quarta-feira, junho 13, 2012

Diários de Viagem: 6 - Em Jerusalém (dia 2)

Depois de uma noite bem dormida, acordamos cedo para mais um dia repleto de atividades. Interessante que nem em Roma e nem em Israel sentimos o jet lag, apesar da grande diferença de fuso horário. Talvez o segredo seja se cansar ao máximo e só dormir na hora certa do local.

O café da manhã do hotel era estilo israelense: pães diversos (como o pão em Israel é bom!), queijos (até queijo minas), iogurtes, frutas secas, salada de frutas, saladas de verduras, cereais, ovos em vários estilos, pratos quentes, humus, etc.  É uma mistura de café da manhã com almoço. 

Estava fazendo um dia bonito, com muito sol e prometia ser bem quente. Estávamos preparados, carregando garrafa de água na mochila, item essencial em Israel. Andamos até o Portão Jaffa, passando novamente pelo Mamilla Mall. De la', fomos por dentro da cidade velha para o Portão Dung (veja mapa publicado na edição anterior), por onde saímos e começamos a subir em direção à Cidade de David.

A Jerusalém que o Rei David conquistou e estabeleceu como capital por volta de 1000 AC, unindo as 12 tribos, não era onde hoje está a cidade velha, mas sim ao sul dela e fora da muralha atual, no vale de Kidron, onde hoje tem um bairro árabe chamado Silwan (ou Kfar Shiloah em hebraico). Há alguns anos, ruínas da cidade original foram encontradas e hoje é um sítio arqueológico chamado Cidade de David. A criação deste parque arqueológico criou muita polêmica e confusão pois os moradores acusaram Israel de estar aos poucos tomando as terras do local.

Silwan tem um aspecto meio de Favela da Rocinha, com muitas casas apinhadas e não parece ser um lugar muito agradável. O caminho para a Cidade de David passava por fora e notamos algum policiamento, mas nada de excepcional.

Fizemos o tour guiado, que levou cerca de 3 horas. Vou tentar resumir, porque vimos e ouvimos muita coisa. O Rei David escolheu aquele local por ser um local alto, naturalmente protegido cercado de vales, e por ter água, de uma nascente chamada Gihon. Ali ele construiu o seu palácio e a teoria atual (muda toda hora a medida que vão fazendo mais descobertas) é que com o tempo a cidade cresceu para o norte, passando então a incluir o local onde o Rei Salomão construiu o primeiro Templo (local hoje ocupado pelo Domo da Rocha muçulmano) e a área da cidade velha.

Sem querer tornar esse blog muito chato com aulas de história, vou contar rapidamente um caso que é muito interessante. Em cerca de 700 AC o Rei Ezequias estava esperando um ataque dos assírios. Para que os assírios não pudessem tomar conta da nascente e forçar a cidade a se render por falta de água, ele mandou construir um túnel pela rocha, levando a água para um reservatório dentro da cidade. Como o tempo era curto, o túnel foi perfurado pelos dois lados e, apesar de não haver instrumentos de precisão na época, de alguma forma ambas escavações se encontraram certinho e os assírios não conseguiram conquistar Jerusalém. Quem quiser saber mais, leia o Livro de Isaías da Bíblia. 

Eu e Patricia caminhamos por parte desse túnel e por degraus que supõe-se terem sido parte dos degraus que levavam até o Templo. Na base dos degraus havia uma grande "piscina" onde os viajantes que chegavam de todo lugar para ir ao Templo se banhavam e purificavam antes de subir as escadas que levavam a ele ("aliá" - subida, que acontecia 3 vezes ao ano, em Pessach, Sucot e Kipur).

O retorno à entrada do parque foi por um túnel do tempo dos Cananeus. Foi muito cansativo andar pelo túnel estreito, no meio da rocha, onde mal passa uma pessoa, subindo degraus, mas a alternativa - subir pelo lado de fora com o sol a pino, não era muito atraente. Veja as fotos do parque arqueológico, da redondeza, das ruínas e dos túneis aqui.

De lá, voltamos para a cidade velha, para almoçar. Perto do Muro há um restaurante árabe num estilo muito interessante, com as paredes em rocha e resolvemos sentar lá. Apesar do lugar estar praticamente vazio, ninguém veio nos atender. Depois de cerca de 10 minutos, levantamos e fomos embora. Caminhamos então pela Via Dolorosa até o setor muçulmano, onde há um restaurante que os guias de viagem diziam ter o melhor humus de Jerusalém.

O restaurante era bem simples, no estilo daqueles da rua da Alfândega no Rio. O atendimento foi rápido, mas sinceramente o humus e a comida estavam bons mas não tinham nada de mais. Como já estávamos no setor muçulmano, continuamos nele em direção ao portão Damascus, para sair da cidade velha e pegar o metrô de superfície para o Yad Vashem, o Museu do Holocausto. Este lado da cidade velha, o coração do setor muçulmano, é muito interessante pelas lojas de temperos (tudo a granel, em sacas, num festival de aromas), lojas daquelas roupas fechadas que cobrem as mulheres todas (burca) e  até mesmo camelôs apregoando em árabe as mercadorias.

