terça-feira, agosto 21, 2012

Diários de Viagem: 13 - Desbravando o Golan

Depois de uma noite de sono profundo no silêncio do hotel em Ramot, acordamos com mais um dia de sol. A região toda (Galiléia e Golan) é uma das mais bonitas e agradáveis de Israel, com campos férteis (coisa preciosa num país desértico), vegetação exuberante, riachos e montanhas.

Visitando esta região, a gente entende como ela é importante para Israel do ponto de vista geográfico, estratégico e econômico. As montanhas formam uma defesa natural nas fronteiras com Líbano e Síria. Os campos férteis permitem o plantio, essencial para a economia doméstica e exportações. A água, talvez o principal recurso, é vital, pois o Rio Jordão é praticamente a única fonte de água doce de Israel.

Como éramos os únicos hóspedes, o café da manhã estava nos aguardando na hora marcada. Ele foi servido no andar de cima da casa/escritório dos donos e foi bem simples, nada de mais. Conversamos um pouco com a dona, uma senhora simpática e retraída, enquanto o marido tinha uma personalidade mais "exuberante", meio casca grossa, mas boa gente também.

Como teríamos que pagar o hotel em dinheiro por causa da confusão que o hotels.com fez com a nossa reserva, ele sugeriu que fôssemos à uma cidade próxima, chamada Qatsrin (ou Qatzrin, ou Katzrin - essas variações de transliteração do hebraico são de enlouquecer GPS!), onde poderíamos sacar. Depois de tomarmos o café, andamos um pouco pela propriedade, muito florida e bem tratada e tiramos algumas fotos, que podem ser vistas clicando aqui.

Desbravando o Golan
Pegamos o carro e, de Ramot (letra F no mapa ao lado, que pode ser ampliado clicando nele) descemos na direção do Lago Tibérias (ou Mar da Galiléia, ou Lago Kineret). Paramos na beira só para "registrar" que estivemos lá, molhando os pés e as mãos, já que a "praia" mesmo ficava em Tibérias e não tínhamos tempo. O lago, famoso principalmente na fé cristã (pois foi onde Jesus foi batizado), é bem grande, com água clara e fundo de pedras. A água, que estava meio fria, vem das montanhas para o Rio Jordão que então desagua no lago.

De lá, pegamos a estrada rumo a Qatsrim (letra B no mapa). As estradas na Galiléia e no Golan em geral são estreitas, com muitas curvas, subidas e descidas, já que vão serpenteando entre as colinas. É um passeio muito agradável.

Qatsrim não era longe e chegamos rapidamente. É o maior assentamento judaico da região e, por isso, considerado "a capital do Golan", com cerca de 6700 habitantes. Por incrível que pareça, foi difícil acharmos uma vaga para estacionar e finalmente conseguimos, próximo a um pequeno shopping center, que tinha um supermercado, algumas lojinhas e uma agência do correio. Aproveitamos para despachar alguns postais, sacamos o dinheiro no próprio correio e fizemos algumas compras no supermercado. Foi interessante ver uma cidade pequena típica do interior de Israel.

De lá pegamos a estrada novamente, continuando rumo norte, para a fortaleza de Nimrod (letra C no mapa). Nimrod é uma fortaleza medieval, localizada a 800 metros acima do mar, construída em torno do ano 1229 pelos árabes, para se defenderem dos cruzados. Depois das cruzadas, ela perdeu a utilidade e aos poucos foi se deteriorando, tendo também sido bastante danificada por um terremoto no século 18. Hoje é um parque nacional.

Foi meio complicado chegar lá, porque o GPS se perdia e a gente ficava rodando. Passamos por alguns momentos meio estressantes, como por exemplo quando estávamos num trecho muito estreito de uma estrada de mão dupla, no alto de um desfiladeiro e vinha um caminhão enorme do outro lado, quase jogando a gente lá embaixo, ou quando o GPS nos levou para uma vizinhança árabe em que tivemos a sensação de sermos fuzilados com os olhares...

