terça-feira, maio 30, 2006

A Ética do Ego (ou vice-versa)

Ética [Do lat. ethica - gr. ethiké.] S. f. Filos. 1. Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. [Cf. bem (1) e moral (1).]

Ego [Do lat. ego.] S. m. 1. O eu de qualquer indivíduo. [Opõe-se a álter.] 2. V. egotismo (1): Seu ego torna-o cada dia mais insuportável.


Neste fim de semana eu estava assistindo o treino da Fórmula 1. Para aqueles que não acompanham F1, o treino é usado para definir as posições de largada na corrida. Como a corrida era em Mônaco, onde é quase impossível ultrapassar, largar na frente seria uma grande vantagem.

Faltava cerca de um minuto para o fim do treino. O piloto alemão Michael Schumacher até então estava com o melhor tempo, mas o piloto espanhol Fernando Alonso vinha fazendo uma volta extremamente rápida, prestes a superar a marca de Schumacher.

De repente, o que era competição vira teatro: Schumacher simula uma quase batida no muro, deixando o carro atravessado na pista, forçando a interrupção do treino e da volta rápida do Alonso. Não havia tempo para outra volta. Portanto, debaixo de vaias, Schumacher se classifica em primeiro lugar, deixando Alonso em segundo.

Após o treino, os oficiais da Federação de Automobilismo corretamente puniram Schumacher forçando-o a largar em último, ficando Alonso com o primeiro lugar na largada e, posteriormente, vencendo a corrida.

Fiquei pensando no que levaria um piloto sete vezes campeão do mundo, que pulverizou todos os recordes da Fórmula 1, que é um dos desportistas mais bem pagos, a fazer uma palhaçada dessas para largar em primeiro e não em segundo. Valeria a pena sujar uma carreira de recordes e sucessos com algo tão pequeno? Creio que a resposta esteja ligada a duas palavras que têm ultimamente seguido direções opostas: a ética e o ego.

A ética deveria nortear as nossas ações, deveria ser a nossa “Constituição” interna dizendo o que é certo e o que é errado. Deveria, junto com a nossa consciência e valores morais, servir como primeiro freio, atuando e nos guiando antes mesmo das crenças religiosas e das leis.

Infelizmente, ao abrirmos os jornais todos os dias, constatamos que a ética anda em falta no mercado. São escândalos, mentiras e golpes de todos os tipos, com pessoas agindo sem escrúpulos, cada um preocupado em levar vantagem sobre os demais, não importa de que forma. É como se o mundo fosse acabar amanhã e cada um quisesse aproveitar os últimos momentos, sem se preocupar com as consequências.


O ego deveria ser aquele que nos torna indivíduos, únicos, o nosso “eu” que é a nossa marca registrada. O ego, em colaboração com outros componentes da psique humana, deveria controlar o comportamento de uma pessoa.

Entretanto, enquanto a ética falta, o ego anda sobrando. O que vemos são egos inflados, viciados – quanto mais inflados, mais querem. Vivemos num momento da história da humanidade em que os egos cegam as pessoas mais que os flashes dos repórteres. Não importa como, o negócio é aparecer, ser bajulado, ser o centro das atenções. Como num transe alucinógeno, perde-se a noção da realidade, do limite e do ridículo.

Essa combinação de falta de ética e excesso de ego, tem levado ao “primeiro eu e que se dane o resto”. Os (maus) exemplos, não faltam: políticos mais preocupados com o bolso do que com a biografia ou com os cidadãos, pseudo-artistas lutando (às vezes literalmente) nos BBB para aparecer, governantes fazendo conchavos com bandidos, presidentes desonrando acordos ou provocando guerras com falsos motivos, CEOs roubando as empresas e os acionistas. E pensar que o coitado do Gérson é que ficou com a fama do “quero levar vantagem em tudo”...