Saímos da cidade velha no setor árabe (oriental) da cidade nova e, sem preconceito, parecia outro mundo. Um trânsito caótico, o jeito de vestir das pessoas muito diferente, as construções antigas e em mau estado. Tentamos pedir informações sobre onde pegar o trem mas foi difícil achar alguém que entendesse um pouco de inglês.

Ao chegarmos no ponto de parada, mais um desafio: comprar os bilhetes na máquina, em hebraico ou árabe. Um rapaz ajudou e embarcamos no moderníssimo trem (inaugurado em dezembro), que fazia um contraste muito grande com a vizinhança. Fotos do trem aqui.

A viagem foi rápida e muito agradável, cruzando boa parte da Rua Jaffa, em direção ao centro de Jerusalém nova. Descemos na estação final, Monte Herzl, onde fica o museu do mesmo nome, em homenagem a Theodor Herzl, pai do Sionismo moderno. Como estávamos com pouco tempo até o fechamento do Museu do Holocausto, demos uma olhada rápida nos jardins do Museu Herzl, já que era caminho, e fomos andando pela mata que leva ao Har Hazikaron (Monte da Lembrança em hebraico), onde fica o Museu do Holocausto, pois a van que faz a ligação entre os dois museus parece ter frequencia muito incerta.

O caminho é uma mata com muitos pinheiros, com um aroma agradável e um lugar espetacular para caminhar. É um paraíso propositadamente criado em volta do Museu, gerando harmonia em torno de um museu que serve de registro e lembrança (para que não deixemos acontecer de novo) do mal que o ser humano é capaz de fazer a outros.

O Museu do Holocausto é como um soco no estômago: mesmo você já tendo sentido um antes, dói toda vez que se repete. Apesar de termos feito uma visita mais rápida que o normal em função do pouco tempo que tínhamos até o fechamento (o Museu é muito grande e requer no mínimo meio dia para ser visto com calma) e mesmo já tendo visitado o Museu do Holocausto em Washington D.C., não dá para evitar a sensação de angústia e revolta que dá, além de uma grande compaixão pelas vítimas. O Museu, de forma bem respeitosa, individualiza o assassinato em massa, mostrando nomes, rostos, depoimentos, como se apresentando um por um dos cada 6 milhões que morreram.

O mais tocante, pela singeleza, simplicidade e pelo que representa, foi o salão em homenagem a um milhão e meio de crianças que morreram nas mãos dos nazistas. É uma sala escura, localizada em uma caverna subterrânea, com uma área circular no centro e com uma espécie de abóboda de vidro no teto, onde há vários pontos de luzes de velas, como estrelas no céu, talvez representando cada uma das crianças. As luzes se refletem nas paredes e no chão, criando um efeito envolvente. Só que na verdade há só uma vela (talvez representando a unidade do povo judaico?) sendo a luz refletida e reproduzida ao infinito através de um conjunto de prismas e espelhos. Ao fundo, ouve-se uma voz recitando pausadamente o nome de cada uma das crianças. Obviamente, em sinal de respeito, não tiramos fotos, mas achei uma na internet para dar uma idéia melhor do que descrevi.

Memorial das Crianças do Yad Vashem
A saída deste salão levava para um terraço com uma vista panorâmica das montanhas da Judéia. Veja as fotos externas dos dois museus, clicando aqui.

Todo mundo sai do Museu do Holocausto mais sensível e a caminhada pela mata de volta à estação do metrô veio bem a calhar. Pegamos novamente o trem e descemos no Mercado Yehudá (Machané Yehudá).

Quase em frente ao ponto onde descemos, tinha uma padaria (praticamente uma janela com um balcão) com pães muito bonitos. Não resistindo, compramos alguns (e depois nos arrependemos de não ter comprado mais). O mercado ocupa várias ruas transversais à Rua Yehudá e é como se fosse uma Cobal bem maior e variada, a céu aberto em algumas partes e coberto em outras. Foi uma boa distração após o Museu.

O mercado é uma experiência singular pela variedade, cores e movimento. Compramos queijo minas fresquinho, a peso, cortado na hora, biscoito de tâmara (tipo maaruta, para quem conhece) e, numa lojinha, depois de muita negociação bem típica, compramos um narguilé de presente para o Marcelo e a Pat comprou uma saia. Veja as fotos do mercado clicando aqui.

Voltamos para o hotel andando e, como estávamos muito cansados para sair, jantamos o pão com queijo minas, que acabou sendo uma refeição ótima, pois ambos estavam deliciosos (lembrem-se que não existe queijo minas nos EUA, então para a gente virou iguaria rara). Eram 7 horas da noite, estávamos programados para fazer um tour pelos túneis que passam embaixo do Muro às 8, mas àquela altura já não tínhamos mais gás para andar até a cidade velha e percorrer mais túneis. Fica para a próxima visita a Israel.

No próximo capítulo, o terceiro dia em Jerusalém, com mais lugares interessantes e muitas fotos.


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2 comentários:

Carolina Sayeg disse...

cada luz que brilha na sala em memória destas crianças representa as 1,5 milhões de crianças... eles tem exatamente essa quantidade brilhando na sala. Impressionante não é mesmo?!

Carolina Sayeg disse...
Este comentário foi removido pelo autor.