terça-feira, julho 10, 2012

Diários de Viagem: 10 - Susto no Deserto e Eilat

Dormimos bem em Ramon. Uma das vantagens de cidade pequena é o silêncio que, juntamente com o nosso cansaço, funcionou melhor que Valium.

Descemos para o café da manhã, que era muito bom, com uma grande variedade de opções como frutas, cereais, pães doces e salgados, bolos, queijos, ovos feitos na hora ao gosto do freguês, muitos tipos de saladas, como é normal em Israel, etc. Era tanta opção que a gente ficava até com pena de não ter mais fome.

Eu ainda não tinha comentado isso, mas em todas as cidades por onde passamos, na Itália ou Israel, sempre deparávamos com brasileiros. Até quando estávamos boiando no Mar Morto, apareceu um! Ora, a gente imagina que estando em uma cidade pequena em Israel, com 5 mil habitantes e fora do circuito tradicional de turismo, seria um pouco mais difícil encontrar brasileiro. Quase. A gerente do hotel veio falar com a gente num português perfeito (até com sotaque nordestino), apesar de ser israelense. Ela contou que era casada com um brasileiro e morou muitos anos no Brasil.

Fizemos o checkout, pegamos o carro e fomos para uma rua próxima do hotel, onde havia um mirante que dava para a cratera. A cratera em si é tão grande (38 km de comprimento, 6 km de largura e 450 m de profundidade), que a gente ficou até em dúvida se aquilo que estávamos vendo era a cratera mesmo ou um vale. Subimos o mirante, que estava deserto. Ventava muito. Tiramos algumas fotos, pegamos o carro e fomos na direção da saída da cidade, onde havia outro ponto de observação da cratera.

Nesta área, fica o centro de informações turísticas, que estava fechado para obras. Paramos numa lojinha do lado, que vendia uns aromatizantes bonitos, para se pendurar em quartos, banheiros, etc. Descobrimos então que em cidade pequena era mais difícil achar gente falando inglês, mas conseguimos nos comunicar, ainda que com dificuldade, com a balconista da loja.

Na saída da cidade, há um acostamento de onde se tem uma boa vista da cratera, mas a principal atração eram os íbex, que vinham até comer na mão! Patricia (com a ajuda de alguns biscoitos) ficou bem popular entre eles...

Ficamos tão distraídos com os íbex, que acabamos esquecendo de abastecer o carro antes de sair da cidade. Só descobrimos isso quando já estávamos longe e então ficamos observando para ver se aparecia alguma cidade ou posto de gasolina no caminho. Só que a estrada desce pela cratera toda e entra pelo deserto do Negev. Por vários km não há absolutamente nada a não ser montanha e areia. O carro alugado parecia ser econômico, mas a incerteza de quando poderíamos abastecer começou a deixar a gente preocupado.

Caminho de Ramon à Eilat,
cortando o deserto
O Negev é uma imensidão e, como o deserto da Judéia, tem uma certa beleza misteriosa, com aquelas vistas infindáveis de areia e montanhas, que fazem a gente imaginar os acontecimentos relatados na bíblia e o quanto da história da humanidade foi testemunhada por aquelas montanhas. Apesar de ser muito quente, é um calor diferente, seco, que tem o perigo de desidratar facilmente, porque não dá muita sede. Ele é muito usado pelo exército israelense para manobras de treinamento. Vimos ao longe tanques, acampamentos de soldados e placas na estrada alertando para tanques cruzando a pista e áreas de tiro.  Mas, por serem áreas de segurança, não parecia ser uma boa idéia ir pedir gasolina...

Sem outra opção, continuamos seguindo na direção de Eilat. Depois de algumas horas, o tanque estava quase na reserva. Já estávamos nos imaginando sem gasolina, no meio do deserto, com pouca água e com um sol de rachar, sem ar condicionado. Não era uma perspectiva agradável.

De repente, Patricia viu uma entrada de algo que parecia uma fazenda. Resolvemos entrar. O local era de chão de terra/areia, com algumas construções simples do lado esquerdo, uns cercados com vacas do lado direito e galinhas correndo soltas.

Dois caras vinham passando, com jeito de agricultores e perguntei se eles tinham gasolina para vender. Eles apontaram para uma das construções, disseram que era o escritório e que era para eu ir lá. Patricia ficou no carro e eu fui. Parecia que eu tinha entrado no túnel do tempo e saído na década de 60: no escritório havia vários rapazes cabeludos e barbudos e moças que usavam umas túnicas coloridas, tudo lembrando a onda hippie. Foram muito cordiais mas explicaram que os carros que usavam eram diesel e que "talvez" uma pessoa tivesse gasolina para vender numa cidade a 20 km em sentido contrário ao que estávamos indo. A outra opção seria continuar em direção à Eilat, pois a 39 km haveria um posto de gasolina. Supondo que o marcador do carro estivesse certo e que o carro fosse econômico, como ainda não tinha acendido a luz da reserva, teoricamente teríamos gasolina para os 39 km, mas isso não servia muito de consolo.

Perguntei se o local era um kibbutz, mas eles disseram que era uma pousada e me deram o cartão deles, dizendo para eu ligar caso ficasse sem gasolina, pois eles chamariam um reboque para nos socorrer. No cartão tinha uma figura na posição de lótus e eles explicaram que praticavam ioga lá. De fato, ao ir até o refeitório deles para encher a minha garrafa de água, passei por quartos decorados com tapeçarias estilo hippie e com tatames no chão. Quem poderia imaginar que acharíamos uma pousada de prática de ioga no meio do deserto do Negev!

