circundadas por bares e restaurantes, ou por lojas. Outra coisa que notamos é que enquanto em New York há um Starbucks em cada esquina, em Roma há uma igreja em cada esquina...

Chegamos ao Pantheon. Por fora, não parece grandes coisas. Mas por dentro, é incrível. O formato e o teto dão uma sensação interessante. Ele foi construído por volta de 126 AC como um templo para todos os deuses (em grego Pantheon quer dizer "para todo deus"), mas desde o século 7 é usado como igreja, o que me surpreendeu. Achei que era apenas mais uma edificação da Roma antiga. A cúpula é aberta, então pode chover dentro, mas permite a entrada de luz natural.

Tiramos muitas fotos e filmamos, tanto dentro, quanto do lado de fora, na Praça da Rotunda, que para variar tem uma fonte e um obelisco. Aproveitamos então para dar uma relaxada tomando café e tomando sorvete num dos restaurantes em volta. As fotos e filme podem ser vistos aqui.

Voltamos para o hotel para fechar as malas e fazer o checkout. O hotel valeu principalmente pela localização. O chato mesmo foi o tamanho do box do banheiro: era menor do que uma cabine telefônica. Alguém um pouquinho mais gordo ou não caberia ou correria o risco de ficar entalado tomando banho...

Fizemos o checkout deixando as malas na recepção e, como ainda tínhamos algumas horas antes de irmos para o aeroporto, fomos bater perna mais um pouquinho. Estávamos extremamente cansados pela maratona dos últimos dias, a chuva estava querendo voltar mas, apesar de estarmos ansiosos para conhecer Israel, estávamos com pena de ir embora de Roma.

Seguimos para os jardins da Villa Borghese, que é como se fosse um Central Park. Ela fica no alto, então tem vistas panorâmicas de Roma, dando para ver até o Vaticano. Para chegar a ela, passamos pela Praça de Espanha e subimos os "Spanish Steps".

Ao chegarmos na Villa, a chuva que vinha ameaçando, apertou. Tivemos que ficar encolhidos embaixo de uma árvore até ela diminuir um pouco. Isso nos forçou a encurtar o passeio, o que foi uma pena pois parece ser um lugar muito agradável. Tiramos algumas fotos que podem ser vistas aqui.

Descemos de novo, desta vez na direção do nosso último lugar a ser visitado, a imponente e ampla Piazza del Popolo. Esta praça tem os habituais elementos das praças de Roma: obelisco e fontes, com a vantagem de não ter trânsito próximo, criando uma área relativamente tranquila.

De lá, voltamos para o hotel, absorvendo e saboreando as ruelas por onde passamos, nos despedindo de Roma. Ao chegarmos no hotel, o motorista que o hotel arrumou já estava esperando e nos sentimos bem importantes: ele estava impecável de terno e gravata e o carro era um BMW. Estávamos saindo de Roma em melhor estilo do que chegamos!

Chegamos até cedo no aeroporto, pois o motorista, no melhor estilo italiano, chegou a 140 km/h na via expressa que leva a ele. Despachamos as malas, compramos um licor de chocolate no Free Shop e fomos para a sala VIP, que era decorada num estilo meio década de 70, parecendo até cenário de filme.

Sala VIP no aeroporto de Roma

Mais tarde, fomos para o portão de embarque, que estava bem cheio e o vôo um pouco atrasado. O vôo, como sempre, estava lotado e inacreditavelmente serviram sanduíche de porco com galinha! Ainda bem que eu não estava com fome, pois tinha comido na sala VIP.

Chegamos em Londres e, como ainda tínhamos algumas horas até o embarque para Tel-Aviv, fomos para a sala VIP que fica em outro terminal. Para isso, tivemos que pegar um ônibus interno que andou pelo menos uns 10 minutos dentro do aeroporto (que é imenso), passar pela segurança de novo, andar um bocado e finalmente chegar à sala. Mas valeu o esforço, pois a sala VIP que o Diner's tinha convênio no Aeroporto de Heathrow foi a melhor da viagem. É muito grande, tinha um buffet com vários tipos de comidas, bolos, doces, bebidas (alcoólicas ou não), sala de cinema, computadores e até um SPA.

Bebendo um chá inglês na Inglaterra


Até breve, Europa
Cerca de uma hora antes do embarque, fizemos tudo de novo, agora em sentido contrário, e embarcamos. O vôo estava quase cheio, com muitos ortodoxos. Apesar de estarmos com bons assentos, foi muito difícil dormir. Já não dava nem para descrever o cansaço que sentíamos e o peso das pernas. Mas a emoção e a expectativa de estarmos embarcando para Israel eram bem grandes e isso ajuda a dar energia.