Estes comportamentos, cada vez mais impunes, estão num crescendo, com cada fato ou escândalo superando o anterior, esticando cada vez mais os limites. Desta forma, o que era tabu ou impensável antes, passa a ser aceito agora, abrindo caminho para ir um pouco mais adiante depois.

Cabe à sociedade dar um basta nisso. Temos que adotar comportamentos éticos e exigir o mesmo de nossos representantes. Temos que colocar um freio nos nossos egos, agir como parte do todo e parar de endeusar aqueles que se acham o centro do mundo. Temos que dizer “não” aos Schumachers, às revistas Caras, aos BBBs, aos políticos demagogos e aos falsos salvadores da pátria.

Temos que fazer uma escolha: ou a ética limita o ego, ou o ego continuará a limitar a ética.

domingo, maio 21, 2006

O jogo do empurra – O jogo em que todos perdem

Nos últimos anos muito se tem falado e supostamente investido em “Satisfação do Cliente”, “Central de Atendimento ao Cliente”, “Direito do Consumidor”, etc.

Entretanto, a sensação que se tem é de que os consumidores (todos nós) estão cada vez mais desamparados. Seja o passageiro de avião que tenta inutilmente localizar a bagagem que viajou para local desconhecido, ou o cliente que liga para o telefone 800 (isto quando há um número gratuito disponível) e fica minutos ou horas ouvindo uma gravação monótona agradecendo por uma paciência que já se esgotou há muito tempo, ou o contribuinte que procura resolver algum problema em uma repartição pública e constata que se tornou uma pessoa invisível. Todos estão participando, sem saber, de um jogo chamado “Jogo do Empurra”.

A regra principal do jogo é evitar jogar e passar a vez para o próximo. Na gíria, isto é conhecido como “tirar o corpo fora”. A estratégia é evitar ao máximo assumir responsabilidade por algo e passar adiante.

Tente lembrar qual foi a última vez (se é que alguma vez aconteceu) em que você ouviu alguém dizer: “isto não é da minha área de responsabilidade, mas eu vou pessoalmente cuidar para que este assunto seja resolvido e entrar em contato com você quando estiver resolvido, ou para informar o progresso” e realmente fazê-lo?

Em inglês isto se chama “take ownership”, que em português, numa tradução livre, quer dizer assumir a responsabilidade. Hoje em dia, cada vez mais, é difícil achar uma empresa ou repartição onde os funcionários estejam dispostos a assumir a responsabilidade de resolver um problema, do começo ao fim. A ordem vigente é passar adiante o mais rápido possível. Má vontade pura e simplesmente? Não creio. Acho que há vários motivos possíveis para tal:

1- O desafio da estatística: Com o advento dos Centros de Atendimento a Clientes, também chamados de call centers, grande parte deles terceirizados, o foco passou a ser atender o maior número de pessoas num determinado período de tempo. Os relatórios estatísticos dos centros mostram quantidade de atendimentos por hora, duração média de cada atendimento, tempo de espera na fila, produtividade de cada atendente, etc., mas dificilmente há medições para aferir a eficácia do atendimento, ou seja, se o problema foi efetivamente resolvido. Ora, se eu sou um atendente de um call center e tenho que manter a minha produtividade alta, cumprindo metas pré-estabelecidas, eu vou tentar atender o maior número de pessoas o mais rápido possível. A melhor forma de fazer isto é passar o problema adiante, ou simplesmente dar uma “solução” que na verdade não resolve nada.

2- Treinamento insuficiente: A maioria dos atendentes são funcionários mal pagos, mal treinados, e sem incentivo para fazer aquele “algo mais” em benefício do cliente. Muitos alegam que isso é devido à alta rotatividade do setor, mas creio que esta é a consequência e não a causa, afinal de contas deve ser extremamente frustrante trabalhar nestas condições. Funcionários bem pagos e bem treinados custam caro. Os call centers internos são vistos como centros de custos e não de receitas, ao passo que os terceirizados têm que manter seus custos baixos para poderem ser competitivos. Já os funcionários públicos, além de mal treinados, são desmotivados por salários abaixo dos de mercado e por poucas perspectivas de crescimento de carreira.

