segunda-feira, abril 12, 2010

Palavra de Honra

Os Estados Unidos estão vivendo uma crise sem precedentes. Não estou me referindo à crise econômica, que é seria e ainda persiste, pois muito já foi falado sobre ela, até mesmo neste infrequente blog.

Refiro-me a outra crise, a crise de ética. Poucos sequer notam esta crise, mas ela é muito mais séria do que qualquer outra e os brasileiros sabem bem disso, pois convivem com (ou sobrevivem a) essa crise há muitos anos.

Não creio estar exagerando, basta ver o noticiário político e de negócios.

No âmbito da política, até recentemente um candidato democrata ou republicano era eleito presidente e automaticamente adquiria uma “aura suprapartidária” - o presidente estava acima dos partidos. Os partidos podiam até discordar de algumas políticas do presidente, mas acima de tudo respeitava-se a autoridade do cargo e todos visavam também o interesse da nação e do povo, além de seus próprios interesses individuais.

O que se vê hoje? Políticos apegados ao jogo partidário, sendo contra tudo que o outro partido propõe, sendo contra só por ser contra. Com isso, nada acontece, promessas de campanha não são honradas, palavras valem cada vez menos, o nível do debate (ou deveria dizer “bate-boca”?) fica cada vez mais baixo e o povo, desiludido, distancia-se cada vez mais do processo político.

No âmbito dos negócios, o objetivo é faturar hoje, como se não houvesse amanhã. Então, lançam-se produtos de baixa qualidade, busca-se produzir pelo menor custo possível, nem que isto signifique terceirizar a produção para um país que não respeite leis trabalhistas ou sequer a liberdade do cidadão, usando mão-de-obra de baixíssimo custo, numa versão moderna de escravidão.

Como resultado, o número de desempregados e subempregados cresce e estima-se que pela primeira vez na história americana uma geração será mais pobre do que a geração que a antecedeu.

Mas esta crise acaba extrapolando para toda a sociedade, contaminando-a. Tem-se a sensação de que não há um dia em que não estoure um novo escândalo envolvendo um político, ou um artista, ou desportista, ou até mesmo um membro do clérigo.

Com isso, a sociedade como um todo perde os parâmetros de comportamento, a distinção entre o que é certo, ético, ou errado fica cada vez menos clara e isso acaba retroalimentando a crise, atingindo cada vez níveis mais baixos de comportamento.

Portanto, não ficamos surpresos quando acordos que antes eram feitos com um aperto de mão, ou com a palavra empenhada, não são mantidos, promessas não são cumpridas. Até há pouco tempo, no mundo dos negócios (e também fora dele), a honradez de um empresário era medida pelo cumprimento de suas obrigações, fossem elas financeiras, sociais, ou até mesmo morais. Valia não só o escrito, mas também o dito.

Hoje, não. Promete-se hoje, volta-se atrás amanhã. Fica o dito pelo não dito. Amizade, lealdade, honradez, integridade, tornam-se valores secundários, eclipsados por ganância, egoísmo e muita cara de pau.

Será que é esta a lição que queremos ensinar a nossos filhos? Será que essa é a herança moral que vamos legar às futuras gerações?