No próximo artigo: em Israel!


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sábado, junho 02, 2012

Diários de Viagem: 3 - Em Roma (dia 2)

Depois de um descanso curto mas merecido, acordamos cedo para mais um dia que prometia ser bastante cheio, pois iríamos conhecer a Roma Antiga.

O café da manhã do nosso hotel na verdade era servido em outro hotel na mesma rua. Não era muito farto, mas o suficiente para nos dar a energia para começar mais uma aventura.

Entretanto, se Roma tem ou tinha um deus da chuva, esse resolveu não cooperar conosco. O que o dia anterior teve de ensolarado e bonito, este tinha de nublado e meio frio. Mas isso não era impedimento para nós e fomos em direção ao metrô, passando novamente pela Praça de Espanha, não resistindo e tirando mais fotos (clique aqui para ver).

O metrô de Roma é curto, cobrindo apenas uma pequena parte da cidade. Dizem que um dos motivos é o fato de toda vez que começam escavações para expandi-lo, acham alguma ruína antiga que acaba virando um sítio arqueológico, impedindo ou adiando a construção. Atualmente há apenas a linha A, que vai de noroeste para sudeste (a que nos levou para o Vaticano) e a linha B, que vai de nordeste para sudoeste, praticamente fazendo um X. As duas linhas se encontram na estação Termini, que é uma estação multi-modal, englobando ônibus, trens e metrô.

Mapa do metrô de Roma
Como queríamos ir para o Circo Massimo (ou Circus Maximus), pegamos a linha A, descemos na Termini e pegamos a linha B. Estávamos graduados e pós graduados em metrô de Roma!

A viagem foi rápida e, ao sairmos do metrô, a chuva que estava ameaçando, começou a apertar. Num passe de mágica, apareceram vários camelôs vendendo guarda-chuvas, capas, etc. É o chamado comércio de ocasião. Acabamos tendo que comprar um guarda-chuva vagabundo mas necessário naquele momento.

O Circo Massimo deve ter sido uma construção muito imponente na época (4 AC), com capacidade para cerca de 150 mil espectadores sentados para assistir corridas de bigas (a Fórmula 1 da época). Infelizmente, chegamos um pouco tarde: praticamente nada sobrou dele, restando apenas uma área aberta enorme, usada hoje em dia como parque e para alguns shows de música.

Fomos então para o Palazzo dei Flavii e Domus Augustana (Palácio dos Flavianos e a Casa dos Augustos), que fica do lado, no morro Palatino. Estas ruínas cobrem uma área enorme, com pelo menos dois palácios - o dos Flavianos, conhecido como Domus Flavia, que era mais usado para funções de Estado, e o dos Augustos, mais usado como residência principal do imperador, além de jardins, fontes e até um pequeno estádio. Do lado, na direção do Coliseu, está o Arco de Constantino. Veja nossas fotos clicando aqui.

Modelo da Roma Antiga, no período imperial, mostrando o Circo Massimo em
primeiro plano, o Coliseu ao fundo e entre eles, o morro Palatino.
Andamos muito, embaixo de chuva, com frio, vento e tivemos que subir e descer rampas e escadas. Estávamos ficando cansados, mas continuamos para o Coliseu.

Esta área era o centro da Roma Antiga. No vale entre o  morro Palatino e o morro Capitolino, ficavam os prédios administrativos, templos, mercados, etc. sendo a área toda conhecida como Foro Romano. Como a idéia era "pão e circo", então construíram o Circo Massimo e o Coliseu.

Graças ao Roma Pass, mais uma vez conseguimos escapar da fila, que no Coliseu era bem grande. Mesmo tendo sobrado só parte da construção original, ainda é muito imponente e faz a gente imaginar como seria há quase 2 mil anos. Foi estranho subir nas mesmas escadas e andar pelos mesmos corredores em que os romanos devem ter andado para assistir gladiadores lutarem entre si ou contra animais selvagens. De pé lá em cima, olhando para o centro embaixo, dava para imaginar a multidão gritando, sedenta de sangue. Para ter uma idéia melhor, veja fotos e filme clicando aqui.

Do Coliseu, como estávamos cansados, molhados e com fome, resolvemos almoçar. Só que ao chegarmos no restaurante que tínhamos escolhido por ser próximo e ter boas avaliações, ele estava fechado. Em plena tarde de domingo! Desconsolados, começamos a andar pelas redondezas à procura de outro. Nos deparamos então com um que estava lotado tanto dentro quanto fora, apesar da chuva (botaram um plástico encobrindo as mesas do lado de fora). Como era fora da rota turística, só tinha pessoal local e então a comida deveria ser boa, para estar lotado daquele jeito.  Disseram que a espera seria de 15 minutos e resolvemos esperar.

