segunda-feira, maio 15, 2006

Bolívia 1 x 0 Lula

Alguém aí se lembra de quando os Estados Unidos tiveram a “ousadia” de exigir que estrangeiros entrando no país tivessem as impressões digitais registradas, incluindo na lista cidadãos brasileiros que quisessem visitar os EUA?

Levante a mão quem se lembra da reação indignada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Dos protestos de políticos, jornais, estudantes e de brasileiros que vestiram a camisa da pátria amada violada? Das prontas reações e retaliações?

Pois eu lembro. E lembrei hoje de novo ao ler a noticia de que o presidente da Bolívia, Evo Morales, acusa o Brasil e a Petrobrás de operarem fora da lei, de terem praticado contratos ilegais e contrabando. Lembrei também da foto do mesmo Lula (não vou mais tratá-lo por "presidente", porque não faz jus ao título), tirada no início desta semana, sorridente ao lado do mesmo Morales, declarando que não havia crise e que a atitude da Bolívia, ao nacionalizar as empresas de exploração de gás, era correta.

Onde está a indignação exibida contra os EUA, ao vermos o país e a sua maior empresa serem taxados de foras da lei, por um país que tem como característica ser um dos maiores produtores de cocaína? Onde estão os defensores da pátria, que não se manifestam ao verem bilhões de dólares investidos pela Petrobrás na Bolívia, para extração e transporte do gás boliviano, serem tomados à força, incluindo a invasão das instalações da Petrobrás na Bolívia por soldados bolivianos?

Para quem não sabe, alguns dados sobre a Bolívia: País com pouco menos de 9 milhões de habitantes, o mais pobre da América Latina, principalmente devido ao alto índice de corrupção e instabilidade política. Entretanto, tem muitas riquezas naturais, tais como gás, prata, ferro e magnésio, sendo conhecido como "donkey sitting on a gold mine" (burro sentado na mina de ouro).

A Petrobrás iniciou suas atividades na Bolívia no ano de 1995, através de sua subsidiaria Petrobrás Bolívia S.A., em virtude dos acordos de integração energética assinados entre a Bolívia e o Brasil. Sua criação esteve estrategicamente ligada à exploração das reservas de gás para garantir o fornecimento ao gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL), concluído em dezembro de 1998, com uma extensão de 3.150 km e um investimento total de US$ 8 bilhões.

O Brasil viabilizou a exploração e a venda do gás boliviano, construindo o gasoduto que leva o gás até São Paulo, assegurando à Bolívia um preço que na época gerou muitas críticas internas no Brasil, por ser mais alto que o preço de mercado. Sem a Petrobrás, o gás boliviano provavelmente ainda estaria embaixo da terra, parte dele sequer descoberto. Os contratos que Evo Morales diz serem ilegais previam que a Petrobrás Bolívia faria a pesquisa de alto risco em algumas áreas onde ainda não havia sido descoberto gás: se não achasse nada, 100% dos custos eram absorvidos pela Petrobrás. Se achasse, 50% dos custos ficavam por conta da Petrobrás e 50% por conta da estatal boliviana YPFB. Pois bem, as descobertas feitas pela Petrobrás equivalem a quase 40% das atuais reservas certificadas da Bolívia.

Portanto, o Brasil ajudou a Bolívia a descobrir e a explorar as riquezas que a Bolívia nunca foi capaz de tirar proveito sozinha. O Brasil ofereceu um mercado cativo (as indústrias de São Paulo), com um preço e consumo mínimos garantidos e, ao invés de ser tratado como parceiro preferencial, é escorraçado e tratado como criminoso e aproveitador.

Fará muito bem a Petrobrás se suspender os investimentos que estavam sendo feitos na Bolívia e direcioná-los para a utilização do gás gerado nas plataformas de extração de petróleo na costa do Brasil (principalmente na Bacia de Campos), gás este que hoje é queimado ou injetado de volta nos campos, por incapacidade de aproveitamento. Não é uma solução de curtíssimo prazo, mas é uma solução estratégica.

Está na hora do lula acordar e parar de querer ser como os morales, castros e chavez (todos com minúsculas mesmo, pois minúsculos o são). Está na hora do lula adotar uma postura de estadista, nem que seja apenas por encenação, e não deixar que os nomes do país e de suas empresas sejam desmoralizados deste jeito.

Não adianta andar de avião último tipo, fazer bravatas contra os americanos e pleitear um lugar no Conselho de Segurança da ONU, se sequer conseguimos ter respeito no nosso quintal. Já que o (des) governo lula não consegue ajudar a Petrobrás, que então fique calado e não dê mais declarações ridículas como as do início da semana passada.

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