3- Compartimentalização: É comum as empresas estarem estruturadas em setores estanque, em que um setor lida apenas com aquilo que lhe diz respeito, não havendo processos que cubram o ciclo de vida completo, abrangendo diversos setores. Isto serve de incentivo adicional ao jogo de empurra. Portanto, não é surpresa que o pobre cliente seja transferido de um setor para outro, muitas vezes voltando ao ponto de origem.

O cliente ou contribuinte virou apenas mais um número numa estatística, apenas mais um a atrapalhar o andamento do jogo. Perdeu-se a sensibilidade, a compaixão, a vontade de fazer a diferença dando uma solução de fato ao problema.

Neste jogo, perdem todos.

Perdem os clientes, que gastam cada vez mais tempo e energia para resolver situações muitas vezes banais, frequentemente desistindo, se resignando pela total sensação de impotência. Exemplos não faltam e pipocam nas reclamações aos jornais, numa tentativa desesperada de serem ouvidos. Quem já lidou com a CEG, Telemar e com repartições públicas sabe a que me refiro.

Perdem também as empresas, pois gastam fortunas em anúncios de produtos e em campanhas institucionais para reforçar a imagem da marca, mas acabam jogando tudo isso fora ao atender mal aquele que ela tanto cortejou – o cliente. Este acaba pulando de uma empresa para outra (quando há alternativas) na busca de um serviço ou produto que cumpra o prometido. Quem já lidou com a Net, operadoras de celular (qualquer uma) e outras empresas que investem mais no marketing do que na qualidade do atendimento, provavelmente já passou por situações semelhantes.

Está na hora das empresas lembrarem que a razão delas existirem é o cliente. Sem o cliente, por mais chato, exigente ou complicado que ele possa ser, não há quem compre os produtos ou serviços.

Hoje em dia várias empresas, como por exemplo as operadoras de celular, oferecem produtos e serviços muito semelhantes. O que poderia e deveria fazer a diferença é o suporte que o cliente obtém no uso destes produtos e serviços. Mas, infelizmente, as empresas resolveram se igualar também neste quesito, por baixo, ignorando o que poderia ser a maior vantagem competitiva.

Portanto, ao entrar no jogo, saiba que você precisará de muita paciência e perseverança para poder ganhar. Provavelmente terá que enfrentar diversas rodadas, voltar várias casas antes de poder seguir em frente, ser penalizado, mas não desista. Quem sabe assim as regras um dia mudam.

quarta-feira, maio 17, 2006

A Lei das Consequências Inesperadas

Todos nós já ouvimos falar da Lei de Murphy, aquela que diz que se algo pode dar errado, certamente dará. O que poucos sabem é que a Lei de Murphy é parte da “Law of Unintended Consequences”, ou Lei das Consequências Inesperadas.

O que diz esta Lei? Ela postula que “quase todas as ações humanas têm pelo menos uma consequência inesperada”. Em outras palavras, ela quer dizer que cada causa tem mais do que uma consequência, incluindo resultados inesperados.

Esta Lei me veio à cabeça ao ler o noticiário dos últimos dias, em particular duas notícias. A primeira, publicada na semana passada, relatava os resultados trimestrais anunciados por diversos bancos brasileiros. Bancos como Bradesco e Itaú anunciaram lucros acima de 700 milhões de dólares, ao passo que o Banco do Brasil registrou um lucro líquido de 1 bilhão de dólares. Um bilhão de dólares! US$ 1.000.000.000,00.

São resultados espantosos, pois se referem ao lucro e não à receita, a um trimestre e não ao ano todo e estão expressos em dólares e não em reais. Além disso, estamos falando de bancos brasileiros e não suíços.