As mesas eram coladas umas nas outras, ou seja, era como se fossem mesas compridas com vários desconhecidos compartilhando. Como em todo lugar na Itália, tinha muita gente fumando o que mesmo sendo do lado de fora, era incômodo. O ambiente era um "alegre-barulhento": o dono e os garçons gritavam uns com os outros e com os clientes, brincando, cantando, parecia coisa de filme.

O serviço era quase amador. Garçons sumiam, traziam os pratos e quase jogavam na mesa, uma bagunça. Mas, quando chegou a comida, entendemos o motivo do restaurante estar cheio. Não vou explicar e sim botar a foto, que diz tudo:

Pizza com rúcula e tomates frescos


A conta foi ridículamente barata, o que mostra que nem sempre a melhor comida é no restaurante mais caro.

Satisfeitos e com um pouco mais de energia, continuamos para o Foro Romano, onde as pilastras que sobraram davam uma idéia da escala e imponência dos prédios. A chuva não dava trégua, os guarda-chuvas de camelô já estavam estragados pelo vento, então a nossa visita teve que ser rápida. Mesmo assim, tiramos muitas fotos, que podem ser vistas aqui.

Do Foro Romano, começamos a andar na direção do hotel, com a intenção de passar no caminho pela Praça Navona. Como ainda chovia muito e passamos por um prédio bonito, resolvemos entrar um pouco. Era o Monumento a Vittorio Emanuele II (rei que no século 19 reunificou a Itália), na Praça Veneza, que inclui o Museu da Reunificação Italiana.  Não estávamos interessados no museu e sim em poder fugir um pouco da chuva, mas tiramos algumas fotos do prédio que é bem imponente e interessante (apesar dos italianos odiarem a arquitetura dele). As fotos estão aqui.

Continuamos o nosso caminho, sempre guiados pelo GPS do celular, que às vezes se perdia mas acabava dando conta do serviço. Passamos por várias ruas, a maioria do comércio estava fechado (era fim da tarde de domingo), mas tinha um café aberto e paramos para um cafezinho estilo brasileiro: de pé no balcão.

Passamos pela Praça Argentina (que leva esse nome devido a um antigo Teatro Argentino que tem ou tinha nela) e, no meio dela, mais escavações e ruínas. Em Roma é assim. Você vai andando pela cidade e volta e meia se depara com ruínas de construções do tempo do Império Romano. Afinal de contas, esta era a capital do maior império que o mundo já conheceu.

A Praça Navona foi uma agradável surpresa. É muito bonita, com mais uma fonte de Bernini e outras duas de Giacomo della Porta. Os prédios em volta, em estilo barroco, compõe um cenário harmonioso e elegante e, dentre eles, a Igreja de Santa Inês e a embaixada brasileira que ocupa o Palácio Pamphili - um belo prédio. Há também vários restaurantes e cafés, com mesas e cadeiras do lado de fora. Comprove clicando aqui.

Ao saírmos da praça, passamos por uma sorveteria e não resistimos. As sorveterias em Roma são uma história à parte: os sabores, que são muitos, ficam expostos, criando um colorido que dá água na boca. Os sorvetes são cremosos, com um sabor agradável, sem serem enjoativos. Há sorveterias em toda parte, tornando impossível resistir à tentação.

Ao chegarmos no hotel já era noite. Estávamos cansados, molhados, mas ainda tínhamos que jantar.  Antes que o restinho de ânimo acabasse, resolvemos sair em direção à Fontana di Trevi, pois esta seria a nossa última noite em Roma e não teríamos outra oportunidade de vê-la iluminada.

Como era perto, chegamos rapidamente. A Fontana é muito mais bonita do que as fotos mostram, até porque eu esqueci a câmera no hotel e tivemos que fotografar e filmar com o celular, que não é muito bom com pouca luz (clique aqui para ver).

A fonte fica quase que escondida, na esquina de duas ruas estreitas. A tradição diz que quem jogar moedas na fonte assegura o retorno à Roma, então Patricia jogou. Estamos aguardando receber as passagens aéreas de cortesia, para podermos voltar à Roma...

De lá rodamos um pouco pelas ruazinhas da redondeza, até escolhermos um restaurante, onde jantamos, com direito a um brinde à nossa estadia em Roma e profiteroles.




Estava completo um dia longo. Restavam agora boas lembranças, muitas fotos e bolhas nos pés.

No próximo capítulo: os últimos passeios por Roma e a partida com destino a Tel-Aviv, via Londres.


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