terça-feira, junho 12, 2012

Diários de Viagem: 5 - Em Jerusalém (dia 1)

O piloto anunciou que estávamos para pousar no aeroporto Ben Gurion, em Tel-Aviv. Lá fora, tudo ainda meio escuro, pois eram 5 horas da manhã. Dentro do avião, dava para sentir no ar a expectativa não só nossa, mas geral. Talvez isso explique os aplausos ao pousar, já que o pouso em si não teve nada de especial, com o usual tranco das rodas tocando a pista.

Ao sairmos do avião, o aeroporto parecia como qualquer outro, com a habitual longa caminhada até o controle de passaportes. Não importava: estávamos em Israel!

Aqui cabe um parênteses para explicar o que isso significava. Significava a realização de um sonho que até há 3 meses parecia impossível para nós dois. Significava para mim fazer o caminho inverso ao que parte da minha família havia feito há muitos anos, uma "volta às origens". Significava para mim e para a Patricia vermos em pessoa lugares que até então só conhecíamos por fotos ou através de relatos de outros que já tinham visitado e elogiado muito.

Surpreendentemente, entrar no país foi muito fácil. O oficial que nos atendeu foi bastante cordial e bem mais informal do que, por exemplo, os da imigração americana. As malas chegaram são e salvas, o que é sempre um alívio. O aeroporto é bonito, moderno e mesmo àquela hora da manhã, estava bastante movimentado. Tiramos dinheiro no caixa eletrônico lá mesmo e saímos para procurarmos o serviço de van que faz a ligação entre o aeroporto e Tel-Aviv ou Jerusalém, chamada em hebraico "sherut", da empresa Nesher, já que não vale a pena alugar um carro para usar em Jerusalém, devido ao trânsito e à dificuldade em estacionar.

Aqui vai então a nossa primeira dica de viagem em Israel: esta é a melhor forma de transporte para ir do aeroporto para uma das duas cidades. Há outras opções como taxi (bastante mais caro) ou ônibus e trem (não muito cômodos com malas), mas essas vans são ótimas porque levam até o hotel por um preço razoável e, como vão deixando vários passageiros pelo caminho, você acaba fazendo um tour pela cidade destino. A viagem do aeroporto de Tel-Aviv para Jerusalém leva em torno de uma hora, podendo levar um pouco mais ou menos se você for um dos últimos ou dos primeiros a descer.
 
As vans estavam bem em frente ao portão de saída e o ar da manhã estaria fresco se não fosse o monte de fumantes (até ortodoxos!) por todo lado. Descobrimos então que em Israel se fumava tanto ou mais que na Itália...

Demos sorte porque a nossa van lotou logo e em alguns minutos estávamos a caminho de Jerusalém. Foi interessante notar a quantidade de plantações ao longo das estradas por onde passamos. Muitas vezes via-se que a terra era ruim (afinal de contas é a área do deserto da Judéia), mas isso não parecia ser impedimento. Depois de um tempo, começamos a subir, sinal que estávamos nos aproximando de Jerusalém. Estava um belo dia de sol e céu azul.

Entramos em Jerusalém. A cidade parecia com qualquer outra, exceto pelas construções que usam materiais que dão um caráter antigo, de acordo com padronização feita pela prefeitura. Rodamos durante alguns minutos e a van foi esvaziando. Éramos um dos últimos quando o motorista parou na esquina do nosso hotel, já que a rua era de pedestres. Lá fomos nós puxando malas de novo, mas desta vez por cerca de 20 metros apenas.

A sorte continuava do nosso lado, pois no check-in do hotel informaram que apesar de ser cedo o nosso quarto estava disponível. Depois de um dia inteiro viajando, isso era quase como ganhar na loteria! Subimos (de elevador!) para o nosso quarto, que cheirava a cigarro apesar do hotel em teoria ser não fumante. Tomamos um banho revigorante (num chuveiro com banheira e não numa "cabine telefônica" como em Roma) e estávamos prontos para ir para a cidade velha.