A segunda notícia, publicada ao longo desta semana, descrevia os graves acontecimentos em São Paulo, onde quadrilhas resolveram se rebelar contra a decisão do governo estadual de transferir de prisão alguns dos líderes de facções criminosas. Depois de vários dias de clima de guerra, ficou um saldo de mais de uma centena de mortos, uma população amedrontada e a constatação, mais uma vez, do total despreparo do aparato de segurança pública.

O que a Lei das Consequências Inesperadas tem a ver com estas duas notícias, aparentemente desconexas? Na minha opinião, tudo. Para provar a minha tese, façamos uma viagem no tempo.

Durante os anos da ditadura militar, o governo investiu bastante no aparato de segurança, ao mesmo tempo em que criava as bases para o moderno sistema bancário brasileiro.

A área de segurança, obviamente uma prioridade para um regime que tomou o poder e se manteve nele à base da força, cresceu e se aparelhou, mas com foco deturpado, já que a sua principal missão era proteger o regime e não a população. As atividades de inteligência, cruciais na prevenção e combate ao crime, se voltaram para a identificação dos “comunistas” e não observaram a gradual evolução do crime. O crime organizado até então tinha como principais lideranças os banqueiros de bicho, mas novos personagens surgiram à medida que o tráfico de drogas cresceu e se estruturou.

Com o fim da ditadura militar houve uma ressaca de liberdade e os novos governos eleitos erradamente confundiram repressão ao crime com cerceamento de direitos. Plataformas políticas demagógicas evitaram a imposição de um estado de lei nas favelas e bairros menos favorecidos, criando um campo fértil para o tráfico de drogas se estabelecer como o governo de fato nestas áreas.

Em paralelo, o sistema bancário cresceu bastante durante o governo militar, pois o modelo de desenvolvimento do país se baseava em altos investimentos em obras de infra-estrutura custeadas à base do endividamento, supondo-se que em algum momento elas gerariam receitas e se pagariam. Entretanto, corrupção e má gerência fizeram com que as despesas superassem em muito as receitas, forçando ao aumento sucessivo do endividamento interno e externo. Além disso, nas décadas de 80 e 90, devido às diversas crises no mercado internacional, o dinheiro que até então era barato, passou a ficar mais caro e difícil de ser conseguido, forçando o governo a rolar seus empréstimos em situações cada vez menos vantajosas.

Os bancos brasileiros, intermediários ou fornecedores diretos da matéria-prima que o governo tanto precisava - o dinheiro, experimentaram uma explosão de crescimento, alimentada por uma política de juros altíssimos.

O governo, como principal tomador, passou a ser o principal cliente dos bancos, que deixaram de exercer o seu papel original de fomentadores de negócios. Assim, o mercado não produtivo (capital financiando capital) sufocou o mercado produtivo (capital financiando trabalho), causando inflação, recessão, falta de emprego, empobrecimento da população e total incapacidade de investimento por parte do governo.

Muito embora algum progresso tenha sido feito nos últimos anos no controle das finanças públicas, com redução da inflação, melhoria do perfil da dívida pública e mais transparência no uso do dinheiro público, muito ainda tem que ser feito. O lado social, totalmente relegado a segundo plano nas últimas décadas, continua necessitando de iniciativas sérias, de longo alcance, sem cunho demagógico ou político.

Neste ponto, os dois fatos desconexos, se juntam: de um lado, bancos ricos florescendo em um estado falido, sem capacidade de dar à sua população condições mínimas de trabalho, saúde, educação e segurança, e do outro, quadrilhas bem armadas, solidamente estabelecidas, com efetivo controle de áreas inteiras nas cidades, se aproveitando da miséria do povo e da ausência do estado.

Portanto, o que aconteceu em São Paulo não deveria ser surpresa. Temo que seja apenas o começo de um confronto entre o crime organizado e a sociedade organizada (nem tanto). O Brasil por muitos anos fechou os olhos ou virou o rosto para não ver o crescimento das favelas, o empobrecimento da população, a total inversão de valores que deveriam ser a base de uma sociedade civilizada. Agora, a realidade explode na nossa frente e não tem como fingirmos que não estamos vendo.

