segunda-feira, maio 15, 2006

Orkut ou nao?

Durante os meus 30 anos de trabalho na área de informática, por diversas vezes recebi consultas de amigos e parentes como do tipo: “que computador devo comprar?”, “qual o melhor programa para fazer isso ou aquilo?”, “como tiro vírus?”, etc. Entretanto, recentemente a pergunta mais comum é: “devo deixar meu filho usar o Orkut?”.

A explosão do uso do Orkut no Brasil evidenciou ainda mais o problema, uma vez que adultos e crianças agora podem rápida e facilmente, sem maiores conhecimentos técnicos, criar suas próprias páginas na internet e compartilhá-las com outros internautas.

A questão não se resume apenas a usar ou não o Orkut - sendo bem mais abrangente, devendo ser abordada por partes:

(I) Orkut: Pessoalmente, não gosto. A idéia de reunir amigos é boa, mas desandou numa exposição extremada, cada um buscando seus 15 segundos de fama.

O xis da questão é: devemos incentivar esta super exposição? Devemos viver num BBB on-line? Não creio que para uma criança ou para um adolescente seja positivo entrar na moda de se expor. Por outro lado, reconheço a dificuldade em evitar totalmente pois, como eles próprios dirão, “todo mundo usa e tem” (e se não usarem em casa, o farão na casa de algum amigo).

Temos ainda a questão da segurança. Mesmo com tanta paranóia, muitos falsos alarmes circulando, não vale arriscar demais. Imagine um advogado que ganhe uma ação de divórcio e o marido da cliente, vencido e muito aborrecido, resolva se vingar dele? Ou um funcionário demitido, achando que o patrão foi injusto, resolva dar o troco?
As informações sobre a família dos seus desafetos estão todas lá no Orkut: nomes, fotos das crianças, da casa, nome da escola, nome dos amigos e muito mais.

Improvável, mas não impossível.

(II) Internet de uma forma geral (incluindo comunicadores instantâneos como AIM e MSN): A internet é um espelho do mundo em que vivemos. Há muitas coisas boas, e muito lixo também. Assim como existem tanto os bairros com lugares e ruas seguras quanto os bairros mais “barra pesada”, a internet tem sites bons e sites ruins. Pessoas boas e pessoas ruins.

Você poderia prender seu filho ou sua filha em casa e não deixá-los ir à rua? Quando eles estiverem com 16, 18 anos, você terá como evitar (ou até como saber) que eles visitem um lugar perigoso com um amigo ou amiga, nem que seja por curiosidade? Não tem como. Da mesma forma, você não terá como evitar que eles naveguem a vontade pela internet e caiam num site ruim, até mesmo por acidente.

Até aqui não foi respondida a pergunta principal: “devo deixar meu filho usar o Orkut?”

Então, como profissional da área, mas, principalmente, como pai de dois adolescentes que “sobreviveram” na internet, creio não ser possível remar contra a corrente. Impensável colocar os filhos numa redoma para evitar que se envolvam em encrencas, se machuquem, sofram ou façam besteiras. Como podemos contribuir? Explicando, prevenindo, ajudando, ensinando e monitorando.

Sugiro conversar com os seus filhos para explicar os riscos da internet. Seja bem claro e específico, do contrário eles não entenderão, achando que há exagero dos pais, fingindo que escutam mas na prática não interiorizando a idéia.

Normalmente as pessoas (e principalmente as crianças) tendem a acreditar e confiar em tudo que aparece no computador, afinal é através dele que obtemos várias informações. É preciso despertar neles a desconfiança, o sentido de ficar alerta. Explique: 1º) NUNCA colocar dados pessoais que permitam identificação, tais como nome completo, endereço e telefone; 2º) NUNCA se comunicar por e-mail ou mensagem instantânea com quem não conhecem, nem que a pessoa do outro lado alegue ter 10 anos, ou ser amiga de fulano; 3º) NUNCA entrar em links enviados por e-mails de desconhecidos (é melhor nem abrir esses e-mails).

Explique aos filhos que usar a internet não é um DIREITO deles, e sim um PRIVILÉGIO que pode ser cortado a qualquer momento (da mesma forma que ir passar o fim de semana na casa de um amigo não é direito e sim uma concessão dos pais, normalmente revogada quando fazem algo de errado).

Deixe bem claro que você monitorará os sites visitados, as páginas deles no Orkut, os e-mails e as mensagens instantâneas, não porque queira bisbilhotar a comunicação (muito cuidado para não cair na tentação), mas sim para ter certeza de que eles estão seguros e para poder corrigir o rumo caso algo não esteja certo. Explique que, à medida que eles forem aprendendo a utilizar as ferramentas e os procedimentos com segurança, sem que se exponham, você ficará mais tranquilo e progressivamente diminuirá a monitoração.

Você deve manter uma postura de quem está disposto a ajudar ao invés de policiar. Assim, eles buscarão o seu apoio e não agirão às escondidas. Você poderá até ajudá-los a construir a página no Orkut, ou fazer uma para você e mostrar a eles, agindo como modelo.

Lembre-se: a criança observa e se espelha no modelo dos pais. Não adianta dizer uma coisa e fazer outra.

Tente fazê-los entender que isso é para o bem deles. Faça a analogia da bicicleta: quando eles estavam aprendendo a andar de bicicleta, você segurava e não deixava que andassem sozinhos, não porque você não quisesse que andassem sozinhos, mas porque você não queria que caíssem e se machucassem. À medida que demonstraram equilíbrio, você foi soltando e deixando irem sozinhos. Lógico que às vezes eles caíam, mas o tombo também fez parte do aprendizado.

Sei que isso é difícil, porque temos que passar para uma criança uma desconfiança de adulto. Não vejo outra maneira. Hoje as crianças estão muito mais expostas ao mundo adulto via TV e internet e, infelizmente, temos que ‘matar’ um pouco da inocência delas para que criem anticorpos suficientes e possam crescer saudáveis, fazendo as escolhas corretas.

Encerro desejando boa sorte – sempre ajuda...

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