Pausa para aula de geografia e história: Jerusalém na verdade são duas cidades, a Jerusalém histórica, cercada de muros e onde estão os lugares sagrados, chamada de cidade velha, e a Jerusalém moderna, chamada de cidade nova. Em 1948, quando a criação do Estado de Israel foi aprovada pela ONU, os países árabes em volta não aceitaram a divisão e atacaram. Esta guerra, chamada de Guerra da Independência, pegou um país recém criado quase indefeso e com isso metade da cidade nova e toda a cidade velha ficaram sob controle da Jordânia. A cidade só foi reunificada em 1967, na Guerra dos Seis Dias, quando Israel recuperou o controle de toda a área. Ainda hoje a cidade nova tem duas partes de características bem distintas: a parte "israelense" que sempre ficou com Israel, é bem moderna e desenvolvida, e a parte "árabe" que havia ficado com a Jordânia, onde ainda hoje a população é predominantemente de origem árabe e que parece não ter evoluído tanto.

Andamos até a cidade velha, já que ela ficava a cerca de 20 minutos do hotel. Como a cidade velha é murada, as entradas são pelos que eram antigamente portões. O que dá para o lado "israelense" é o portão Jaffa. Lá era o ponto de partida do tour guiado que faríamos, andando pela cidade velha. Como estávamos adiantados, ficamos tirando fotos e andando próximo ao portão. Outra dica: pegado ao portão Jaffa há um escritório de informações turísticas. O atendimento é ótimo e eles fornecem um mapa de ruas de Jerusalém muito bom.

O guia do nosso tour, por coincidência, era um americano que morava em Israel há muitos anos. O grupo era grande, com gente do mundo todo e iríamos andar pelos 4 quartos da cidade velha. Aqui, mais uma aula rápida de geografia: a cidade velha na teoria é dividida em 4 partes (quartos). O quarto judaico, o cristão, o muçulmano e o armênio. Na prática, é tudo misturado já que a cidade passou por vários ciclos diferentes de dominação nos últimos 2 mil anos.

Os "quartos" da cidade velha


A cidade velha é muito diferente do que imaginávamos. É uma cidade "viva" e não só um conjunto de ruínas, monumentos e lugares sagrados. Na cidade há lojas, restaurantes, casas residenciais e até mesmo escolas. As ruas são bem estreitas e em geral inclinadas (lembrem-se que Jerusalém foi construída sobre morros). Anda-se alguns passos aí vem um degrau, depois mais uns passos e outro degrau... As lojas vendem de tudo, desde as quinquilharias habituais para turistas, até frutas, verduras, carnes e temperos para os moradores. Passamos por várias padarias fazendo pão árabe e o cheiro no ar de pão assando era maravilhoso.

Começamos pelo quarto cristão, percorrendo a Via Dolorosa (por onde Cristo teria carregado a cruz), passando pela igreja do Santo Sepulcro, por um mosteiro da Igreja Cristã Ortodoxa e entrando no quarto muçulmano. Como o acesso ao Domo da Rocha (a mesquita com o domo dourado que aparece em várias fotos) tem horário limitado e muitas filas, continuamos para o quarto judaico, chegando então ao túnel que leva ao Muro. Em Israel eles não chamam (e nem gostam que se chame) de Muro das Lamentações e sim de Muro Ocidental.

Apesar de saber que o Muro na verdade não era o muro do Templo e sim parte do muro de sustentação da estrutura onde ficava o Templo propriamente dito, o lugar tem alguma coisa de especial que mexe com a gente. É uma sensação difícil de explicar, é quase como um arrepio do corpo e da alma. Eu e Pat tivemos que ir para lados distintos, já que há separação de homens e mulheres. Eu sentia um misto de reverência, respeito e emoção.