Infelizmente, não há solução simples a curto prazo. De imediato, tem que haver repressão séria, eficaz, com os governos municipal, estadual e federal deixando de lado o partidarismo e priorizando o bem estar da população. Aparentemente, esta oportunidade foi perdida em São Paulo, onde supostamente preferiu-se negociar com os bandidos do que dentre os diversos níveis de governo.

A médio e longo prazos, as soluções são bem conhecidas e só não são adotadas por falta de vontade política e de cidadania. São soluções que não dão voto em novembro, mas que poderiam mudar o país. Soluções básicas como tornar o estado mais eficiente e menos corrupto, implantando práticas de gerência profissional, investir em educação, saúde e segurança e incentivar o trabalho, a produção e não apenas o capital improdutivo.

Não é tarefa fácil, mas não é impossível. Não faltam exemplos de países que estavam em situação pior do que o Brasil e hoje despontam no cenário internacional como países competitivos e que estão gerando oportunidades de melhoria de vida para seus povos.

O Brasil tem recursos, talento, uma população ordeira e trabalhadora. Falta apenas liderança. Até que ela apareça, continuaremos a ver as leis do país sendo descumpridas e a Lei das Consequências Inesperadas cada vez mais em evidência.

terça-feira, maio 16, 2006

Pescando o Phishing

Estive lendo um artigo sobre a "explosão" da prática de phishing.

Mas, antes que você feche esta página e eu perca a minha audiência, deixe eu explicar o que é phishing.

Phishing são e-mails que você recebe como se fossem do seu banco ou de algum lugar onde você tem uma conta (pode ser ebay, Amazon, Lojas Americanas, escola, trabalho, etc.). O e-mail parece legítimo - em geral tem o mesmo layout, cores, elementos gráficos e estilo dos e-mails que você está acostumado a receber daquela empresa.

O e-mail pede para você confirmar seus dados, ou verificar se sua conta está ok, ou usa qualquer outro motivo que faça ter que acessar a sua conta no banco, loja, etc. O e-mail fornece um link para o site (ou então um botão tal como “clique aqui”) e este link parece correto.

Ao clicar no link, você é levado para um site igualzinho ao verdadeiro e, achando que você está nele, você faz o seu login fornecendo seu código de usuário e senha.

O que aconteceu de fato? Várias coisas:

1- O e-mail que você recebeu, mesmo parecendo legítimo, provavelmente não é. A maioria das empresas evita comunicação deste tipo, pois elas sabem dos riscos de fraudes.

2- O link em que você clicou, ainda que pareça correto, não é. Mesmo que esteja escrito, por exemplo, http://www.amazon.com ele na verdade pode levar você para um outro site fictício, com outro endereço, que tenha a mesma aparência do Amazon. O que está escrito no link não tem nada a ver com o endereço do link. O mesmo vale para os botões do tipo “clique aqui para acessar a sua conta”.

3- Quando você fez o login no site, seu nome de usuário e senha foram enviados para os criminosos que podem então fazer roubo da sua identidade (agir como se fossem você) e fazer a festa às suas custas. É comum fazerem compras usando a sua conta e fornecerem como endereço de entrega caixas postais, muitas vezes em países com fracos controles de crimes cibernéticos. Muitas vezes acessam dados pessoais e os usam para emissão de documentos falsos, ou solicitação de segunda via de seus documentos.

Esta e' uma daquelas situações MUITO fáceis de se evitar, apenas seguindo estas regras básicas:

1- Se o e-mail que você recebeu estiver mal escrito (erros de digitação ou de concordância), apague de imediato. É falso. Parece incrível, mas boa parte dos e-mails de phishing são mal escritos e ainda assim as pessoas acreditam...

