sexta-feira, junho 15, 2012

Diários de Viagem: 7 - Em Jerusalém (dia 3)

Mais um dia de muito sol e calor. Depois do habitual café da manhã israelense, pegamos um taxi com destino ao Monte das Oliveiras. Vários guias de viagens que lemos alertavam para tomar cuidado com os motoristas de taxi em Jerusalém, mas ou demos sorte, ou os guias exageram. O motorista era um senhor muito educado, falava inglês (como a maioria dos israelenses), foi batendo papo  e até deu dicas para o caminho de retorno.

O Monte das Oliveiras fica numa vizinhança predominantemente árabe e lá em cima não tem muito movimento além do de turistas. O local, além de ter uma privilegiada vista panorâmica, é importante para o judaísmo e para o cristianismo.

Para o judaísmo, porque no Monte há um cemitério judaico de mais de 3 mil anos, que é usado até hoje (deve ser o cemitério mais antigo em operação), com cerca de 150 mil túmulos. Parte foi destruída durante o domínio jordaniano. Muitos querem ser enterrados nele não só por tradição mas também porque na Bíblia há uma passagem que diz que quando o Messias chegar, a ressurreição dos mortos começará por lá.

Para o cristianismo, porque de acordo com o Novo Testamento, Jesus ascendeu a partir do Monte das Oliveiras, além de por um tempo ter sido o local onde ele ensinava e pregava aos discípulos, e onde ele passou a noite antes de ser preso e crucificado.

Havia muitos ônibus de turismo com vários grupos e ventava bastante. Tiramos muitas fotos, com vistas para a cidade velha, cidade nova, Cidade de David (que havíamos visitado no dia anterior) e caminhamos pelo cemitério, um local tranquilo e simples.

De lá, descemos um pouco a ladeira e paramos na Capela da Ascensão, construída no local em que se acredita que Cristo tenha subido aos céus. No chão, dentro de um retângulo de pedra, há uma laje com o que dizem ser uma impressão do pé direito de Jesus (a do esquerdo foi levada na idade média para a Mesquita de Al-Aqsa), sendo o último lugar na terra que Jesus teria tocado.

As fotos tiradas do alto do Monte das Oliveiras e da Capela podem ser vistas aqui.

Depois de muito custo conseguimos um taxi, que nos deixou no portão Jaffa da cidade velha. Fomos então conhecer a Torre de David. Apesar do nome, o local não tem nada a ver com o Rei David. Este nome foi dado pelos bizantinos, que pensavam erroneamente que o local havia sido o palácio de David.

A Torre de David é uma fortaleza próxima ao portão Jaffa, construída no no século 2 AC e destruída e reconstruída várias vezes, por ter importância estratégica na defesa da cidade. Hoje é usada para fins mais pacíficos, como local de shows e concertos, e como museu de artefatos e  ruínas, algumas com mais de 2700 anos, da época dos cananeus.

Chegando lá, fomos para a bilheteria pegar o ingresso que tínhamos comprado online para visitar a Torre durante o dia e para assistir o show de luzes à noite (mais tarde comento sobre ele). Aí, pasmem, disseram que a entrada para a visita matinal tinha sido reduzida e devolveram parte do valor pago!

Andamos por toda a fortaleza, num sobe e desce de degraus que já estava virando rotina, tirando muitas fotos. Passamos também por vários salões com filmes e exposições, mas o melhor mesmo foi o visual do topo da fortaleza, de onde tem-se uma vista panorâmica dos arredores. Veja as fotos aqui.

Ao sairmos da Torre e, como este seria o nosso último dia na cidade velha, resolvemos passar mais uma vez no Muro, para uma "despedida". Já estávamos craques em navegar pela ruelas da cidade velha e achar o caminho. Ao chegar lá, como era quinta-feira, havia festas de Bar-Mitzvá (maioridade religiosa judaica, aos 13 anos para os garotos e 12 para as garotas) junto do muro, com música, gente dançando e muita alegria.

Depois, pensamos até em visitar o Domo da Rocha, mas a entrada só é permitida em algumas horas do dia e a fila estava muito grande. Depois de ficarmos na fila por uns 15 minutos no sol forte, sem que ela sequer andasse um passo, desistimos e fomos almoçar.

Neste ponto, cabe uma correção: no relato do dia anterior (veja aqui, se não lembrar), eu havia dito que sentamos em um restaurante, não fomos atendidos e fomos para outro no setor árabe, que teria o melhor humus de Jerusalém. Tudo isso era verdade, só que não aconteceu naquele dia e sim nesse (muita coisa para lembrar, escrevendo mais de um mês depois do ocorrido!). Desculpem a nossa falha. Confiram as fotos do muro e do restaurante aqui

Depois do almoço, saímos como no dia anterior pelo portão Damascus na parte árabe da Jerusalém nova, mas desta vez já sabíamos o caminho para a estação do trem. Pegamos o metrô de superfície até o centro da cidade nova, para evitar trânsito e de lá pegamos um taxi até o Museu de Israel, que era perto.

O Museu é muito bonito, composto de vários prédios modernos. Um deles tem uma cúpula que lembra o chocolate Kisses, muito comum aqui nos EUA. Este museu é onde estão os manuscritos do Mar Morto, que foram revelados ao mundo há alguns anos e que confirmaram várias passagens do Primeiro Testamento. Ao entrarmos no museu, descobrimos que naquele dia a entrada era grátis (devia ser um dia especial em todos os museus, já que recebemos devolução na Torre de David, conforme relatado acima).