Depois de muito tempo perdidos e de quase termos desistido, finalmente conseguimos chegar. O visual lá de cima é fantástico, porque dá para ter uma vista de 360 graus do Golan todo, ou pelo menos boa parte dele, com suas muitas colinas.

As ruínas da fortaleza se estendem por uma área bastante grande, com muito sobe e desce de escadas. Nas construções que sobraram, nota-se sempre a preocupação com a defesa do local, evidenciada por janelas que são pequenas do lado de fora mas amplas do lado de dentro (para permitir vários arqueiros atirarem e não serem atingidos), corredores com saídas ocultas (para uma eventual fuga), cisternas subterrâneas (para garantir o abastecimento de água), além evidentemente de paredes e muralhas reforçadas.

Um fato interessante: Há um filme israelense (muito bom, por sinal), chamado Beaufort, sobre o Castelo Beaufort, que fica no sul do Líbano (na parte que durante um tempo foi dominada por Israel). Como não dava para filmar lá, a filmagem foi feita em Nimrod. Ou seja, Nimrod fez papel de dublê para Beaufort...

A fortaleza tem uma parte que é como se fosse uma fortaleza menor dentro da maior. Essa parte tinha uma construção mais alta no meio, como uma torre. Como já tínhamos subido e descido muito, a Pat não queria subir e então fui sozinho para fotografar e filmar lá do alto. A escadaria era grande e vinha descendo um grupo escolar de adolescentes israelenses na faixa de uns 13 a 15 anos de idade, naquela bagunça habitual. No meio do caminho, eles passam por mim, eu me encolho no canto para dar passagem e ouço dizerem em inglês: "Sejam bem vindos ao nosso país. Nós amamos vocês" e continuaram descendo, enquanto eu, pasmo, continuei subindo. Realmente Israel é um país de surpresas infindáveis...

Veja as fotos tiradas no lago Kineret e na fortaleza de Nimrod clicando aqui.

Vista aérea de Nimrod (clique na foto para ampliar)

Saindo de Nimrod, dirigimos para Banias, que ficava a poucos quilômetros (letra D no mapa). Banias é outro parque nacional, famoso pela sua cachoeira. Ao chegarmos na entrada do parque, fomos no guichê apresentar o nosso passe que dava direito ao ingresso. Aí o guarda/atendente perguntou se estávamos levando água e, ao respondermos que não, sugeriu que levássemos. Compramos então duas garrafas na lanchonete próxima. Podia ser até que ele ganhasse comissão, mas o conselho dele valeu: a caminhada pela trilha dentro do parque foi feita sob um sol escaldante, abafado. Apesar de ter bastante vegetação, talvez pela umidade, o calor era terrível.

A trilha era meio íngreme em alguns pontos, mas facilitava o fato de que em geral estávamos descendo. Aos poucos (depois de mais de meia hora andando), começamos a ouvir barulho de água ao longe. Aí a trilha virou escada e depois um caminho dentro da mata, o que aliviou o sol, mas aumentou a umidade. Parecia estarmos fazendo sauna. De repente, começamos a ver algumas corredeiras e quedas de água, achando que aquilo era a cachoeira. Fui tirando fotos e filmando, mas a medida que continuamos andando, o negócio não acabava, cada vez com mais corredeiras e quedas e começamos a desconfiar que a cachoeira mesmo ainda estava por vir.

Depois de um tempo, o barulho de água foi aumentando e aí sim chegamos à cachoeira. Muito bonita, forte e foi até difícil fotografar de perto devido aos respingos no ar. Por outro lado, considerando o calor, foi um bom refresco. A cachoeira é resultado de uma nascente no monte Hermon (o mais alto do Golan), que desce 3,5 km por um desfiladeiro até entrar no parque de Banias e formar a maior cachoeira de Israel. Essa nascente, 9 km depois da sua origem, encontra com o Rio Dan e juntos formam o Rio Jordão.