2- Se o e-mail que você recebeu parece legítimo, ainda assim NÃO clique no link ou botão que ele forneceu. Ao invés disso, abra uma outra ocorrência do seu navegador (browser), entre com o endereço que você normalmente usa para acessar o seu banco ou loja (normalmente está na sua lista de favoritos) e aí sim faca o login e verifique se o que está sendo dito no e-mail é verdade.

Isto vale até mesmo para e-mails que você recebe no seu trabalho ou escola, ou de conhecidos, porque o micro de alguém pode estar infectado sem que a pessoa saiba e estar gerando e-mails falsos.

Em resumo, NÃO clique em link que você recebe por e-mail. Entre você mesmo com o endereço que você está acostumado a usar.

Com isso, phishing deixa de ser efetivo e os criminosos vão ter que procurar outro jeito de explorar a credulidade das pessoas.

PS: Este blog não tem nenhum link pedindo para você entrar na sua conta. Se tiver, foi invadido! :-)

segunda-feira, maio 15, 2006

Bolívia 1 x 0 Lula

Alguém aí se lembra de quando os Estados Unidos tiveram a “ousadia” de exigir que estrangeiros entrando no país tivessem as impressões digitais registradas, incluindo na lista cidadãos brasileiros que quisessem visitar os EUA?

Levante a mão quem se lembra da reação indignada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Dos protestos de políticos, jornais, estudantes e de brasileiros que vestiram a camisa da pátria amada violada? Das prontas reações e retaliações?

Pois eu lembro. E lembrei hoje de novo ao ler a noticia de que o presidente da Bolívia, Evo Morales, acusa o Brasil e a Petrobrás de operarem fora da lei, de terem praticado contratos ilegais e contrabando. Lembrei também da foto do mesmo Lula (não vou mais tratá-lo por "presidente", porque não faz jus ao título), tirada no início desta semana, sorridente ao lado do mesmo Morales, declarando que não havia crise e que a atitude da Bolívia, ao nacionalizar as empresas de exploração de gás, era correta.

Onde está a indignação exibida contra os EUA, ao vermos o país e a sua maior empresa serem taxados de foras da lei, por um país que tem como característica ser um dos maiores produtores de cocaína? Onde estão os defensores da pátria, que não se manifestam ao verem bilhões de dólares investidos pela Petrobrás na Bolívia, para extração e transporte do gás boliviano, serem tomados à força, incluindo a invasão das instalações da Petrobrás na Bolívia por soldados bolivianos?

Para quem não sabe, alguns dados sobre a Bolívia: País com pouco menos de 9 milhões de habitantes, o mais pobre da América Latina, principalmente devido ao alto índice de corrupção e instabilidade política. Entretanto, tem muitas riquezas naturais, tais como gás, prata, ferro e magnésio, sendo conhecido como "donkey sitting on a gold mine" (burro sentado na mina de ouro).

A Petrobrás iniciou suas atividades na Bolívia no ano de 1995, através de sua subsidiaria Petrobrás Bolívia S.A., em virtude dos acordos de integração energética assinados entre a Bolívia e o Brasil. Sua criação esteve estrategicamente ligada à exploração das reservas de gás para garantir o fornecimento ao gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL), concluído em dezembro de 1998, com uma extensão de 3.150 km e um investimento total de US$ 8 bilhões.

O Brasil viabilizou a exploração e a venda do gás boliviano, construindo o gasoduto que leva o gás até São Paulo, assegurando à Bolívia um preço que na época gerou muitas críticas internas no Brasil, por ser mais alto que o preço de mercado. Sem a Petrobrás, o gás boliviano provavelmente ainda estaria embaixo da terra, parte dele sequer descoberto. Os contratos que Evo Morales diz serem ilegais previam que a Petrobrás Bolívia faria a pesquisa de alto risco em algumas áreas onde ainda não havia sido descoberto gás: se não achasse nada, 100% dos custos eram absorvidos pela Petrobrás. Se achasse, 50% dos custos ficavam por conta da Petrobrás e 50% por conta da estatal boliviana YPFB. Pois bem, as descobertas feitas pela Petrobrás equivalem a quase 40% das atuais reservas certificadas da Bolívia.