Pegamos a estrada de novo, com um olho no caminho e outro no marcador de combustível. Pouco depois, a luz da reserva acendeu, o que só fez aumentar a tensão. Depois de alguns minutos que mais pareceram uma eternidade, avistamos um local que parecia ser uma fábrica, com um portão na frente, de onde vinha saindo uma caminhonete. Parei do lado e perguntei ao motorista sobre o posto de gasolina. Ele disse para eu segui-lo e avisei que talvez ficássemos sem gasolina no caminho.

Mas, talvez por estarmos na Terra Santa, Deus ajudou. Pouco depois ele apontou para um posto de gasolina, que àquela altura do campeonato mais parecia uma miragem. Nunca abasteci um carro com tanto prazer!

Aproveitamos para comer um sorvete (Israel tem sorvetes ótimos) e dar uma relaxada, depois de tanta tensão. Veja as fotos de Ramon e do caminho pelo deserto clicando aqui.

De tanque cheio até a boca, pegamos a estrada novamente e continuamos cortando o deserto, até chegarmos em Eilat. O trânsito na entrada de Eilat estava péssimo, pois além de ter obras na pista, havia muitas rotatórias.

Rotatória em Eilat
Para quem não conhece, rotatória (também chamada de rotunda, ou de balão) é um recurso de trânsito para eliminar sinais em cruzamentos, criando uma "roda" no centro do cruzamento. Os carros vindo das várias transversais entram e circulam em torno desta roda, até saírem onde quiserem, sem precisar de um sinal para coordenar o fluxo. A idéia é boa, mas quando tem rotatória em praticamente cada esquina, como na rua principal de entrada em Eilat, cansa ficar rodando e tendo que prestar atenção para pegar a saída certa.

Depois de trânsito, rotatória, GPS perdido e de pararmos no hotel errado (era da mesma cadeia), finalmente chegamos ao nosso hotel. O hotel fica na Praia dos Corais, em frente ao Observatório Submarino, no Mar Vermelho e, na verdade, mais perto da fronteira com o Egito, do que do centro de Eilat. Parecia estar bem cheio, pois o estacionamento em frente estava quase lotado e a recepção com muito movimento, na já habitual desorganização israelense, sem fila organizada, com uns caras-de-pau passando a frente dos outros.

Quando estávamos prestes a perder a paciência, fomos finalmente atendidos e voltamos para o carro para pegar a bagagem. O hotel é um resort, fica em uma encosta, com os chalés em vários níveis dela. Eles tem uma frota daqueles carrinhos de golfe, que usam para transportar os hóspedes e um desses nos levou para o nosso chalé.

O chalé era lindíssimo, com uma varanda de frente para o Mar Vermelho, muito bem decorado (segundo eles, em estilo tailandês) e confortável. O visual do Mar Vermelho, juntamente com as montanhas da Jordânia do outro lado, mais a própria encosta onde fica o hotel, com jeito de montanha do deserto, e ainda a avenida cheia de tamareiras em frente, faziam um conjunto ao mesmo tempo contrastante e harmonioso, diferente. Como ainda tinha sol, trocamos de roupa e fomos para a piscina.

A piscina era muito bonita, com o deck de frente para o mar e, o mais interessante, com camas ao invés de espreguiçadeiras, incluindo lençol e travesseiro! Uma idéia genial e que veio bem a calhar, considerando que o nosso dia tinha sido meio estressante com o problema da gasolina. Estava uma tarde muito agradável, com o tempo perfeito que caracteriza Israel nessa época. Ficamos na piscina até o sol baixar, tiramos fotos ao redor e fomos descansar no quarto, saboreando a vista da varanda.

Como descobrimos uma churrascaria brasileira em Eilat, resolvemos experimentar e fizemos reservas para o jantar. Depois de passar por mais um monte de rotatórias, chegamos e constatamos que nem precisava de reserva, pois estava bem vazia, talvez por ser 9 da noite de um dia de semana.

Em resumo, eles bem que tentaram, mas não conseguiram a qualidade e a variedade das churrascarias brasileiras. A carne estava regular (carne em churrascaria vazia nunca é boa) e os acompanhamentos deixaram muito a desejar.

Voltamos para o hotel, que a essa altura estava silencioso e com iluminação noturna, criando um ambiente tranquilo. Tiramos mais umas fotos e subimos para o nosso chalé.

Eu queria fotografar o sol nascendo no Mar Vermelho, achei na internet o horário em que ele deveria nascer e botei o despertador, mas foi em vão. O dia amanheceu nublado e quando o sol apareceu, já estava bem mais alto no horizonte que o mar. Ainda assim, deu boas fotos.

Mais tarde, descemos para o café da manhã e tiramos mais umas fotos, mas isso eu conto no próximo capítulo. Veja as fotos do hotel clicando aqui.


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2 comentários:

Aluguer de Carros disse...

Com este texto fiquei a conhecer mais um pouco de Israel e que aventura que tiveram...quase ficar sem gasolina num sítio que não conhecemos. Um susto...

Janete disse...

Que susto! mas vcs estavam na terra santa! D'US não iria desampará-los!
Que lugar lindo,Eilat! É....o mar vermelho é azul! -:)