Por sorte, o caminho de volta era mais direto, ainda que subindo, e foi mais fácil voltar. Parece que tinha uma outra trilha que levava para mais uma cachoeira ou para a nascente desta, mas já estava tarde, além de não termos mais disposição para encarar mais uma trilha...Veja as fotos de Banias clicando aqui.

Cansados e com fome, pegamos o carro para irmos a um restaurante na beira do Rio Dan (mencionado acima), chamado Dag Al HaDan (Peixe no Dan). Ele ficava próximo (letra E no mapa acima), mas para variar, demoramos porque o GPS não achava. O que acontece em Israel é que os nomes das ruas e lugares são escritos em hebraico e quando transliterados para o nosso alfabeto, várias versões diferentes surgem, o que dificulta localizar no GPS. Para piorar, a maioria dos lugares tem um nome em hebraico, outro nome em árabe e muitas vezes um terceiro nome no nosso alfabeto. Por exemplo, a cidade de Acre chama-se Akko em hebraico e Akka em árabe...

Bom, depois de várias tentativas, finalmente chegamos. O restaurante é realmente escondido no meio da mata e ao estacionarmos ficamos na dúvida se era ali mesmo, porque do estacionamento só víamos umas casinhas, o rio, a mata e umas galinhas soltas correndo (resolvemos que não seria uma boa pedir um prato de frango). Mas, era lá mesmo. O ambiente é bem interessante: chão de terra, mesinhas na beira do rio, cercadas por árvores de copas altas. A especialidade: trutas de rio, criadas ali mesmo.

O garçom era bem jovem, mais ou menos da idade do Marcelo e, para variar, adorava o Brasil. Disse que tem um tio que mora em SP e que quando acabasse de servir no exército estava pensando em abrir um negócio com o tio no Brasil. Ele descreveu umas trinta formas em que serviam as trutas. Não lembro tudo, mas tinha frita, assada de vários jeitos, na brasa, defumada, etc. e com diversas opções de acompanhamentos. No guia de viagem em que achei este restaurante, o autor brincava dizendo que a truta que você comer provavelmente ainda estava viva enquanto você estacionava o carro...

Como em todo restaurante que se preza em Israel, ele trouxe um monte de aperitivos, que por si só já seriam uma refeição mas estávamos famintos, pois já passavam das 5 da tarde e não tínhamos almoçado. Depois vieram as trutas. Até eu que não sou muito chegado a truta gostei. Muito bem preparadas, molho (de amêndoas) excelente. Para completar, uma sobremesa maravilhosa: lava cake (bolo com chocolate derretido no meio) e sorvete.

Como não tiramos foto da comida, achei essa na Internet que é semelhante ao que foi servido

Foi uma refeição perfeita. O lugar é excelente, tranquilo, agradável. A nossa mesa era literalmente na beira do rio, com fundo musical da água rolando por entre as pedras. Apesar de estarmos cercados de mata, não havia insetos porque há uma tela gigantesca cobrindo tudo. O mais engraçado era ver os galos (muito bonitos) empoleirados no alto das árvores, cantando de vez em quando.

Satisfeitos, dirigimos por cerca de uma hora de volta para o hotel (letra F no mapa), curtindo a vista das colinas do Golan e depois do Lago Kineret, com o sol se pondo na direção dele. Veja as fotos do restaurante e do caminho de volta, clicando aqui.

Originalmente tínhamos planejado ir à noite em Tibérias, mas o cansaço não deixou e resolvemos encerrar mais um dia maravilhoso em Israel ficando no hotel e vendo as fotos do dia.

No próximo artigo, tour pela cidade mística de Tsfat e de volta à costa para conhecer Rosh HaNikrá e uma visita emocional à Haifa, antes de continuar para Tel-Aviv.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Como é que vc ainda lembra de tudo isso???

Anônimo disse...

Nós não fomos ao Golan, mas está anotado para próxima. Belas fotos. Faltou o mergulho na cachoeira. Jacques