terça-feira, maio 30, 2006

A Ética do Ego (ou vice-versa)

Ética [Do lat. ethica - gr. ethiké.] S. f. Filos. 1. Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. [Cf. bem (1) e moral (1).]

Ego [Do lat. ego.] S. m. 1. O eu de qualquer indivíduo. [Opõe-se a álter.] 2. V. egotismo (1): Seu ego torna-o cada dia mais insuportável.


Neste fim de semana eu estava assistindo o treino da Fórmula 1. Para aqueles que não acompanham F1, o treino é usado para definir as posições de largada na corrida. Como a corrida era em Mônaco, onde é quase impossível ultrapassar, largar na frente seria uma grande vantagem.

Faltava cerca de um minuto para o fim do treino. O piloto alemão Michael Schumacher até então estava com o melhor tempo, mas o piloto espanhol Fernando Alonso vinha fazendo uma volta extremamente rápida, prestes a superar a marca de Schumacher.

De repente, o que era competição vira teatro: Schumacher simula uma quase batida no muro, deixando o carro atravessado na pista, forçando a interrupção do treino e da volta rápida do Alonso. Não havia tempo para outra volta. Portanto, debaixo de vaias, Schumacher se classifica em primeiro lugar, deixando Alonso em segundo.

Após o treino, os oficiais da Federação de Automobilismo corretamente puniram Schumacher forçando-o a largar em último, ficando Alonso com o primeiro lugar na largada e, posteriormente, vencendo a corrida.

Fiquei pensando no que levaria um piloto sete vezes campeão do mundo, que pulverizou todos os recordes da Fórmula 1, que é um dos desportistas mais bem pagos, a fazer uma palhaçada dessas para largar em primeiro e não em segundo. Valeria a pena sujar uma carreira de recordes e sucessos com algo tão pequeno? Creio que a resposta esteja ligada a duas palavras que têm ultimamente seguido direções opostas: a ética e o ego.

A ética deveria nortear as nossas ações, deveria ser a nossa “Constituição” interna dizendo o que é certo e o que é errado. Deveria, junto com a nossa consciência e valores morais, servir como primeiro freio, atuando e nos guiando antes mesmo das crenças religiosas e das leis.

Infelizmente, ao abrirmos os jornais todos os dias, constatamos que a ética anda em falta no mercado. São escândalos, mentiras e golpes de todos os tipos, com pessoas agindo sem escrúpulos, cada um preocupado em levar vantagem sobre os demais, não importa de que forma. É como se o mundo fosse acabar amanhã e cada um quisesse aproveitar os últimos momentos, sem se preocupar com as consequências.


O ego deveria ser aquele que nos torna indivíduos, únicos, o nosso “eu” que é a nossa marca registrada. O ego, em colaboração com outros componentes da psique humana, deveria controlar o comportamento de uma pessoa.

Entretanto, enquanto a ética falta, o ego anda sobrando. O que vemos são egos inflados, viciados – quanto mais inflados, mais querem. Vivemos num momento da história da humanidade em que os egos cegam as pessoas mais que os flashes dos repórteres. Não importa como, o negócio é aparecer, ser bajulado, ser o centro das atenções. Como num transe alucinógeno, perde-se a noção da realidade, do limite e do ridículo.

Essa combinação de falta de ética e excesso de ego, tem levado ao “primeiro eu e que se dane o resto”. Os (maus) exemplos, não faltam: políticos mais preocupados com o bolso do que com a biografia ou com os cidadãos, pseudo-artistas lutando (às vezes literalmente) nos BBB para aparecer, governantes fazendo conchavos com bandidos, presidentes desonrando acordos ou provocando guerras com falsos motivos, CEOs roubando as empresas e os acionistas. E pensar que o coitado do Gérson é que ficou com a fama do “quero levar vantagem em tudo”...

Estes comportamentos, cada vez mais impunes, estão num crescendo, com cada fato ou escândalo superando o anterior, esticando cada vez mais os limites. Desta forma, o que era tabu ou impensável antes, passa a ser aceito agora, abrindo caminho para ir um pouco mais adiante depois.

Cabe à sociedade dar um basta nisso. Temos que adotar comportamentos éticos e exigir o mesmo de nossos representantes. Temos que colocar um freio nos nossos egos, agir como parte do todo e parar de endeusar aqueles que se acham o centro do mundo. Temos que dizer “não” aos Schumachers, às revistas Caras, aos BBBs, aos políticos demagogos e aos falsos salvadores da pátria.

Temos que fazer uma escolha: ou a ética limita o ego, ou o ego continuará a limitar a ética.

Um comentário:

Anônimo disse...

falou bem!!! Pior do que isso é aprender a conviver com aqueles que têm excesso de um ou outro 'adjetivo'. Sim, porque a conclusão é que pessoas com outros conceitos de ética e inflados de ego, estão por todo lado.....