segunda-feira, junho 05, 2006

Minha avó

Hoje faleceu a minha avó. Finalmente descansou, pois desde que o meu avô faleceu ela havia perdido a lucidez, não mais reconhecendo as pessoas, vivendo numa outra dimensão, num mundo só dela.

Ainda que ache que ela se libertou do peso em que a vida havia se transformado para ela, estou sentindo um vazio muito grande. Um vazio de quem não é mais neto de ninguém, já que não tenho mais avôs ou avós vivos. Um vazio por não mais poder saborear os pés-de-moleque que só ela sabia fazer. Um vazio por nunca ter me despedido propriamente (se é que isso existe)...

Minha avó era uma pessoa muito engraçada. Tendo imigrado para o Brasil ainda jovem, sem saber o português, nunca perdeu o sotaque que lhe era característico. Como toda avó, adorava empurrar comida nos netos e ficava ofendidíssima (adorava um drama!) se recusássemos. Não dava para visitá-la sem encher a barriga. Não dava também para escapar daqueles beijos que pareciam que iam arrancar fora a nossa bochecha. Adorava pegar a gente para um jogo de buraco, mas ficava possessa quando a flagrávamos jogando de forma “menos ortodoxa”.

Ela não bebia nem fumava, era a típica dona de casa, mas tinha um hábito que já tinha se tornado parte do folclore da família: adorava jogar no bicho. Jogava mixaria, trocados, mas era o passatempo dela (como o bingo dos aposentados, hoje em dia). Até quando a gente viajava de férias para alguma outra cidade, não sei como, ela sempre dava um jeito de achar o apontador de bicho local. O meu avô, muito rígido, não gostava e brigava, o que me fez, já adulto, de vez em quando, dar a ela algum dinheiro escondido para ela jogar na “brabuleta”.

Ainda que ela tivesse opiniões fortes, tinha uma certa ingenuidade infantil. Adorava uma festa e fazia o maior sacrifício para não perder nenhuma, apesar da artrose nos joelhos que a incomodava desde que eu me conheço por gente. Era muito vaidosa e se arrumava toda, com capricho.

Ela se foi, deixando saudades, mas ficou na memória dos muitos filhos, netos e bisnetos. Espero que onde ela esteja agora tenha sempre muita festa, com muita comida e convidados. Tenho certeza que, a essa altura, ela até fez uma fezinha, escondida do meu avô...

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Marcos realmente é tudo isso que vc disse da vovó mais faltou o LILILILIL!!!!!
quando nós chegavamos na casa
dela e tambem das rosquinhas , kibes , pasteis de queijo a confusão na mesa para jantar travessas de comidas, tudo isso vai ficar na saudade.
Bjos
Marcia