Portanto, o Brasil ajudou a Bolívia a descobrir e a explorar as riquezas que a Bolívia nunca foi capaz de tirar proveito sozinha. O Brasil ofereceu um mercado cativo (as indústrias de São Paulo), com um preço e consumo mínimos garantidos e, ao invés de ser tratado como parceiro preferencial, é escorraçado e tratado como criminoso e aproveitador.

Fará muito bem a Petrobrás se suspender os investimentos que estavam sendo feitos na Bolívia e direcioná-los para a utilização do gás gerado nas plataformas de extração de petróleo na costa do Brasil (principalmente na Bacia de Campos), gás este que hoje é queimado ou injetado de volta nos campos, por incapacidade de aproveitamento. Não é uma solução de curtíssimo prazo, mas é uma solução estratégica.

Está na hora do lula acordar e parar de querer ser como os morales, castros e chavez (todos com minúsculas mesmo, pois minúsculos o são). Está na hora do lula adotar uma postura de estadista, nem que seja apenas por encenação, e não deixar que os nomes do país e de suas empresas sejam desmoralizados deste jeito.

Não adianta andar de avião último tipo, fazer bravatas contra os americanos e pleitear um lugar no Conselho de Segurança da ONU, se sequer conseguimos ter respeito no nosso quintal. Já que o (des) governo lula não consegue ajudar a Petrobrás, que então fique calado e não dê mais declarações ridículas como as do início da semana passada.

Orkut ou nao?

Durante os meus 30 anos de trabalho na área de informática, por diversas vezes recebi consultas de amigos e parentes como do tipo: “que computador devo comprar?”, “qual o melhor programa para fazer isso ou aquilo?”, “como tiro vírus?”, etc. Entretanto, recentemente a pergunta mais comum é: “devo deixar meu filho usar o Orkut?”.

A explosão do uso do Orkut no Brasil evidenciou ainda mais o problema, uma vez que adultos e crianças agora podem rápida e facilmente, sem maiores conhecimentos técnicos, criar suas próprias páginas na internet e compartilhá-las com outros internautas.

A questão não se resume apenas a usar ou não o Orkut - sendo bem mais abrangente, devendo ser abordada por partes:

(I) Orkut: Pessoalmente, não gosto. A idéia de reunir amigos é boa, mas desandou numa exposição extremada, cada um buscando seus 15 segundos de fama.

O xis da questão é: devemos incentivar esta super exposição? Devemos viver num BBB on-line? Não creio que para uma criança ou para um adolescente seja positivo entrar na moda de se expor. Por outro lado, reconheço a dificuldade em evitar totalmente pois, como eles próprios dirão, “todo mundo usa e tem” (e se não usarem em casa, o farão na casa de algum amigo).

Temos ainda a questão da segurança. Mesmo com tanta paranóia, muitos falsos alarmes circulando, não vale arriscar demais. Imagine um advogado que ganhe uma ação de divórcio e o marido da cliente, vencido e muito aborrecido, resolva se vingar dele? Ou um funcionário demitido, achando que o patrão foi injusto, resolva dar o troco?
As informações sobre a família dos seus desafetos estão todas lá no Orkut: nomes, fotos das crianças, da casa, nome da escola, nome dos amigos e muito mais.

Improvável, mas não impossível.

(II) Internet de uma forma geral (incluindo comunicadores instantâneos como AIM e MSN): A internet é um espelho do mundo em que vivemos. Há muitas coisas boas, e muito lixo também. Assim como existem tanto os bairros com lugares e ruas seguras quanto os bairros mais “barra pesada”, a internet tem sites bons e sites ruins. Pessoas boas e pessoas ruins.