Em resumo, o mais interessante para nós foi ver os manuscritos, que tentamos fotografar mas como são mantidos em salas com pouquíssima luz para não danifica-los, as fotos saíram péssimas. Muito interessante a escrita, toda certinha, numa linguagem que parece ser um proto-hebraico. Passamos também por várias relíquias arqueológicas de Israel e vizinhos como o Egito e, do lado de fora, havia esculturas modernas e uma maquete ENORME de como teria sido Jerusalém na época do Segundo Templo. A reprodução está tão bem feita, com muitos detalhes, que fotografando uma parte com zoom, alguém poderia acreditar que era foto do prédio verdadeiro e não uma maquete.

Ficamos por lá até o fechamento, as 5 da tarde e fomos andando na direção do Parlamento israelense, o Knesset. O prédio em si, pelo lado de fora, não parece nada de mais. Em frente, há um parque muito bonito, extremamente florido, com muita gente aproveitando o sol e calor para acampar, brincar com as crianças na grama, jogar bola, etc. O parque tem uma Menorah gigante que, por incrível que pareça, não conseguimos achar. Achamos uma menor, fotografamos e nos demos por satisfeitos...

Ao final do parque, passamos pelo prédio da Suprema Corte israelense. Naquela redondeza há vários  prédios de órgãos do governo, já que Jerusalém é a capital. Veja as fotos tiradas no Museu de Israel e neste lugares próximos, clicando aqui.

 Estávamos ficando cansados, pois estávamos andando desde cedo e ainda tínhamos compromisso para a noite, então pegamos um taxi para o hotel. Chegando na rua do hotel, sentamos numa lanchonete na esquina para beliscar algo. Patrícia pediu uma trufa de chocolate, mas acho que eu pedi melhor: era um bolo com chocolate no meio, que eles aqueceram e o chocolate derreteu (aqui nos EUA isso se chama lava cake - "bolo de lava"). Uma delícia e até me dá água na boca lembrando e escrevendo.

Descansamos um pouco e mais tarde lá fomos nós de novo para a cidade velha, para assistir ao show de luzes e som na Torre de David. Foi interessante ver os muros da cidade velha iluminados à noite. Tinha muita gente para ver o show (compramos ingressos com 3 meses de antecedência, porque esgotam) e ficamos ali no meio da multidão esperando abrirem as portas. Quando abriram, havia cadeiras em volta da área central, em cima e embaixo. Resolvemos então ficar em cima, de onde poderíamos ter uma vista melhor.

Imaginem então o cenário: sentados, dentro de uma fortaleza de pedra de mais de mil anos, à noite, escuro, com algumas luzes projetadas nas paredes de pedra. Já estava bonito antes mesmo do show começar. Veja as fotos aqui.

Aí o show começou e vou tentar descrever, mas tenho certeza que não vai fazer jus. Eles projetaram imagens nas ruínas, contando a história de Jerusalém, desde os tempos primordiais até os dias de hoje. As imagens eram coloridas e tinha um efeito em alto relevo, como 3D. Então, quando aparecia uma pessoa, não parecia ser uma projeção e sim um ator. Quando aparecia um cavalo, parecia que estava lá, vivo. O som e a música também ajudavam a criar o clima. O show durou cerca de 25 minutos, mas valeu por cada segundo e deixou uma sensação de quero mais. Como era proibido filmar, veja partes do show no youtube, clicando aqui.

Eu e Patricia saímos do show em estado de graça, pois foi um dos pontos altos não só de Jerusalém, mas da viagem toda. É imperdível para quem for a Jerusalém. Andamos mais um pouco pela cidade velha, pois queríamos fazer umas compras, mas as lojas estavam fechando. Então passamos pelo Mamilla, que estava lotado e fomos para aquele point em torno das ruas Jaffa e Ben-Yehudá, onde tínhamos jantados há duas noites.

Apesar de ser quase 10 da noite, conseguimos comprar presentes para a Vivian e Marcelo (com muita negociação, como manda o costume local), e Pat comprou uma bolsa que ela tinha visto antes e gostado. Então voltamos ao mesmo restaurante (Bleecker) onde tínhamos comido da outra vez e descobrimos que já estávamos conhecidos em Jerusalém, apesar de estarmos lá há poucos dias: a recepcionista do restaurante disse que o garçom que nos tinha atendido antes viu que estávamos chegando e avisou que éramos clientes dele, e que era para ela nos atender muito bem...

Como muita gente não trabalha sexta-feira por causa do Shabbat, a noite de quinta-feira é sempre muito movimentada. As ruas e restaurantes estavam cheios e estava um clima geral muito agradável. Patricia encerrou o jantar tomando um chá natural de hortelã, muito comum em Israel.

Chá de hortelã e com hortelã

Voltamos andando para o hotel, curtindo a nossa última noite em Jerusalém, cidade que superou todas as nossas expectativas, que já eram altas. É impressionante como um lugar tão pequeno pode ter tanta história e tanto significado para tantas culturas diferentes. É fascinante ver as várias perspectiva de Jerusalém, como a maior cidade e capital de Israel, ao mesmo tempo moderna e antiga. É um lugar especial, independentemente da crença, fé ou nacionalidade de quem visita.

No próximo capítulo: Adeus a Jerusalém e rumo ao Mar Morto.


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2 comentários:

Janete disse...

Obrigada Marco e Pat!
Estudar é preciso para poder usufuir ao máximo tudo que esse pais mágico nos oferece.
Bjos
Janete

Janete disse...

Continuando:
As fotos estão maravilhosas!
É muita emoção!