Como de praxe, deixei um papelzinho entre as pedras do muro e fiquei lá por alguns momentos, encostado e vivendo um turbilhão de emoções. O que escrevi no papel e o que pensei enquanto estava lá vai ficar entre Deus e eu...

Patricia também colocou o papelzinho dela no Muro e rezou, com muita emoção também por estar rodeada de tantos lugares sagrados de todas as religiões. O que ela escreveu no papelzinho também só vai ficar entre ela e Deus. Ela não vai divulgar nem no Facebook!!!!

Tiramos muitas fotos e ficamos olhando a "Praça do Muro", que é a região em torno dele. Havia de tudo: ortodoxos, turistas, crianças, idosos, soldados. O clima era de respeito, mas um tanto quanto festivo, como se a alegria das pessoas por estarem lá estivesse pairando no ar.

O tour continuou pelo quarto judaico, parando para descanso e comes e bebes defronte a uma sinagoga nova (Hurva) que foi construída no mesmo local de uma que havia sido destruída em 1948 na Guerra da Independência. O quarto judaico é o que tem construções mais novas, já que foi quase todo destruído durante o domínio jordaniano. Depois passamos pelo Cardo e fomos para o quarto Armênio, o menor deles. Lá atingimos o alto de uma construção (não lembro qual), de onde pudemos ter uma vista panorâmica dos arredores.

O tour voltou então para o portão Jaffa, onde terminou. Foram três horas caminhando pela cidade velha, numa experiência muito interessante. Estava muito calor, estávamos cansados e com fome. Resolvemos então voltar para o hotel e comer algo no caminho. Fizemos o caminho de volta pelo Mamilla Mall, que é um shopping center a céu aberto, construído recentemente, quase defronte à cidade velha.

O Mamilla é um local vibrante, principalmente à noite, com muitos bares e restaurantes que ficam lotados, além de várias lojas finas. É um contraste interessante entre a modernidade do mall e a antiguidade da cidade velha.

Continuamos para o hotel e estávamos com vontade de comer falafel. Por sorte, passamos na porta de um lugar pequeno, basicamente com um balcão, uma fritadeira grande atrás e um pequeno espaço na frente. Mas como o falafel estava sendo frito na hora, resolvemos experimentar. Depois de fazermos o pedido, o dono, muito gentil e comunicativo (aproveitei até para falar umas 2 frases em hebraico), disse para sentarmos nos fundos que ele levaria a comida. Para nossa surpresa, nos fundos havia um pequeno quintal muito agradável, com mesas, cadeiras e árvores.

A despeito da simplicidade do local, a comida estava ÓTIMA! Comemos falafel, humus, salada israelense (tomate, pepino, etc. picados), com pão árabe quentinho. Bem alimentados e satisfeitos descansamos um pouco ao chegar no hotel.

À noite, fomos para as redondezas da rua Ben Yehudá. Esta região, que inclui entre outras a rua Jaffa (Yaffo em hebraico), tem várias ruas de pedestres, com muitos restaurantes, mesas na calçada, lojas que ficam abertas até tarde e um movimento bastante grande, mesmo tarde da noite. Fizemos algumas compras e depois sentamos na Bleecker Bakery, que é um misto de restaurante, café e confeitaria. O rapaz que atendeu a gente, muito simpático, ficou batendo papo sobre o Brasil (israelense adora Brasil) e como tínhamos almoçado tarde, comemos uma salada muito boa, com frutas secas.

Chegamos no hotel por volta de meia noite. Foi um dia longo, mas que valeu por cada segundo. Confira vendo as nossas fotos clicando aqui.

No próximo artigo: O segundo dia em Jerusalém - Cidade de David, Museu do Holocausto, a cidade nova e muito mais!

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Um comentário:

Janete disse...

Estou adorando essa ideia é muito boa, pois retrata as impressões compartilhadas com muita emoção. E com uma certa didática! Quero vivenciar tudinho! Parabéns