Você poderia prender seu filho ou sua filha em casa e não deixá-los ir à rua? Quando eles estiverem com 16, 18 anos, você terá como evitar (ou até como saber) que eles visitem um lugar perigoso com um amigo ou amiga, nem que seja por curiosidade? Não tem como. Da mesma forma, você não terá como evitar que eles naveguem a vontade pela internet e caiam num site ruim, até mesmo por acidente.

Até aqui não foi respondida a pergunta principal: “devo deixar meu filho usar o Orkut?”

Então, como profissional da área, mas, principalmente, como pai de dois adolescentes que “sobreviveram” na internet, creio não ser possível remar contra a corrente. Impensável colocar os filhos numa redoma para evitar que se envolvam em encrencas, se machuquem, sofram ou façam besteiras. Como podemos contribuir? Explicando, prevenindo, ajudando, ensinando e monitorando.

Sugiro conversar com os seus filhos para explicar os riscos da internet. Seja bem claro e específico, do contrário eles não entenderão, achando que há exagero dos pais, fingindo que escutam mas na prática não interiorizando a idéia.

Normalmente as pessoas (e principalmente as crianças) tendem a acreditar e confiar em tudo que aparece no computador, afinal é através dele que obtemos várias informações. É preciso despertar neles a desconfiança, o sentido de ficar alerta. Explique: 1º) NUNCA colocar dados pessoais que permitam identificação, tais como nome completo, endereço e telefone; 2º) NUNCA se comunicar por e-mail ou mensagem instantânea com quem não conhecem, nem que a pessoa do outro lado alegue ter 10 anos, ou ser amiga de fulano; 3º) NUNCA entrar em links enviados por e-mails de desconhecidos (é melhor nem abrir esses e-mails).

Explique aos filhos que usar a internet não é um DIREITO deles, e sim um PRIVILÉGIO que pode ser cortado a qualquer momento (da mesma forma que ir passar o fim de semana na casa de um amigo não é direito e sim uma concessão dos pais, normalmente revogada quando fazem algo de errado).

Deixe bem claro que você monitorará os sites visitados, as páginas deles no Orkut, os e-mails e as mensagens instantâneas, não porque queira bisbilhotar a comunicação (muito cuidado para não cair na tentação), mas sim para ter certeza de que eles estão seguros e para poder corrigir o rumo caso algo não esteja certo. Explique que, à medida que eles forem aprendendo a utilizar as ferramentas e os procedimentos com segurança, sem que se exponham, você ficará mais tranquilo e progressivamente diminuirá a monitoração.

Você deve manter uma postura de quem está disposto a ajudar ao invés de policiar. Assim, eles buscarão o seu apoio e não agirão às escondidas. Você poderá até ajudá-los a construir a página no Orkut, ou fazer uma para você e mostrar a eles, agindo como modelo.

Lembre-se: a criança observa e se espelha no modelo dos pais. Não adianta dizer uma coisa e fazer outra.

Tente fazê-los entender que isso é para o bem deles. Faça a analogia da bicicleta: quando eles estavam aprendendo a andar de bicicleta, você segurava e não deixava que andassem sozinhos, não porque você não quisesse que andassem sozinhos, mas porque você não queria que caíssem e se machucassem. À medida que demonstraram equilíbrio, você foi soltando e deixando irem sozinhos. Lógico que às vezes eles caíam, mas o tombo também fez parte do aprendizado.

Sei que isso é difícil, porque temos que passar para uma criança uma desconfiança de adulto. Não vejo outra maneira. Hoje as crianças estão muito mais expostas ao mundo adulto via TV e internet e, infelizmente, temos que ‘matar’ um pouco da inocência delas para que criem anticorpos suficientes e possam crescer saudáveis, fazendo as escolhas corretas.

Encerro desejando boa sorte – sempre ajuda...